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Vida de São Vilibrordo de Utrecht e São Herculano de Perúgia (7 de novembro)



São Herculano, pintura de Pietro Perugino, 1495–1500, Galeria Nacional da Úmbria, Perúsia.
São Herculano, pintura de Pietro Perugino, 1495–1500, Galeria Nacional da Úmbria, Perúsia.

Quando os godos tomaram a cidade de Perúgia, após sete anos de cerco, o rei Totila condenou o bispo Herculano a uma morte terrível, ordenando que os algozes lhe arrancassem tiras de pele desde a cabeça até os pés, antes de decapitá-lo. O encarregado de executar a tortura foi suficientemente humano para cortar-lhe a cabeça antes de haver-lhe arrancado toda a pele. O corpo do mártir foi lançado num fosso nos arredores da cidade. Os cristãos se apressaram em sepultar o cadáver juntamente com a cabeça. São Gregório Magno afirma que, quando o desenterraram para trasladá-lo à igreja de São Pedro, quarenta dias depois, a cabeça estava unida ao tronco como se nunca tivesse sido cortada.


Sobre o santo em questão, sabe-se com certeza que um jovem que buscou refúgio em Perúgia, quando os godos tomaram Tiferno (Città di Castello), recebeu ali a ordenação sacerdotal das mãos de São Herculano. Posteriormente, esse sacerdote tornou-se bispo de Tiferno e foi canonizado como São Florindo, cuja memória se celebra no dia 13 deste mês. Os habitantes de Perúgia veneram também outro São Herculano, bispo da mesma cidade. Segundo se diz, era um sírio que fora a Roma e, de lá, enviado para evangelizar Perúgia, onde morreu mártir. É provável que os dois Herculanos sejam a mesma pessoa.


Os bolandistas sustentam que houve apenas um São Herculano de Perúgia; discutem o caso no dia 1º de março e citam o trecho de São Gregório Magno. Também em novembro, vol. II, p. 322, fazem uma breve menção ao nosso mártir. O relato do milagre e os afrescos de Bonfigli no “Palazzo” do Município contribuíram para perpetuar a memória de São Herculano.1




Pintura de São Vilibrordo, por Frederick Bloemaert
Pintura de São Vilibrordo, por Frederick Bloemaert.

São Vilibrordo nasceu na Nortúmbria em 658. Antes de completar sete anos, seus pais o enviaram ao mosteiro de Ripon, então governado por São Wilfrido. Aos vinte anos, Vilibrordo emigrou para a Irlanda, onde se reuniu com São Egberto e São Wigberto, que haviam ido estudar nas escolas conventuais daquele país, em busca de uma vida monástica mais perfeita. Com eles, São Vilibrordo estudou durante sete anos as ciências sagradas. São Egberto tinha a intenção de se dirigir ao norte da Alemanha para pregar o Evangelho, mas não pôde realizar seu projeto. Seu companheiro, São Wigberto, voltou à Irlanda após dois anos de evangelização sem sucesso. Então, São Vilibrordo, que tinha trinta e um anos e acabava de receber a ordenação sacerdotal, pediu aos seus superiores que o enviassem a essa missão tão árdua e perigosa. Seus superiores consentiram, e Vilibrordo partiu com outros onze monges ingleses, entre os quais se encontrava São Wigberto.


No ano 690, desembarcaram na foz do Reno; dali dirigiram-se a Utrecht e depois à corte de Pepino de Heristal, que os encorajou a evangelizar a região da Baixa Frísia, situada entre o Mosa e o mar. Pepino havia arrebatado essa região do pagão Radbodo. São Vilibrordo foi antes a Roma, onde se prostrou aos pés do Papa São Sérgio I e lhe pediu permissão para evangelizar as nações idólatras. O Pontífice concedeu-lhe ampla jurisdição e lhe deu relíquias para a consagração de igrejas. São Vilibrordo e seus companheiros pregaram com sucesso na região da Frísia conquistada pelos francos. São Wilfrido consagrou bispo a São Wigberto na Inglaterra. Talvez isso tenha desagradado a Pepino, pois Wigberto logo partiu para evangelizar os boructvaros. Pepino então enviou São Vilibrordo a Roma com uma carta recomendando ao Papa que o consagrasse bispo.


