Vida de Santa Teresa de Ávila e São Leonardo de Vandoeuvre (15 de outubro)
- Sacra Traditio

- 15 de out.
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Atualizado: 23 de out.

Santa Teresa é, sem dúvida, uma das mulheres mais grandiosas e admiráveis da história, e a única a quem o povo cristão concedeu o título de Doutora da Igreja, ainda que NUNCA tenha sido oficialmente reconhecida como tal. Seus pais eram Alonso Sánchez de Cepeda e Beatriz Dávila y Ahumada. A santa fala deles com grande ternura. Alonso Sánchez teve três filhos de seu primeiro matrimônio, e Beatriz de Ahumada deu-lhe outros nove. Ao referir-se a seus irmãos e meio-irmãos, Santa Teresa escreve: “Pela graça de Deus, todos se assemelham na virtude a meus pais, exceto eu”. Teresa nasceu na cidade castelhana de Ávila, em 28 de março de 1515. Aos sete anos, já tinha grande predileção pela leitura das vidas dos santos. Seu irmão Rodrigo era quase da mesma idade, de modo que costumavam brincar juntos. Os dois, muito impressionados pelo pensamento da eternidade, admiravam as vitórias dos santos ao conquistar a glória eterna e repetiam incansavelmente: “Gozarão de Deus para sempre, para sempre, para sempre...”. Teresa e o irmão consideravam que os mártires haviam comprado a glória a um preço muito baixo e decidiram partir para o país dos mouros com a esperança de morrer pela fé. Assim, fugiram de casa às escondidas, pedindo a Deus que lhes permitisse dar a vida por Cristo; mas, em Adaja, encontraram um de seus tios, que os devolveu aos braços da aflita mãe. Quando esta os repreendeu, Rodrigo pôs a culpa na irmã.
Diante do fracasso de seus projetos, Teresa e Rodrigo decidiram viver como eremitas em sua própria casa e começaram a construir uma cela no jardim, embora nunca a tenham terminado. Desde então, Teresa amava a solidão. Em seu quarto tinha um quadro representando o Salvador que falava com a Samaritana e costumava repetir diante dessa imagem: “Senhor, dá-me de beber, para que eu não volte a ter sede”. A mãe de Teresa morreu quando ela tinha catorze anos. “Assim que comecei a compreender a perda que havia sofrido, comecei a entristecer-me profundamente; então dirigi-me a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei-lhe, com muitas lágrimas, que me tomasse por filha sua”. Por essa época, Teresa e Rodrigo começaram a ler romances de cavalaria e até tentaram escrever um. A santa confessa em sua “Autobiografia”:
A mudança que se operava em Teresa começou a preocupar o pai, que a enviou, aos quinze anos, para educar-se no convento das agostinianas de Ávila, onde costumavam estudar as jovens de sua classe.

Um ano e meio depois, Teresa adoeceu, e seu pai a levou de volta para casa. A jovem começou a refletir seriamente sobre a vida religiosa, que ao mesmo tempo a atraía e a repugnava. A obra que a levou a uma decisão foi a coleção de “Cartas” de São Jerônimo, cujo fervoroso realismo encontrou eco em sua alma. Teresa disse a seu pai que desejava tornar-se religiosa, mas ele respondeu que teria de esperar sua morte para entrar no convento. Temendo fraquejar em seu propósito, Teresa foi às escondidas visitar sua amiga íntima, Joana Suárez, religiosa no convento carmelita da Encarnação, em Ávila, com a intenção de não voltar, caso Joana a aconselhasse a permanecer, apesar da dor de contrariar a vontade paterna. “Lembro-me... de que, ao abandonar minha casa, pensava que a tortura da agonia e da morte não poderia ser pior do que a que eu experimentava naquele momento... O amor de Deus não bastava para sufocar em mim o amor que tinha por meu pai e por meus amigos.” A santa decidiu permanecer no convento da Encarnação. Tinha então vinte anos. Seu pai, ao vê-la tão resoluta, cessou de se opor à sua vocação. Um ano mais tarde, Teresa professou. Pouco depois, agravou-se um mal que já a afligia antes da profissão, e seu pai a retirou do convento. A irmã Joana Suárez foi fazer-lhe companhia, e Teresa colocou-se nas mãos dos médicos; infelizmente, o tratamento apenas piorou a doença, provavelmente uma febre palustre. Os médicos acabaram desistindo, e o estado da enferma se agravou. Teresa conseguiu suportar aquela provação graças a um livrinho que seu tio Pedro, muito piedoso, lhe havia dado — O terceiro alfabeto espiritual, do Pe. Francisco de Osuna. Seguindo as instruções dessa pequena obra, começou a praticar a oração mental, embora sem grandes progressos por falta de um diretor espiritual experiente. Finalmente, após três anos, Teresa recuperou a saúde.
