top of page

Vida de Santo Afonso Rodrigues e São Serapião de Antioquia (30 de outubro)



Pintura de São Serapião na Igreja de Santo Antão Abade em Valência, Espanha
Pintura de São Serapião na Igreja de Santo Antão Abade em Valência, Espanha.

O documento conhecido pelo nome de “Doutrina de Addai”, que data do final do século IV, afirma que São Serapião foi consagrado por Ceferino, bispo de Roma; no entanto, parece que São Serapião ocupou a sé de Antioquia vários anos antes de começar o pontificado de São Ceferino. O Martirológio Romano diz que ele era famoso por sua ciência. De todo modo, a história o recorda por seus escritos teológicos. Eusébio cita o resumo de uma carta particular que São Serapião escreveu a Cáricon e Pôncio, na qual condena o montanismo, que havia alcançado certa popularidade graças às falsas profecias de duas mulheres histéricas. O santo escreveu também uma exortação a um tal Domnino, que havia apostatado durante a perseguição e praticava o “voluntarismo” judaico.


Durante o episcopado de Serapião, houve uma controvérsia em Rhosos da Cilícia sobre a leitura pública do chamado “Evangelho de Pedro”, que era um escrito apócrifo de origem gnóstica. No início, Serapião, que não havia lido o livro e confiava na ortodoxia de seu rebanho, permitiu que fosse lido em público. Mais tarde, pediu uma cópia da obra à seita que o propagava, “aqueles a quem costumamos chamar Docetas” (isto é, ilusionistas, porque sustentavam que a humanidade de Cristo era aparente e não real). Após ler o livro, o santo escreveu à Igreja de Rhosos para proibir que continuasse a ser lido, pois havia descoberto nele “certas adições à verdadeira doutrina do Salvador”. Nessa carta, São Serapião anunciava aos cristãos de Rhosos que em breve iria expor-lhes a verdadeira fé.


No Oriente, São Serapião não é venerado. Em contrapartida, seu nome figura no Martirológio Romano. Os carmelitas lhe prestam culto especial, pois, por estranho que pareça, afirmam que o santo pertenceu à sua ordem.


Em Acta Sanctorum, outubro, vol. XIII, encontram-se reunidos praticamente todos os dados que possuímos sobre São Serapião. É verdade que os bolandistas não citam a Doutrina de Addai; mas, como dissemos em nosso artigo sobre Santo Addai (5 de agosto), tal obra não merece crédito algum. É interessante notar que o Breviário sírio mais antigo menciona, no dia 14 de maio, Serapião, bispo de Antioquia. 1




A Visão de Santo Afonso Rodrigues, por Francisco de Zurbarán
A Visão de Santo Afonso Rodrigues, por Francisco de Zurbarán.

Neste mês, a Igreja celebra a Festa de dois irmãos leigos canonizados. Contudo, a vida de São Geraldo Majela e a de Santo Afonso Rodrigues foram muito diferentes. Por exemplo, Geraldo morreu em uma idade em que Santo Afonso ainda era casado e vivia com sua família. Enquanto o primeiro morreu aos trinta anos, o segundo viveu quase noventa; e, enquanto Geraldo trabalhou em diversos ofícios e em diferentes casas de sua congregação durante os três anos que se seguiram à sua profissão, Santo Afonso foi porteiro do mesmo colégio durante quarenta e cinco anos.


Diego Rodríguez era um comerciante abastado de Segóvia. Afonso, nascido por volta de 1533, foi o terceiro filho de uma família muito numerosa. O Beato Pedro Fabro e outro jesuíta chegaram para pregar uma missão em Segóvia e hospedaram-se na casa de Diego. Ao terminar a missão, o anfitrião propôs que descansassem alguns dias em sua casa de campo, e os missionários aceitaram. Afonso, então com cerca de dez anos, partiu com eles, e o Beato Pedro Fabro encarregou-se de prepará-lo para a primeira comunhão. Aos quatorze anos, Afonso foi com seu irmão mais velho estudar no colégio dos jesuítas de Alcalá, mas seu pai morreu menos de um ano depois, e Afonso teve de retornar para ajudar sua mãe na administração dos negócios. Quando Afonso tinha vinte e três anos, sua mãe se retirou da administração e o deixou encarregado dela. Três anos mais tarde, Afonso casou-se com Maria Suárez.


Os negócios iam mal, e o dote da esposa não bastava para melhorá-los. O jovem não era mau comerciante, mas as circunstâncias não o favoreciam. Sua filhinha morreu pouco depois de nascer; sua esposa a seguiu ao túmulo após dar à luz um menino. Dois anos depois, morreu também a mãe do futuro santo. Essa sucessão de perdas e infortúnios levou Afonso a refletir seriamente sobre o que Deus queria dele neste mundo. Até então, fora um cristão bom e devoto, mas começou a perceber que precisava distinguir-se dos demais comerciantes de Segóvia, que levavam vida exemplar, porém não heroica. Vendeu, então, seu negócio, a fim de garantir o sustento, e foi morar com seu filho na casa de suas duas irmãs solteiras, Antônia e Juliana, muito piedosas. Elas ensinaram ao irmão os rudimentos da oração mental, de modo que, em pouco tempo, Afonso meditava duas horas todas as manhãs e, à tarde, refletia sobre os mistérios do Rosário.


