Vida dos Santos, Timóteo, Hipólito, Sinforiano e Sigfrido: Festa do Imaculado Coração de Maria (22 de agosto)
- Sacra Traditio
- 22 de ago.
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A devoção ao Imaculado Coração de Maria é análoga à do Sagrado Coração de Jesus. Consiste basicamente na veneração de um coração de carne, unido à pessoa de Maria, como símbolo de seu amor (sobretudo por seu Filho), de suas virtudes e de sua vida interior. Podem encontrar-se certos prenúncios dessa devoção no Cântico dos Cânticos, mas o primeiro que a impulsionou formalmente foi São João Eudes, no século XVII. O Papa Pio VII permitiu que se celebrasse a Festa do Puríssimo Coração de Maria em 1805. Algumas das palavras pronunciadas por Nossa Senhora de Fátima popularizaram muito essa devoção em época bem recente. Em 31 de outubro de 1942, Pio XII consagrou todo o mundo ao Imaculado Coração de Maria; pouco depois, em 4 de maio de 1944, ordenou que se celebrasse em toda a Igreja do Ocidente essa Festa no dia da oitava da Assunção.
Maria tem uma função universal: “seu título natural é a maternidade divina; seu título adquirido baseia-se em seu sacrifício total, junto com seu Filho, pela redenção do mundo. Maria participou da obra da Redenção* em um sentido muito real, embora não possamos perder de vista que difere de seu Filho como o finito difere do infinito e o criado do incriado. Por outra parte, Maria foi redimida e cheia de graça no mesmo instante de sua concepção, precisamente pelos méritos redentores do Verbo Encarnado, de quem estava destinada a ser Mãe. Não está demais repetir estas verdades para que não ofendamos nossa Mãe celestial com expressões exageradas e inexatas, que fazem mais dano do que bem à piedade e à devoção católicas” (Mons. Godfrey).
A nação do Equador, na América do Sul, por devoção de seu povo e decisão de seu episcopado, havia-se colocado sob o patrocínio do Puríssimo Coração de Maria desde princípios do século XIX; mas ainda sua consagração foi ratificada pelo Honrável Congresso com um solene documento assinado em 6 de agosto de 1892, no qual se intitulava o país como a “República do Imaculado Coração de Maria”.
Ver Acta Apostolicae Sedis, vol. XXXIV (1942), pp. 313-319, 345-346; um artigo de Mons. William Godfrey na Clergy Review, vol. XXI (1943), n. 5, pp. 193-199; Mons. Messner, The Immaculate Heart (1950); H. Keller, The Heart of Mary (1950). [1]

Neste dia, a Igreja comemora três mártires entre os quais não existe relação alguma. São Timóteo, que morreu na perseguição de Diocleciano, foi sepultado na Via Ostiense de Roma, em frente à basílica de São Paulo Extramuros.
A lição de matinas e o Martirológio Romano nos dizem que Santo Hipólito era bispo de Porto e “muito renomado por sua sabedoria”. Pereceu afogado por causa da fé em Porto ou em Óstia e foi sepultado no local do martírio. Não sabemos com certeza quem era este mártir, mas não é impossível que se identifique com o Santo Hipólito do qual fizemos menção no dia 13 deste mês.
São Sinforiano foi martirizado em Autun, no século II ou III. A cidade de Autun era uma das mais antigas e famosas da Gália. Na época à qual nos referimos, praticava-se intensamente nessa cidade o culto a Berecítia (Cibele), Apolo e Diana. Em determinado dia do ano, transportava-se com grande pompa a estátua de Cibele sobre um carro, por toda a cidade. Em uma dessas procissões, Sinforiano faltou com respeito à imagem e foi preso pela multidão e conduzido diante de Heráclio, governador da província. Heráclio lhe perguntou por que se recusava a venerar a imagem da mãe dos deuses. O santo respondeu que era cristão e só adorava ao verdadeiro Deus; acrescentou ainda que, se tivesse um martelo em mãos, destruiria a estátua. O juiz considerou essa resposta um ato de impiedade e rebeldia e perguntou aos presentes se Sinforiano era cidadão de Autun. Um deles respondeu: “Sim, pertence a uma nobre família da cidade”. O juiz então disse a Sinforiano: “Talvez você aja assim pensando que sua linhagem o protege, ou talvez ignore as ordens do imperador”. Em seguida ordenou que se lesse o edito imperial e disse ao mártir: “Que responde a isso, Sinforiano?” O mártir voltou a manifestar seu desprezo pelo ídolo, e o juiz mandou açoitá-lo e encarcerá-lo. Mais tarde, Sinforiano compareceu novamente ao tribunal e mostrou-se tão firme quanto da primeira vez. Heráclio condenou-o a morrer pela espada por ter traído os deuses e os homens. Quando Sinforiano se dirigia ao local da execução, sua mãe, que estava junto à muralha da cidade para vê-lo passar, gritou-lhe: “Sinforiano, meu filho, lembra-te do Deus vivo e sê valente. Não temas. Tua morte será o caminho que conduz à vida”. O santo foi decapitado. Seu corpo foi sepultado em uma gruta, perto de uma fonte. Em meados do século V, São Eufrônio, bispo de Autun, construiu ali uma igreja em sua honra.