Sua prudência e caridade, às quais acrescentava um grande encanto pessoal, lhe granjearam a estima de todos os que a rodeavam. Por outro lado, uma espécie de instinto inato de gratidão movia a jovem religiosa a corresponder a todas as amabilidades. Segundo o reprovável costume dos conventos espanhóis da época, as religiosas podiam receber quantos visitantes quisessem, e Teresa passava grande parte de seu tempo conversando na portaria do convento. Isso a levou a descuidar da oração mental, e o demônio contribuiu para isso, incutindo-lhe a íntima convicção, sob aparência de humildade, de que sua vida dissipada a tornava indigna de conversar familiarmente com Deus. Além disso, a santa dizia a si mesma, para se tranquilizar, que não havia perigo de pecado em fazer o mesmo que tantas outras religiosas melhores do que ela, e justificava seu descuido da oração mental, dizendo que suas enfermidades a impediam de meditar. No entanto, acrescenta a santa:
“O pretexto de minha fraqueza corporal não era suficiente para justificar o abandono de um bem tão grande, no qual o amor e o hábito são mais importantes que as forças. Em meio às piores doenças pode-se fazer a melhor oração, e é um erro pensar que só se pode orar na solidão.”
Pouco depois da morte de seu pai, o confessor de Teresa lhe fez ver o perigo em que se encontrava sua alma e lhe aconselhou que voltasse à prática da oração. A santa jamais a abandonou desde então. Contudo, ainda não se decidia a entregar-se totalmente a Deus nem a renunciar de todo às horas que passava na portaria e às trocas de pequenos presentes. É curioso notar que, em todos esses anos de indecisão no serviço de Deus, Santa Teresa nunca se cansava de ouvir sermões “por mais ruins que fossem”; mas o tempo que empregava na oração “se lhe passava em desejar que os minutos corressem rápido e que o sino anunciasse o fim da meditação, em vez de refletir nas coisas santas”. Convencida cada vez mais de sua indignidade, Teresa invocava com frequência os dois grandes santos penitentes, Maria Madalena e Agostinho, com os quais estão associados dois fatos decisivos em sua vida. O primeiro foi a leitura das “Confissões”. O segundo foi um chamado à penitência que a santa experimentou diante de uma imagem da Paixão do Senhor: “Senti que Santa Maria Madalena vinha em meu auxílio... e desde então progredi muito na vida espiritual.”

Uma vez que Teresa se retirou das conversas na portaria e de outras ocasiões de dissipação e de faltas (que ela sem dúvida exagerava), Deus começou a favorecê-la frequentemente com a oração de quietude e de união. A oração de união ocupou um longo período de sua vida, com o gozo e o amor que lhe são característicos, e Deus começou a visitá-la com visões e comunicações interiores. Isso a inquietou, pois ouvira com frequência falar de certas mulheres que o demônio havia miseravelmente enganado com visões imaginárias. Embora estivesse persuadida de que suas visões procediam de Deus, sua perplexidade a levou a consultar várias pessoas; infelizmente, nem todas guardaram o segredo a que estavam obrigadas, e a notícia das visões de Teresa começou a se divulgar, para grande confusão sua. Uma das pessoas consultadas por Teresa foi Francisco de Salcedo, um homem casado, modelo de virtude. Ele a apresentou ao doutor Daza, sacerdote sábio e virtuoso, que declarou que Teresa era vítima dos enganos do demônio, pois era impossível que Deus concedesse favores tão extraordinários a uma religiosa tão imperfeita como ela dizia ser. Teresa ficou alarmada e insatisfeita. Francisco de Salcedo, a quem a própria santa afirma dever sua salvação, animou-a em seus momentos de desalento e aconselhou-a a recorrer a um dos padres da recém-fundada Companhia de Jesus. A santa fez uma confissão geral com um jesuíta, a quem expôs seu modo de orar e os favores recebidos. O jesuíta lhe assegurou que se tratava de graças de Deus, mas a exortou a não descuidar o verdadeiro fundamento da vida interior. Embora o confessor de Teresa estivesse convencido de que suas visões vinham de Deus, ordenou-lhe que tentasse resistir durante dois meses a essas graças. A resistência da santa foi em vão.
Outro jesuíta, o Pe. Baltasar Álvarez, aconselhou-a a pedir a Deus ajuda para fazer sempre o que fosse mais agradável a Seus olhos e, com esse fim, recitar diariamente o “Veni Creator Spiritus”. Assim fez Teresa. Um dia, precisamente quando repetia o hino, foi arrebatada em êxtase e ouviu no interior de sua alma estas palavras: “Não quero que converses com os homens, mas com os anjos.” A santa, que teve em sua vida posterior repetidas experiências de palavras divinas, afirma que são mais claras e distintas que as humanas; diz também que as primeiras são operativas, pois produzem na alma uma forte tendência à virtude e a deixam cheia de gozo e paz, convencida da verdade do que ouviu. Na época em que o Pe. Álvarez foi seu diretor, Teresa sofreu graves perseguições, que duraram três anos; além disso, durante dois anos atravessou um período de intensa desolação espiritual, aliviado por momentos de luz e consolo extraordinários. A santa queria que os favores que Deus lhe concedia permanecessem secretos, mas as pessoas ao seu redor estavam perfeitamente cientes e, mais de uma vez, a acusaram de hipocrisia e presunção. O Pe. Álvarez era um homem bom e tímido, que não teve coragem suficiente para defendê-la, embora continuasse a confessá-la. Em 1557, São Pedro de Alcântara passou por Ávila e, naturalmente, foi visitar a famosa carmelita. O santo declarou que lhe parecia evidente que o Espírito de Deus guiava Teresa, mas previu que as perseguições e sofrimentos continuariam a chover sobre ela. As provações que Deus lhe enviava purificaram a alma da santa, e os favores extraordinários ensinaram-lhe a ser humilde e forte, desapegaram-na das coisas do mundo e acenderam nela o desejo de possuir a Deus.