Logo começou a reconhecer a imperfeição de sua vida passada, vendo-a à luz de Cristo. Após uma visão da felicidade do Céu, fez uma confissão geral. Desde então, passou a praticar severas mortificações e a confessar-se e comungar uma vez por semana. Alguns anos depois, morreu seu filho; Afonso, no auge da dor, sentiu grande consolo ao compreender que o menino fora poupado do perigo de ofender a Deus.


Santo Inácio de Loyola por Peter Paul Rubens
Santo Inácio de Loyola por Peter Paul Rubens.

Embora não fosse a primeira vez, veio-lhe então o desejo de abraçar a vida religiosa e pediu admissão aos jesuítas de Segóvia. Estes o dissuadiram prontamente, pois ele já tinha quase quarenta anos, sua saúde era frágil e sua educação insuficiente para o sacerdócio. Sem desanimar, Afonso foi a Valência procurar seu antigo amigo, o Pe. Luís Santander, S.J., que o aconselhou a começar a estudar latim para ordenar-se o quanto antes. Assim, como fizera Santo Inácio de Loyola, Afonso começou a frequentar a escola com as crianças o que era grande mortificação. Como dera quase todo o seu dinheiro às irmãs e aos pobres, precisou entrar como criado e, às vezes, pedir esmolas. Na escola, conheceu um homem de sua idade e com aspirações semelhantes, que tentou persuadi-lo a desistir de ser jesuíta e viver com ele como eremita. Afonso chegou a visitar a ermida na montanha, mas logo percebeu que se tratava de uma tentação contra sua verdadeira vocação e voltou imediatamente a Valência, onde disse ao Pe. Santander: “Prometo-vos que jamais, em minha vida, farei a minha própria vontade. Fazei de mim o que quiserdes.” Em 1571, o provincial dos jesuítas, contrariando o parecer de seus subordinados, aceitou Afonso Rodríguez como irmão coadjutor. Seis meses depois, enviou-o ao colégio de Montesión, em Maiorca, onde logo foi nomeado porteiro.


Santo Afonso exerceu esse ofício até que a idade e as enfermidades o impediram. O Pe. Miguel Julián resumiu, em uma frase, a fama de santidade que o irmão alcançou nesse cargo: “Este irmão não é um homem, mas um anjo.” Santo Afonso consagrava à oração todos os instantes que seu ofício lhe deixava livres. Embora tenha chegado a viver em constante união com Deus, seu caminho espiritual esteve longe de ser fácil. Especialmente em seus últimos anos, o santo atravessou longos períodos de desolação e aridez, sofrendo fortes dores sempre que tentava meditar. Como se isso não bastasse, foi assaltado pelas mais violentas tentações, como se tantos anos de mortificação não tivessem servido de nada. Afonso intensificou ainda mais as penitências, sem jamais desesperar, e continuou no fiel cumprimento de suas obrigações, convencido de que, no momento escolhido por Deus, voltaria a gozar das consolações e êxtases da oração. Alguns sacerdotes que o conheceram por vários anos declararam que jamais o viram fazer ou dizer algo que não fosse bom. Em 1585, quando tinha cinquenta e quatro anos, fez os votos solenes, que renovava na Missa todos os dias de sua vida. A vida de um porteiro não tem nada de invejável, especialmente a portaria de um colégio, onde se requer uma dose muito especial de paciência. Contudo, o ofício tem suas compensações, pois o porteiro conhece muitas pessoas e serve de elo entre o mundo exterior e o interior. No colégio de Montesión, além dos estudantes, havia um contínuo ir e vir de sacerdotes, nobres, profissionais e empregados que tratavam assuntos com os padres, sem contar os mendigos que buscavam esmolas e os comerciantes de Palma que vinham vender seus produtos. Todos conheceram, respeitaram e veneraram o irmão Afonso, a quem tanto os sábios quanto os simples recorriam em busca de conselho, e cuja reputação ultrapassou os muros do colégio. O mais famoso de seus “discípulos” foi São Pedro Claver, que em 1605 estudava no colégio. Durante três anos, esteve sob a direção de Santo Afonso, o qual, iluminado por Deus, o entusiasmou e encorajou a trabalhar na América. Foi lá que São Pedro Claver ganhou o título de “Apóstolo dos Negros/Escravos.”