É curioso que a liturgia tenha reunido os nomes desses três mártires na missa e no ofício deste dia. Segundo consta no Sacramentário Gregoriano, a oração do dia referia-se originalmente apenas a São Timóteo; mais tarde, acrescentaram-se os nomes dos outros santos. Qualquer que seja a opinião sobre a lenda do martírio de São Timóteo, tal como se conta nas Atas de São Silvestre, é certo que a Depositio Martyrum e outros documentos antigos dizem que foi sepultado na Via Ostiense (cf. Delehaye, CMH., pp. 456-457). O famoso Calendário Cartaginês menciona Timóteo neste dia, e a Crônica do bárbaro Escaligero afirma que “o bispo Timóteo sofreu um glorioso martírio em Cartago”; isso fez suspeitar os historiadores da existência de dois Timóteos. Também se questiona a existência de dois Hipólitos: o de Porto e o de Óstia. Quanto a Sinforiano, há alusões e dedicatórias de igrejas que provam que realmente existiu. Ruinart incluiu suas atas entre as Acta Sincera; sobre esse ponto cf. W. Meyer, Fragmenta Burana, no Festschrift publicado pela Academia de Göttingen (1901), pp. 161-163. No comentário de Delehaye que acabamos de mencionar, encontram-se outras referências bibliográficas (pp. 456-458). Veja também G. H. Doble, St. Synphorian (1931), na coleção de Santos da Cornualha. [2]
Quando São Bento Biscop se encontrava ausente do mosteiro, durante sua quinta viagem a Roma, morreu em Wearmouth São Esterwino, o abade coadjutor. Então os monges, sob a direção de São Ceolfrido, abade coadjutor de Jarrow, elegeram o diácono Sigfrido. Segundo Beda, “era um homem muito versado na Sagrada Escritura, de conduta admirável e perfeita continência. Infelizmente, sua fraqueza corporal contrastava com seu vigor mental e aquele homem de coração puro padecia de uma dolorosa e incurável doença nos pulmões”. Três anos após a eleição de São Sigfrido, quando São Bento já havia regressado ao mosteiro, ambos os santos adoeceram gravemente. Compreendendo que iam morrer, quiseram ter uma última conversa sobre seu próprio estado espiritual e o de seus monges. Assim, os religiosos trasladaram São Sigfrido em uma padiola até a cela de São Bento e o deitaram no leito deste. “As cabeças de ambos repousavam no mesmo travesseiro”; mas estavam tão fracos que os monges tiveram de ajudá-los a trocar o beijo da paz. Depois de consultá-lo, São Bento chamou São Ceolfrido e o nomeou abade dos dois mosteiros para que reinassem a paz, a unidade e a concórdia entre ambos. Dois meses depois, São Sigfrido, “tendo passado pelo fogo e pela água da tribulação temporal, foi transportado ao local de seu eterno descanso. De seus lábios sem mancha brotaram os louvores do Senhor e assim passou à mansão do Rei do Céu”. Foi sepultado na igreja abacial de São Pedro, junto de seu mestre São Bento e de seu predecessor São Esterwino.
Todos esses dados procedem da Historia Abbatum de Beda e da história anônima do mesmo nome. Veja-se o texto e as notas de Plummer. É muito difícil determinar até que ponto se pode considerar santos Sigfrido e outros varões de Deus, já que não restam vestígios de nenhuma comemoração litúrgica e seus nomes não figuram sequer nos calendários eclesiásticos. Cf. Stanton, Menology, p. 405. [3]
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 3, pp. 388–389.
Ibid. pp. 389-390.
Ibid. p. 390.
NOTA:
* Papa Pio IV, Concílio de Trento, Sessão 25, Da Invocação, e Relíquias dos Santos, e das Sagradas Imagens.:
“[…] os santos que reinam juntamente com Cristo, rogam a Deus pelas pessoas, e que é útil e bom invocá-los humildemente, e recorrer às suas orações, intercessão e auxílio para alcançar de Deus os benefícios por Jesus Cristo seu Filho e Nosso Senhor, que é nosso único Redentor e Salvador, e que agem de modo ímpio os que negam que os santos, que gozam nos Céus de grande felicidade, devam ser invocados, ou aqueles que afirmam que os santos não rogam pelas pessoas, ou que é idolatria invocá-los para que roguem por nós, mesmo que seja a cada um em particular, ou que repugna a palavra de Deus e se opõe à honra de Jesus Cristo, único Mediador entre Deus e as pessoas, ou que é necessário suplicar verbal ou mentalmente a os que reinam no céu.
Os fiéis devem também ser instruídos para que venerem os santos corpos dos santos mártires e de outros que vivem em Cristo, que foram membros vivos do próprio Cristo, e templos do Espírito Santo, por quem haverão de ressuscitar para a vida eterna para serem glorificados, e pelos quais são concedidos por Deus muitos benefícios às pessoas, de modo que devem ser condenados, como antigamente se condenou, e agora também os condena a Igreja, aos que afirmam que não se deve honrar nem venerar as relíquias dos santos, ou que é vã a veneração que estas relíquias e outros monumentos sagrados recebem dos fiéis, e que são inúteis as frequentes visitas às capelas dedicadas aos santos com a finalidade de alcançar seu socorro.
Além disso declara este santo Concílio, que as imagens devem existir, principalmente nos templos, principalmente as imagens de Cristo, da Virgem Mãe de Deus, e de todos os outros santos, e que a essas imagens deve ser dada a correspondente honra e veneração, não por que se creia que nelas existe divindade ou virtude alguma pela qual mereçam o culto, ou que se lhes deva pedir alguma coisa, ou que se tenha de colocar a confiança nas imagens, como faziam antigamente os gentios, que colocavam suas esperanças nos ídolos, mas sim porque a honra que se dá às imagens, se refere aos originais representados nelas, de modo que adoremos unicamente a Cristo por meio das imagens que beijamos e em cuja presença nos descobrimos, ajoelhamos e veneramos aos santos, cuja semelhança é espelhada nessas imagens. Tudo isto está estabelecido nos decretos dos Concílios, principalmente no segundo de Niceia, contra os impugnadores das imagens.”
Muito completo o conteúdo apresentado pelo que parabenizo o douto Sr. responsável por este site. In Corde Iesum semper.