Em alguns de seus êxtases, dos quais nos deixou uma descrição detalhada, elevava-se vários palmos acima do chão. A esse propósito, comenta Teresa: “Deus não parece contentar-se em arrebatar a alma para Si, mas levanta também este corpo mortal, manchado com o lodo asqueroso de nossos pecados.” Nesses êxtases se manifestavam a grandeza e a bondade de Deus, o excesso de Seu amor e a doçura de Seu serviço de forma sensível, e a alma de Teresa o compreendia claramente, embora fosse incapaz de expressá-lo. O desejo do Céu que as visões deixavam em sua alma era inefável. “Desde então, deixei de temer a morte, coisa que antes muito me atormentava.” As experiências místicas da santa chegaram às alturas dos desposórios espirituais, do matrimônio místico e da transverberação.

Santa Teresa nos deixou o seguinte relato sobre o fenômeno da transverberação: “Vi ao meu lado um anjo que estava à minha esquerda, em forma humana. Confesso que não estou acostumada a ver tais coisas, exceto em ocasiões muito raras. Embora com frequência me aconteça ver os anjos, trata-se de visões intelectuais, como as que referi acima... O anjo era de baixa estatura e muito formoso; seu rosto estava incandescente como se fosse um dos anjos mais altos, que são todo fogo. Devia ser um dos que chamamos querubins... Tinha na mão uma longa espada de ouro, cuja ponta parecia uma brasa acesa. Parecia-me que por momentos ele cravava a espada em meu coração e me traspassava as entranhas e, quando retirava a espada, parecia-me que as entranhas saíam com ela, e sentia-me arder no mais intenso amor de Deus. A dor era tão forte que me fazia gemer, mas, ao mesmo tempo, a suavidade daquela dor excessiva era tão extraordinária, que eu não teria querido ver-me livre dela.” [a] O anseio de Teresa de morrer logo para unir-se a Deus era moderado pelo desejo ardente de sofrer por amor d’Ele. A esse propósito escreveu:
“A única razão que encontro para viver é sofrer, e isso é o único que peço para mim.”
Segundo revelou a autópsia do corpo da santa, havia em seu coração a cicatriz de uma ferida longa e profunda. [b] No ano seguinte (1560), para corresponder a essa graça, a santa fez o voto de fazer sempre o que lhe parecesse mais perfeito e agradável a Deus. Um voto dessa natureza está tão acima das forças naturais, que só o esforço de cumpri-lo pode justificá-lo. Santa Teresa cumpriu perfeitamente o seu voto.
O relato que a santa nos deixou em sua “Autobiografia” sobre suas visões e experiências espirituais tem o tom da verdade. É impossível lê-lo sem ficar convencido da sinceridade de sua autora, que em todos os seus escritos dá mostras de uma extraordinária simplicidade de estilo e de uma preocupação constante em não exagerar os fatos. A Igreja qualifica de “celestial” a doutrina de Santa Teresa, na oração do dia de sua Festa. As obras da “mística Doutora” revelam os recantos mais profundos da alma humana. A santa explica com uma clareza quase inacreditável as experiências mais inefáveis, e deve-se notar que Teresa era uma mulher relativamente inculta, que escreveu suas experiências na língua castelhana comum dos habitantes de Ávila, que aprendera “no colo de sua mãe”; uma mulher que escreveu sem recorrer a outros livros, sem ter estudado previamente as obras místicas e sem vontade de escrever, porque isso lhe impedia de dedicar-se a fiar; uma mulher, enfim, que submeteu sem reservas seus escritos ao julgamento de seu confessor e, sobretudo, ao julgamento da Igreja. A santa começou a escrever sua autobiografia por mandato de seu confessor: “A obediência se prova de diferentes maneiras.” Por outro lado, o melhor comentário às obras da santa é a paciência com que suportou doenças, acusações e desenganos; a confiança absoluta com que recorria em todas as tormentas e dificuldades ao Redentor crucificado, e o invencível valor que demonstrou em todas as penas e perseguições. Os escritos de Santa Teresa destacam sobretudo o espírito de oração, o modo de praticá-lo e os frutos que produz. Como a santa escreveu precisamente na época em que estava consagrada à difícil tarefa de fundar conventos de carmelitas reformadas, suas obras, independentemente de sua natureza e conteúdo, testemunham seu vigor, industriosidade e capacidade de recolhimento. Santa Teresa escreveu o “Caminho da Perfeição” para dirigir suas religiosas e o livro das “Fundações” para edificá-las e encorajá-las. Quanto ao “Castelo Interior”, pode-se considerar que o escreveu para a instrução de todos os cristãos, e nessa obra a santa se mostra como verdadeira doutora da vida espiritual.