São Sérgio recebeu-o com grandes honras, sentado na cátedra de São Pedro, mudou seu nome para Clemente e o ordenou bispo dos frísios na basílica de Santa Cecília, no dia da Festa dessa santa, no ano 696. São Vilibrordo permaneceu em Roma apenas duas semanas antes de voltar a Utrecht, onde fixou sua sede e construiu a igreja do Salvador. O zelo infatigável com que trabalhou pela conversão dos pagãos demonstrou que, com a consagração episcopal, havia recebido do Céu uma graça especial para expandir o Reino de Deus. Alguns anos depois de sua consagração, ajudado por Pepino e pela abadessa Santa Irmina, fundou em Luxemburgo a abadia de Echternach, que logo se tornou o centro de sua influência.


São Vilibrordo pregando aos gentios
São Vilibrordo pregando aos gentios

São Vilibrordo também evangelizou na Alta Frísia, onde ainda reinava Radbodo, e chegou até a Dinamarca; mas o único fruto que colheu ali foi comprar trinta jovens dinamarqueses, a quem instruiu, batizou e levou consigo na viagem de volta. Alcuíno conta que, nessa viagem, uma tempestade desviou o navio para a ilha de Helgoland, que os dinamarqueses e frísios consideravam terra sagrada. Nessa ilha era considerado sacrilégio matar animais, comer os produtos da terra ou tirar água das fontes sem guardar profundo silêncio. Para desenganar os habitantes, São Vilibrordo matou alguns animais para alimentar seus companheiros e batizou três pessoas numa fonte, pronunciando em voz alta as palavras rituais. Os idólatras, que acreditavam que São Vilibrordo enlouqueceria ou cairia morto no ato, não sabiam se atribuir o fato de nada lhe acontecer à clemência ou à impotência de seu deus. Finalmente decidiram informar o acontecimento a Radbodo, que mandou lançar sortes para escolher uma vítima cujo sacrifício aplacasse a divindade. A sorte recaiu sobre um membro da comitiva de São Vilibrordo, que foi sacrificado pela superstição do povo e morreu mártir de Jesus Cristo.


Depois de Helgoland, São Vilibrordo visitou Walcheren, onde, com sua caridade e paciência, converteu muitos pagãos. Quando derrubou e destruiu um ídolo, um dos sacerdotes pagãos o perseguiu para matá-lo, mas o santo conseguiu escapar e voltou são e salvo a Utrecht. No ano 714 nasceu Carlos Martel, filho de Pepino, o Breve, que mais tarde seria rei dos francos. São Vilibrordo o batizou e, segundo Alcuíno, predisse que sua glória superaria a de todos os seus predecessores.


No ano 715, Radbodo reconquistou a parte da Frísia que havia perdido e prejudicou muito a obra de São Vilibrordo, pois destruiu igrejas, matou missionários e obrigou muitos a apostatar. São Vilibrordo teve de fugir, mas Radbodo morreu em 719, e o santo pôde pregar novamente com plena liberdade em toda a região. São Bonifácio o ajudou nesse trabalho, já que passou três anos na Frísia antes de ir para a Alemanha. Beda escreve em sua história, por volta do ano 731: “Vilibrordo, também chamado Clemente, ainda vive. É um ancião venerável, que há trinta e seis anos é bispo e suspira pela recompensa celestial, após ter superado muitas provas espirituais.” O Beato Alcuíno o descreve como homem de estatura mediana, de aspecto venerável e distinto, de palavra e caráter cheios de graça e alegria, prudente no conselho, incansável na pregação e no ministério apostólico, sempre atento a não negligenciar a oração pública, a meditação e a leitura espiritual. São Vilibrordo e seus companheiros implantaram a fé em muitas regiões da Holanda e dos Países Baixos, onde Santo Amando e São Lebvino não haviam chegado. Graças aos seus trabalhos, os frísios, povo bárbaro e rude, foram aos poucos se civilizando e progredindo na virtude. Com frequência, o santo é chamado de “Apóstolo da Frísia”, título ao qual tem pleno direito, embora não se deva esquecer que São Wigberto também desempenhou um papel muito importante nos primeiros anos da missão e parece ter sido o chefe principal. De resto, os frísios, como outros povos, não se converteram com a rapidez que os hagiógrafos medievais supõem. “Vilibrordo foi para a Inglaterra o que Columba havia sido para a Irlanda, pois inaugurou um século de influência espiritual da Inglaterra sobre o continente.” (W. Levison).