“Tenho ordem de partir para as Índias.” disse Santo Afonso
“Tenho ordem de partir para as Índias.” disse Santo Afonso

Santo Afonso professou sempre profunda devoção à Imaculada Conceição. O Beato Raimundo Lúlio havia defendido esse privilégio mariano em Maiorca trezentos anos antes. Durante um tempo, acreditou-se que Santo Afonso tivesse composto o Ofício Parvo da Imaculada. O santo praticava e propagava ardentemente essa devoção, o que deu origem ao equívoco. Também não foi o autor do Exercício de Perfeição e Virtudes Cristãs, obra de outro jesuíta com o mesmo nome e sobrenome, mas que não foi canonizado. Contudo, Santo Afonso deixou vários escritos, redigidos por ordem de seus superiores. Sua doutrina é sólida e simples; suas exortações possuem o fervor esperado de um santo de sua estatura, e o conteúdo de seus livros prova que era uma alma mística. Já com mais de setenta anos e gravemente enfermo, o reitor do colégio, para provar sua obediência, ordenou-lhe que partisse para as Índias. Santo Afonso dirigiu-se imediatamente à porta e pediu ao porteiro que a abrisse, dizendo: “Tenho ordem de partir para as Índias.” Assim teria feito, se o reitor não o tivesse chamado de volta. Como já foi dito, em seus últimos anos, sofreu grandes aridezes espirituais e violentos ataques do demônio. A isso se somaram as doenças e sofrimentos físicos. Finalmente, teve de permanecer acamado; mas sua invencível paciência e perseverança lhe mereceram consolações “tão intensas, que não podia erguer os olhos da alma a Jesus e Maria sem vê-los como se estivessem presentes.”


São Pedro Claver pregando aos escravos.
São Pedro Claver pregando aos escravos.

Em maio de 1617, o Pe. Julián, reitor de Montesión, sofrendo de febre reumática, pediu a Santo Afonso que orasse por ele. O santo passou a noite em oração e, na manhã seguinte, o reitor pôde celebrar a Missa. Em outubro desse mesmo ano, sentindo aproximar-se o fim, o santo recebeu a Comunhão, e cessaram todos os seus sofrimentos espirituais e corporais. De 29 a 31 de outubro permaneceu em êxtase e depois começou sua terrível agonia. Meia hora antes do fim, recobrou os sentidos, olhou docemente para seus irmãos, beijou o crucifixo, pronunciou em voz alta o nome de Jesus e expirou. O vice-rei e toda a nobreza de Maiorca assistiram a seus funerais, junto com o bispo e uma multidão de pobres e enfermos, cujo amor e fé foram recompensados com milagres. Santo Afonso foi canonizado juntamente com São Pedro Claver em 1888.


Os documentos publicados pela Sagrada Congregação dos Ritos para a beatificação são muito numerosos, pois o promotor fidei apresentou diversas objeções baseadas na primeira parte da vida e nos escritos do santo. Esses documentos, assim como as notas autobiográficas que Santo Afonso escreveu por obediência entre 1601 e 1616, constituem os materiais mais valiosos. As notas autobiográficas formam a primeira parte de suas Obras Espirituais, editadas pelo Pe. J. Nonnell em Barcelona (1885–1887). O mesmo autor escreveu em espanhol a melhor biografia do santo, intitulada Vida de Santo Afonso Rodríguez (1888); o Pe. Goldie aproveitou amplamente essa obra para a biografia que publicou em 1889. Em Acta Sanctorum, outubro, vol. XII, encontra-se a biografia mais antiga de Santo Afonso, publicada pelo Pe. Janin em 1644, em latim. Sobre a relação do santo com o Ofício Parvo da Imaculada, veja-se Uriarte, Obras anónimas y seudónimas S.J., vol. I, pp. 512–515. Sobre a doutrina ascética de Santo Afonso, cf. Villier, Dictionnaire de Spiritualité, vol. I (1933), cc. 395–402. As biografias mais recentes são provavelmente a de M. Dietz, Der hl. Alfons Rodríguez (1925), e o retrato de caráter popular de M. Farnum, intitulado The Wool Merchant of Segovia (1945). 2



Referência:


1. Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 4, p. 224.

2. Ibid. pp. 227-230.



REZE O ROSÁRIO DIARIAMENTE!

Comentários


  • Instagram
  • Facebook
  • X
  • YouTube
linea-decorativa

“O ROSÁRIO
é a ARMA
para esses tempos.”

- Padre Pio

 

santa teresinha com rosas

“Enquanto a modéstia não
for colocada
em prática a sociedade vai continuar
a degradar,

a sociedade

fala o que é

pelasroupas

que veste.

- Papa Pio XII

linea-decorativa
jose-de-paez-sao-luis-gonzaga-d_edited.j

A castidade
faz o homem semelhante
aos anjos.

- São Gregório de Nissa

 

linea-decorativa
linea-decorativa
São Domingos

O sofrimento de Jesus na Cruz nos ensina a suportar com paciência
nossas cruzes,

e a meditação sobre Ele é o alimento da alma.

- Santo Afonso MARIA
de Ligório

bottom of page