As carmelitas, como a maioria das religiosas, haviam decaído muito do fervor inicial no começo do século XVI. Já vimos que as portarias dos conventos de Ávila eram uma espécie de centro de reunião das damas e cavalheiros da cidade. Além disso, as religiosas podiam sair da clausura sob o menor pretexto, de modo que o convento era o lugar ideal para quem desejava uma vida cômoda e sem preocupações. As comunidades eram extremamente numerosas, o que era ao mesmo tempo causa e efeito da relaxação. Por exemplo, no convento de Ávila havia 140 religiosas. Santa Teresa comentava mais tarde: “A experiência me ensinou o que é uma casa cheia de mulheres. Deus nos livre desse mal!” Como tal estado de coisas era aceito como normal, as religiosas geralmente não percebiam que seu modo de vida se afastava muito do espírito de seus fundadores. Assim, quando uma sobrinha de Santa Teresa, que também era religiosa no convento da Encarnação de Ávila, lhe sugeriu a ideia de fundar uma comunidade reduzida, a santa considerou tal sugestão como uma espécie de revelação do Céu, e não como uma ideia comum. Teresa, que já vivia havia vinte e cinco anos no convento, decidiu pôr em prática a ideia e fundar um convento reformado. Dona Guiomar de Ulloa, uma viúva muito rica, ofereceu-lhe ajuda generosa para a empreitada. São Pedro de Alcântara, São Luís Beltrão e o bispo de Ávila aprovaram o projeto, e o Pe. Gregório Fernández, provincial das carmelitas, autorizou Teresa a realizá-lo. No entanto, o alvoroço causado pela execução do projeto obrigou o provincial a retirar a licença, e Santa Teresa foi alvo das críticas de suas próprias irmãs, dos nobres, dos magistrados e de todo o povo. Apesar disso, o Pe. Ibáñez, dominicano, encorajou a santa a prosseguir com a ajuda de Dona Guiomar. Dona Juana de Ahumada, irmã de Santa Teresa, iniciou com seu esposo a construção de um convento em Ávila em 1561, fingindo que se tratava de uma casa onde pretendiam morar. Durante a construção, uma parede do futuro convento desabou e soterrrou o pequeno Gonzalo, filho de Dona Juana, que brincava ali. Santa Teresa tomou o menino nos braços, já sem sinais de vida, e pôs-se em oração; alguns minutos depois, o menino estava perfeitamente são, como consta no processo de canonização. Desde então, Gonzalo costumava dizer à tia que ela estava obrigada a rezar por sua salvação, pois devia às suas orações o ter sido privado do Céu.
Nessa época chegou de Roma um breve que autorizava a fundação do novo convento. São Pedro de Alcântara, Dom Francisco de Salcedo e o Dr. Daza conseguiram conquistar o apoio do bispo, e a nova casa foi inaugurada sob seus auspícios no dia de São Bartolomeu de 1562. Durante a Missa celebrada na capela por ocasião da inauguração, tomaram o véu a sobrinha da santa e outras três noviças. A inauguração causou grande alvoroço em Ávila. Naquela mesma tarde, a superiora do convento da Encarnação mandou chamar Teresa, e a santa foi com certo temor, “pensando que iam encarcerar-me”. Naturalmente, teve de explicar sua conduta à superiora e ao Pe. Ángel de Salazar, provincial da ordem. Embora a santa reconhecesse que seus superiores tinham razão em estar descontentes, o Pe. Salazar prometeu-lhe que poderia retornar ao convento de São José assim que a agitação popular se acalmasse. A fundação não era bem vista em Ávila, porque o povo desconfiava das novidades e temia que um convento sem fundos suficientes se tornasse um fardo para a cidade. O alcaide e os magistrados teriam mandado demolir o convento, se não tivessem sido dissuadidos pelo dominicano Báñez. Por sua parte, Santa Teresa não perdeu a paz em meio às perseguições e continuou recomendando o assunto a Deus; o Senhor apareceu-lhe e a consolou. Enquanto isso, Francisco de Salcedo e outros partidários da fundação enviaram à corte um sacerdote para defender a causa diante do rei, e os dois dominicanos, Báñez e Ibáñez, acalmaram o bispo e o provincial. Pouco a pouco, a tempestade se dissipou e, quatro meses depois, o Pe. Salazar deu permissão a Santa Teresa para voltar ao convento de São José com outras quatro religiosas da Encarnação.