Retrato de São Vilibrordo
Retrato de São Vilibrordo

São Vilibrordo costumava retirar-se de tempos em tempos para fazer retiro em Echternach. No fim de sua vida, retirou-se definitivamente para esse mosteiro, onde morreu aos oitenta e um anos de idade, em 7 de novembro de 739. Foi sepultado na igreja abacial, que desde então se tornou local de peregrinação. Nesse santuário celebra-se, na quarta-feira de Pentecostes, uma curiosa cerimônia chamada “a dança dos santos”. Não se sabe ao certo sua origem, mas é fato que vem sendo realizada desde 1553 até o presente (exceto entre 1786 e 1802). Trata-se de uma procissão que vai desde a ponte do rio Sûre até o santuário. Os participantes, em fileiras de cinco e de mãos dadas, avançam dançando ao som da música; a cada três passos à frente, dão dois para trás. Participam da procissão sacerdotes, religiosos e até bispos, e a cerimônia termina com a bênção do Santíssimo Sacramento. Quaisquer que sejam suas origens, o fato é que atualmente a procissão tem caráter penitencial e tem por fim rogar pelos epilépticos e por todos os que sofrem de doenças mentais. A Festa de São Vilibrordo é celebrada na diocese inglesa de Hexham e na Holanda.


O artigo do Pe. Poncelet nos Acta Sanctorum, novembro, vol. III, merece todos os elogios, não apenas por sua clareza, mas também pelo domínio magistral que o autor possui sobre todo o período. O Pe. Poncelet trata dos elogios feitos a São Vilibrordo por seus contemporâneos (Beda, São Bonifácio, etc.) e publica integralmente o texto de Alcuíno, revisado criticamente, assim como a biografia de Teofrido, abade de Echternach, embora esta última acrescente pouco às demais fontes históricas. É digno de nota que no manuscrito de Echternach do Hieronymianum (MS Paris Latin 10837) há outro calendário que contém uma nota escrita pelo próprio São Vilibrordo no ano 728, na qual afirma que ele, Clemente, cruzou o mar no ano 690 e foi consagrado bispo pelo Papa São Sérgio, em Roma, no ano 696. Veja-se sobre este e outros detalhes o Calendar of St. Willibrord, editado por H. A. Wilson na Henry Bradshaw Society (1918). Encontram-se também excelentes artigos sobre o santo no DNB e no DCB. Sobre “a dança dos santos” de Echternach, cf. John Morris, em The Month, dezembro de 1892, pp. 495–513; e Krier, Die Springprozession in Echternach (1870). Uma biografia inglesa de São Vilibrordo, que havia sido escrita com vistas a sua publicação na coleção anglicana de J. H. Newman (talvez por F. T. Meyrick?), foi publicada sem nome de autor em 1877. W. Levison também publicou os principais textos relacionados com o santo. Suas conclusões coincidem quase sempre com as do Pe. Poncelet, particularmente no que se refere à autenticidade do chamado “testamento” de São Vilibrordo. Em 1934, Levison incluiu na continuação dos MGH, Scriptores, vol. XXX (pp. 1368–1371), uma coleção de milagres atribuídos ao santo. Na igreja de Santa Gertrudes de Utrecht foram descobertas certas supostas relíquias de São Vilibrordo; W. J. A. Visser as descreveu; sobre isso veja-se Analecta Bollandiana, vol. I (1934), pp. 436–437. Cf. também G. H. Verbist, St. Willibrord, apôtre des Pays-Bas (1939); e W. Levison, England and the Continent... (1946), sobretudo pp. 53–69. C. H. Talbot traduziu, em Anglo-Saxon Missionaries in Germany (1954), a biografia escrita por Alcuíno.2



Referência:


1. Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 4, pp. 285-286.

2. Ibid. pp. 286-288.



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