Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora do Perpétuo e Socorro (27 de junho)
- Sacra Traditio
- 27 de jun.
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FESTA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS - (Meditação e oração)

Filios enutrivi et exaltavi; ipsi autem spreverunt me – “Criei uns filhos e engrandeci-os; eles, porém, me desprezaram” (Is 1, 2)
I. Oh! Quanto o belo Coração de Jesus é fiel para com aqueles que Ele chama a seu santo amor! Fiel é aquele que vos chamou: ele também assim fará. A fidelidade de Deus nos dá ânimo para esperar tudo, se bem que nada mereçamos. Depois de expulsarmos a Deus de nosso coração, basta que Lhe abramos a porta para Ele entrar logo segundo a promessa feita: Si quis aperuerit mihi ianuam, intrabo ad illum et coenabo cum illo (1) – “Se alguém me abrir a porta, entrarei em sua casa e ceiarei com ele”. – Se desejamos graças, peçamo-las em nome de Jesus Cristo, visto que Ele nos prometeu que assim as obteremos: Se pedirdes alguma coisa a meu Pai em meu nome, Ele vo-la dará (2). Nas tentações, confiemos nos méritos de Jesus, e Ele não permitirá que os inimigos nos incomodem acima das nossas forças: Fidelis autem Deus est, qui non patietur vos tentari supra id quod potestis (3).
Oh, como é preferível tratar com Deus a tratar com os homens! Quantas vezes estes não prometem e depois faltam à palavra, quer porque enganam na promessa, quer porque depois da promessa mudam de opinião. Non est Deus quasi homo, ut mentiatur; nec ut filius hominis ut mutetur (4). Deus, assim diz o Espírito Santo, não pode ser infiel em suas promessas, porque não pode mentir, sendo a verdade mesma; nem pode mudar de opinião, porque tudo o que quer é justo e reto. Prometeu acolher todo aquele que a Ele se chega; dar auxílio ao que o pede, amar àquele que O ama, e depois não há de fazer? Dixit ergo, et non faciet?
Oxalá fôssemos nós tão fiéis a Deus, assim como Ele o é para conosco! No passado, quantas vezes não Lhe temos prometido sermos todos d’Ele, servi-Lo e amá-Lo; e depois nos tornamos traidores, e renunciando ao seu serviço, fizemo-nos escravos do demônio! Peçamos-Lhe que nos dê força para Lhe sermos fieis no futuro. – Felizes de nós, se formos fiéis a Jesus Cristo nas poucas coisas que Ele nos manda! Ele será fiel recompensando-nos copiosamente, e nos fará ouvir o que prometeu a seus servos fiéis: Euge, serve bone et fidelis! Quia super pauca fuisti fidelis, super multa te constituam; intra in gaudium domini tui (5) – “Eia, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, te investirei na posse do muito: entra no que é gozo de teu senhor”.

II. Amadíssimo Redentor meu, oxalá que eu Vos tivesse sido fiel, como Vós o fostes comigo. Cada vez que Vos abri a porta do meu coração, nele entrastes para me perdoar e receber a vossa graça; cada vez que Vos invoquei, correstes em meu socorro. Vós fostes sempre fiel e eu Vos fui muitas vezes infiel: prometi servir-Vos e depois tantas vezes Vos virei as costas; prometi amar-Vos e depois mil vezes Vos recusei meu amor, como se Vós, meu Deus, meu Criador e meu Redentor, fosseis menos digno de ser amado, que as criaturas e as miseráveis satisfações pelas quais Vos abandonava. Perdoai-me, ó meu Jesus. Reconheço a minha ingratidão e a detesto. Reconheço que sois a bondade infinita, digna de um amor infinito, especialmente digna de ser amada por mim, a quem tanto tendes amado após tantas ofensas da minha parte.
Desgraçado de mim se me condenasse! As graças que me destes e as provas de amor que me prodigalizastes, seriam o inferno do meu inferno. Não seja assim, ó meu amor; não permitais que Vos abandone de novo, e que, por um justo castigo, seja precipitado no inferno para continuar a pagar com ódio e injúrias vosso amor para comigo. Ó Coração terno e fiel de Jesus, inflamai meu pobre coração, para que se abrase de amor para convosco, como Vós para comigo. Parece que de presente Vos amo, ó meu Jesus, mas amo-Vos muito pouco; dai-me que Vos ame muito e Vos seja fiel até à morte. É esta a graça que Vos peço, bem como a graça de a pedir sempre. Deixai-me morrer antes que venha novamente a trair-Vos.
“Fazei, Senhor Jesus Cristo, que nos vistamos das virtudes e nos inflamemos com os afetos de vosso Santíssimo Coração, para que mereçamos ser conformes à imagem da vossa bondade e participar do fruto da redenção.” (6) Fazei-o pelo amor de vossa e minha amada Mãe, Maria. [1]
NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO

A devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro se difundiu amplamente por volta do ano de 1870, graças ao zelo da Congregação do Santíssimo Redentor. Nas igrejas e nos lares cristãos foi exposta à veneração a popular imagem da Virgem do Socorro, com seu Filho, como fruto das missões pregadas pelos valentes padres redentoristas.
Os filhos de Santo Afonso de Ligório (1696–1787) formaram uma congregação muito devota da Santíssima Virgem. Adotaram como emblema dessa devoção a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho, a quem também tributaram especial honra os eremitas de Santo Agostinho. Em 1866, a Virgem confiou aos redentoristas o tesouro de uma de suas imagens milagrosas: Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Era uma pintura em madeira, de estilo bizantino (século XIII ou um pouco posterior), com cinquenta e dois centímetros de altura por quarenta e um de largura. A Virgem carrega em seu braço esquerdo o Menino com expressão assustada porque o arcanjo Gabriel lhe apresenta quatro cravos e uma cruz.
Essa pintura havia sido levada a Roma, por volta do fim do século XV, por um mercador de Creta, e colocada na igreja de São Mateus in Merulana, em 1499. Lá foi venerada até 1812. Nessa data, o antigo santuário foi demolido, e a imagem gloriosa permaneceu na penumbra e no segredo de um oratório dos padres agostinianos. Em 1866, sob o generalato do reverendíssimo padre Mauron, os redentoristas obtiveram de Pio IX a venerável imagem, que colocaram em sua igreja dedicada a Santo Afonso, sobre o Esquilino, entre São João de Latrão e Santa Maria Maior. Inumeráveis foram as graças obtidas por mediação desta santa imagem.
A figura da Virgem tem uma expressão grave e melancólica. Parece dizer aos que a contemplam: “Vede como meu Jesus tem medo: é por vós... e eu também tenho medo por vós... Por que não me pedis com todo o vosso coração que vos socorra?” Não é ela o auxílio dos cristãos, o “socorro dos cristãos”, como dizem as ladainhas marianas? Nossa Mãe do Céu deseja apenas vir em nosso auxílio, em todo tempo, em todo lugar.
A Congregação do Santíssimo Redentor, Paris, 1922, p. 122–123, Dunoyer, Notre Dame du Perpétuel Secours, um escrito sobre o patronato das missões e dos retiros, e sobre os milagres atribuídos à imagem, Paris 1897. N. Maurice-Denis e Robert Boulet, Rommé ou le pèlerin moderne à Rome, Paris, Desclée de Brouwer, 1935, p. 385. [2]
ORAÇÃO
Ó Mãe de Misericórdia, aplacai o Vosso Filho. Enquanto estáveis na Terra, só ocupáveis uma pequena parte dela; mas agora que estais exaltada sobre o mais alto dos Céus, todo o mundo Vos considera como propiciatório comum de todas as nações. Nós Vos suplicamos, pois, ó Virgem Santíssima, que nos concedais o socorro de Vossas preces junto a Deus. Vossos rogos nos são mais caros e preciosos que todos os tesouros da Terra. Eles fazem com que Deus seja propício para com os nossos pecados, e nos obtêm uma grande abundância de graças para recebermos o perdão e praticarmos a virtude. Vossos rogos guardam à distância nossos inimigos, confundem os seus planos e triunfam de seus esforços. Amém.
- Santo Afonso Maria de Ligório
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 2, pp. 662–663.
Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, (1921), p. 173-175.
CITAÇÕES:
(1) Ap 3, 20.
(2) Jo 14, 13.
(3) 1Cor 10, 13.
(4) Nm 23, 19.
(5) Mt 25, 23.
(6) Or. Festi.
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