A santa estabeleceu a mais estrita clausura e o silêncio quase perpétuo. O convento não possuía rendas e reinava nele a maior pobreza; as religiosas vestiam hábitos rudes, usavam sandálias em vez de sapatos (por isso foram chamadas “descalças”) e estavam obrigadas à perpétua abstinência de carne. Santa Teresa não admitiu no início mais que treze religiosas, mas mais tarde, nos conventos que não viviam apenas de esmolas, mas possuíam rendas, aceitou que houvesse vinte e uma. Em 1567, o superior geral dos carmelitas, João Batista Rubio (Rossi), visitou o convento de Ávila e ficou encantado com a superiora e seu sábio governo; concedeu a Santa Teresa plenos poderes para fundar outros conventos do mesmo tipo (apesar de o de São José ter sido fundado sem o seu conhecimento) e até a autorizou a fundar dois conventos de frades reformados (“carmelitas contemplativos”) em Castela. Santa Teresa passou cinco anos com suas treze religiosas no convento de São José, precedendo suas filhas não só na oração, mas também nos trabalhos humildes, como a limpeza da casa e o fiar. Sobre essa época escreveu: “Creio que foram os anos mais tranquilos e aprazíveis de minha vida, pois desfrutei então da paz que tanto desejava minha alma... Sua Divina Majestade nos enviava o necessário para viver sem que tivéssemos de pedi-lo, e nas raras ocasiões em que nos víamos em necessidade, o gozo de nossas almas era ainda maior.” A santa não se contenta com generalidades, mas desce a exemplos minuciosos, como o da religiosa que plantou horizontalmente um pepino por obediência e o encanamento que levou ao convento a água de um poço que, segundo os encanadores, era demasiado baixo.
Em agosto de 1567, Santa Teresa transferiu-se para Medina del Campo, onde fundou o segundo convento, apesar das múltiplas dificuldades que surgiram. A condessa de la Cerda queria que fundasse outro convento em Malagón, e Santa Teresa lhe fez em Madri uma visita que ela mesma qualificou de “muito aborrecida”. Depois de deixar estabelecido o convento de Malagón, foi fundar outro em Valladolid. A fundação seguinte teve lugar em Toledo; essa empresa foi especialmente difícil, porque a santa só tinha cinco ducados ao começar; mas, segundo escreveu, “Teresa e cinco ducados não são nada; mas Deus, Teresa e cinco ducados bastam e sobram.” Uma jovem de Toledo, muito conhecida por sua virtude, pediu para ser admitida no convento e disse à fundadora que traria consigo sua Bíblia. Teresa exclamou: “Sua Bíblia? Deus nos guarde! Não entre em nosso convento, porque somos pobres mulheres que só sabemos fiar e fazer o que nos mandam.”

A santa havia encontrado em Medina del Campo dois frades carmelitas dispostos a abraçar a reforma: um era Antônio de Jesus de Heredia, superior do convento da cidade, e o outro, João de Yepes, mais conhecido como São João da Cruz. Aproveitando a primeira oportunidade que se lhe ofereceu, Santa Teresa fundou um convento de frades na aldeia de Duruelo em 1568; a esse seguiu-se, em 1569, o convento de Pastrana. Em ambos reinava a maior pobreza e austeridade. Santa Teresa deixou o restante das fundações de conventos de frades a cargo de São João da Cruz. A santa também fundou em Pastrana um convento de carmelitas descalças. Quando morreu Dom Ruy Gómez de Silva, que havia ajudado Teresa na fundação dos conventos de Pastrana, sua esposa quis tornar-se carmelita, mas exigindo numerosas dispensas da regra e conservando o modo de vida de uma princesa. Teresa, vendo que era impossível reduzi-la à humildade própria de sua profissão, ordenou a suas religiosas que se transferissem para Segóvia e deixassem à princesa sua casa de Pastrana. Em 1570, a santa, com outra religiosa, tomou posse em Salamanca de uma casa que até então havia sido ocupada por certos estudantes “que se preocupavam muito pouco com a limpeza”. Era um edifício grande, complicado e arruinado, de modo que, ao cair da noite, a companheira da santa começou a ficar muito nervosa. Quando já estavam deitadas em seus sacos de palha (“a primeira coisa que levava a um novo mosteiro era um pouco de palha para que nos servisse de leito”), Teresa perguntou à sua companheira em que pensava. A religiosa respondeu: “Estava pensando o que faria sua reverência se eu morresse neste momento e sua reverência ficasse sozinha com um cadáver.” A santa confessa que a ideia a sobressaltou, porque, embora não tivesse medo de cadáveres, a visão deles sempre lhe causava “uma dor no coração”. No entanto, respondeu simplesmente: “Quando isso acontecer, terei tempo de pensar no que fazer, por ora o melhor é dormir.”
Em julho desse ano, enquanto estava em oração, teve uma visão do martírio dos beatos jesuítas João Acevedo e seus companheiros, entre os quais se contava seu parente Francisco Pérez Godoy. A visão foi tão clara que Teresa teve a impressão de ter presenciado diretamente a cena, e imediatamente a descreveu detalhadamente ao padre Álvarez, que um mês depois, quando chegaram à Espanha as notícias do martírio, pôde comprovar a exatidão da visão da santa.

Por essa época, São Pio V nomeou vários visitadores apostólicos para investigar a relaxação das diversas ordens religiosas, com vistas à reforma. O visitador dos carmelitas de Castela foi um dominicano muito conhecido, o padre Pedro Fernández. Naturalmente, o efeito que lhe produziu o convento da Encarnação de Ávila foi muito mau, e imediatamente mandou chamar Santa Teresa para nomeá-la superiora do mesmo. A tarefa era particularmente desagradável para a santa, tanto porque tinha de separar-se de suas filhas, como pela dificuldade de dirigir uma comunidade que, desde o início, havia olhado com desconfiança suas atividades de reformadora. No princípio, as religiosas se negaram a obedecer à nova superiora, cuja mera presença causava ataques de histeria em algumas. A santa começou explicando-lhes que sua missão não consistia em instruí-las e guiá-las com o chicote na mão, mas em servi-las e aprender com elas: “Mães e irmãs minhas, o Senhor me enviou aqui pela voz da obediência para exercer um ofício no qual jamais havia pensado e para o qual me sinto muito mal preparada... Minha única intenção é servir-vos... Não temais meu governo. Embora tenha vivido longo tempo entre as carmelitas descalças e tenha sido sua superiora, sei também, pela misericórdia do Senhor, como governar as carmelitas calçadas.” Dessa forma, ganhou a simpatia e o afeto da comunidade, e foi-lhe menos difícil restabelecer a disciplina entre as carmelitas calçadas, de acordo com suas constituições. Pouco a pouco, proibiu completamente as visitas demasiado frequentes (o que incomodou muito certos cavaleiros de Ávila), pôs em ordem as finanças do convento e introduziu o verdadeiro espírito do claustro. Em resumo, foi essa uma realização caracteristicamente teresiana. Em Veas, onde havia ido fundar um convento, a santa conheceu o padre Jerônimo Gracián, que a convenceu facilmente a estender seu campo de ação até Sevilha. O padre Gracián era um frade da reforma carmelita que acabava justamente de pregar a Quaresma em Sevilha. Fora da fundação do convento de São José de Ávila, nenhuma outra foi mais difícil que a de Sevilha; entre outras dificuldades, uma noviça que havia sido despedida denunciou as carmelitas descalças à Inquisição como “iluminadas” e outras coisas piores.
Os carmelitas da Itália viam com maus olhos o progresso da reforma na Espanha, assim como os carmelitas não reformados da Espanha, pois compreendiam que, mais cedo ou mais tarde, seriam obrigados a reformar-se. O Pe. Rubio, superior geral da ordem, que até então havia favorecido Santa Teresa, passou para o lado de seus inimigos e reuniu em Plasencia um capítulo geral que aprovou uma série de decretos contra a reforma. O novo núncio apostólico, Felipe de Sega, destituiu o Pe. Gracián de seu cargo de visitador dos carmelitas descalços e prendeu São João da Cruz em um mosteiro; por outro lado, ordenou a Santa Teresa que se retirasse para o convento que ela escolhesse e que se abstivesse de fundar novos conventos. A santa, ao mesmo tempo que confiava o assunto a Deus, decidiu valer-se dos amigos que tinha no mundo e conseguiu que o próprio Filipe II interviesse a seu favor. Com efeito, o monarca convocou o núncio e o repreendeu severamente por ter-se oposto à reforma do Carmelo; além disso, em 1580, obteve de Roma uma ordem que isentava os carmelitas descalços da jurisdição do provincial dos calçados. O Pe. Gracián foi eleito provincial dos carmelitas descalços. “Essa separação foi um dos maiores gozos e consolações da minha vida, pois, em vinte e cinco anos, nossa ordem havia sofrido mais perseguições e provas do que eu poderia escrever em um livro. Agora estávamos, enfim, em paz, calçados e descalços, e nada iria distrair-nos do serviço de Deus.”

Indubitavelmente, Santa Teresa era uma mulher excepcionalmente dotada. Sua bondade natural, sua ternura de coração e sua imaginação cintilante de graça, equilibradas por uma extraordinária maturidade de juízo e uma profunda intuição psicológica, granjeavam-lhe geralmente o afeto e o respeito de todos. Tinha razão o poeta Crashaw ao referir-se a Santa Teresa sob os símbolos aparentemente opostos da “águia” e da “pomba”. Quando julgava necessário, a santa sabia enfrentar as mais altas autoridades civis ou eclesiásticas, e os ataques do mundo não lhe faziam baixar a cabeça. As palavras que dirigiu ao Pe. Salazar — “Guardai-vos de vos opordes ao Espírito Santo” — não foram um desafio histérico; e não foi abuso de autoridade o que a moveu a tratar com dureza implacável uma superiora que se tornara incapaz de governar por excesso de penitências. Mas a águia não matava a pomba, como se vê pela carta que escreveu a um sobrinho seu, que levava uma vida alegre e dissipata: “Bendito seja Deus, que vos guiou na escolha de uma esposa tão boa e fez com que vos casásseis logo, pois tínheis começado a dissipar-vos tão jovem, que muito temíamos por vós. Isso vos mostrará o amor que vos tenho.” A santa tomou sob seus cuidados a filha ilegítima e a irmã do jovem, que então tinha sete anos: “As religiosas deveríamos ter sempre conosco uma menina dessa idade.”
O engenho e a franqueza de Teresa jamais ultrapassavam a medida, nem mesmo quando os empregava como arma. Certa vez, quando um cavalheiro indiscreto elogiou a beleza de seus pés descalços, Teresa riu-se e disse-lhe que os olhasse bem, porque jamais voltaria a vê-los. Os célebres ditos “Bem sabeis o que é uma comunidade de mulheres” e “Minhas filhas, essas são tolices de mulheres” provam o realismo com que a santa considerava suas súditas. Criticando um escrito de seu bom amigo Francisco de Salcedo, Teresa lhe escreveu: “O senhor Salcedo repete constantemente: ‘Como diz São Paulo’, ‘Como diz o Espírito Santo’, e termina declarando que sua obra é uma série de tolices. Parece-me que vou denunciá-lo à Inquisição.”
A intuição de Santa Teresa manifestava-se sobretudo na escolha das noviças para as novas fundações. O primeiro requisito que exigia, antes mesmo da piedade, era que fossem inteligentes, isto é, equilibradas e maduras, porque sabia que é mais fácil adquirir a piedade do que a maturidade de juízo.
“Uma pessoa inteligente é simples e submissa, porque vê suas faltas e compreende que necessita de um guia. Uma pessoa tola e limitada é incapaz de ver suas faltas, ainda que lhas ponham diante dos olhos; e como está satisfeita de si mesma, jamais se melhora. Ainda que o Senhor conceda a essa jovem os dons da devoção e da contemplação, nunca chegará a ser inteligente, de modo que será sempre um peso para a comunidade. Que Deus nos guarde das freiras tolas!”
Impossível ser mais realista que Santa Teresa.
Em 1580, quando se realizou a separação dos dois ramos do Carmelo, Santa Teresa já tinha sessenta e cinco anos e sua saúde estava muito debilitada. Nos dois últimos anos de sua vida, fundou mais dois conventos, completando o total de dezessete. As fundações da santa não eram apenas refúgios para almas contemplativas, mas também uma espécie de reparação pelos estragos causados nos mosteiros pelo protestantismo, principalmente na Inglaterra e na Alemanha. Deus havia reservado para os últimos anos de vida de sua serva a dura provação de intervir no processo legal do testamento de seu irmão Lourenço, cuja filha era superiora no convento de Valladolid. Quando um dos advogados tratou a santa com rudeza, ela replicou: “Queira Deus tratar-vos com a mesma cortesia com que me tratais.” Contudo, Teresa ficou sem palavras quando sua sobrinha, que até então fora excelente religiosa, a expulsou do convento de Valladolid, que ela mesma havia fundado. Pouco depois, a santa escrevia à madre Maria de São José: “Suplico-vos, a vós e a vossas religiosas, que não peçais a Deus que me prolongue a vida; ao contrário, pedi que me leve logo ao descanso eterno, pois já não posso ser-vos de nenhuma utilidade.”

Na fundação do convento de Burgos, que foi a última, as dificuldades não faltaram. Em julho de 1582, quando o convento já estava em andamento, Santa Teresa tencionava retornar a Ávila, mas viu-se obrigada a modificar seus planos e ir a Alba de Tormes visitar a duquesa Maria Enríquez. A Beata Ana de São Bartolomeu relata que a viagem não foi bem planejada e que Santa Teresa já estava tão fraca que desmaiou no caminho. Numa noite, puderam comer apenas alguns figos. Ao chegar a Alba de Tormes, a santa teve de deitar-se imediatamente. Três dias mais tarde, disse à Beata Ana: “Enfim, minha filha, chegou a hora da minha morte.” O Pe. Antônio de Heredia deu-lhe os últimos sacramentos e perguntou-lhe onde queria ser sepultada. Teresa respondeu simplesmente: “Devo eu decidir isso? Negar-me-ão aqui um buraco para o meu corpo?” Quando o Pe. de Heredia lhe levou o viático, a santa conseguiu erguer-se no leito e exclamou: “Ó Senhor, enfim chegou a hora de nos vermos face a face!” Santa Teresa de Jesus, visivelmente arrebatada pelo que o Senhor lhe mostrava, morreu nos braços da Beata Ana às nove da noite de 4 de outubro de 1582.
Precisamente no dia seguinte, entrou em vigor a reforma gregoriana do calendário, que suprimiu dez dias, de modo que a Festa da santa foi fixada, mais tarde, em 15 de outubro. Teresa foi sepultada em Alba de Tormes, onde ainda repousam suas relíquias. Sua canonização teve lugar em 1622.
O artigo do Acta Sanctorum (outubro, vol. VII) sobre Santa Teresa ocupa quase um volume inteiro e foi escrito há menos de um século pelo Pe. Van der Meere. Apesar disso, já está antiquado, pois nos últimos anos foram feitas melhores edições dos textos e descobertos novos materiais. Naturalmente, as principais fontes continuam sendo a Autobiografia e o Livro das Fundações, publicados em 1873 e 1880, na edição com reprodução fotográfica do autógrafo da santa. O Pe. Silverio fez uma edição crítica das obras completas, em espanhol, em nove volumes: seis para as obras (1915–1919) e três para as cartas (1922–1924). Praticamente, todo esse material já havia sido traduzido para o inglês e o francês, a partir de textos mais ou menos exatos. Sobre o caráter e as atividades de Santa Teresa, encontram-se muitos dados preciosos nas obras de seus primeiros biógrafos, especialmente daqueles que a conheceram intimamente nos últimos anos de sua vida. O primeiro desses biógrafos foi o Pe. Francisco de Ribera, que publicou sua obra em 1590; a melhor edição é a do Pe. Jaime Pons (1908). O Pe. Diego de Yepes publicou outra biografia em 1599. A terceira foi escrita pelo capelão de Santa Teresa, Julián de Ávila, mas seu manuscrito se perdeu e só foi descoberto em 1881. Além disso, há muitos dados sobre a santa nos escritos e cartas do Pe. Jerónimo de Gracián, da Beata Ana de São Bartolomeu e de outros amigos seus. Em 1611, veio à luz em Antuérpia a primeira tradução inglesa da Autobiografia; porém, do ponto de vista literário, é melhor a tradução de Sir Tobie Mathew, com o título The Flaming Heart ou The Life of the Glorious St. Teresa. Em 1669, A. Woodhead publicou uma biografia mais completa e uma série de obras da santa em vários volumes. Entre as obras modernas, devem-se citar: J. Coleridge, Life and Letters of St. Teresa (3 vols.); G. Cunninghame Graham, Santa Teresa (1907); J. J. Burke, St. Teresa of Jesus (1911, com interessantes ilustrações sobre as fundações); W. T. Walsh, St. Teresa of Avila (1942); V. Sackville-West, The Eagle and the Dove (1943); E. A. Peers, Mother of Carmel (1945); a breve biografia do Pe. Silverio (trad. ingl. 1947); Kate O’Brien (1951) e M. Auclair (trad. ingl. 1952). Na obra do Pe. Gabriel, Santa Teresa de Jesús (trad. ingl. 1950), há uma introdução às obras da santa. É impossível dar aqui uma lista completa das biografias francesas, italianas e espanholas. Contudo, convém mencionar R. Hoornaert, Ste Thérèse écrivain e Ste Thérèse d’Avila (1951); C. G. Etchegoyen, L’amour divin... (1953); Peers, Studies of the Spanish Mystics e St. Teresa of Jesus and Other Essays (1923). [1]
SÃO LEONARDO DE VANDOEUVRE, ABADE (c. 570)

Numa nota ao pé de seu artigo sobre São Leonardo de Noblac, Alban Butler fala de seu homônimo e contemporâneo, Leonardo de Vandoeuvre, que introduziu a vida monástica no vale do Sarthe. São Leonardo, que desejava viver na solidão, estabeleceu-se às margens do rio Sarthe, no local atualmente chamado Saint-Léonard-des-Bois. O bispo de Le Mans, São Inocêncio, grande promotor da vida monástica, tornou-se grande amigo de São Leonardo. Logo se uniram ao eremita vários discípulos. Infelizmente, não faltaram pessoas que viam com maus olhos a fundação de um mosteiro e disseram ao rei Clotário I que São Leonardo exortava os súditos do monarca a desconhecer sua autoridade e submeter seus bens e pessoas à autoridade do mosteiro. Clotário enviou alguns legados para investigar o caso, mas justamente no momento em que chegaram, um nobre renunciava às suas posses para tomar o hábito. Os legados observaram ao santo que ele estava privando o rei de seus melhores soldados, ao que Leonardo respondeu que apenas ensinava ao povo a praticar os conselhos do Senhor, que havia exortado a todos a renunciar aos bens e segui-Lo. Os legados não puderam responder a tal argumento e voltaram para informar o monarca. Com o tempo, Clotário cessou as hostilidades contra São Leonardo e chegou mesmo a tornar-se protetor da abadia. Entre os amigos do santo contou-se também São Dômnolo, sucessor de São Inocêncio na sede de Le Mans. São Leonardo faleceu por volta do ano 570, em idade muito avançada, nos braços de São Dômnolo.
No Acta Sanctorum, outubro, vol. VIII, há uma breve biografia comentada. Veja-se também DCB, vol. II, pp. 686–687. [2]
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 4, pp. 113-124.
Ibid. p. 124.
Notas:
a. O próprio ofício especial do dia 27 de agosto, data em que as carmelitas comemoram a transverberação de Santa Teresa, mostra a reserva com que a Igreja considera esse tipo de experiências místicas. Muito diferente é o espírito naturalista da estátua da transverberação de Santa Teresa de Bernini, que se encontra na igreja de Santa Maria da Vitória, em Roma.
b. “Estou convencido de que Santa Teresa morreu em um transporte de amor... Quanto à ferida da artéria coronária... é preciso reconhecer que, embora tenha sido causada pelo ímpeto de amor sobrenatural descrito por São João da Cruz, os sinais de fadiga..., sobre os quais existem vários testemunhos, provam que a santa tinha uma predisposição à dilatação e à captura do miocárdio.” (Dr. Juan Lhermitte, em Études Carmélitaines, 1936, vol. II, p. 242).


























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