Vida de São João Leonardi, São Dionísio e Santos Dinis, Rústico e Eleutério, Mártires (9 de outubro)
- Sacra Traditio

- 9 de out.
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João Leonardi trabalhava em uma farmácia de Lucca em meados do século XVI. Dotado de uma natureza muito religiosa, o jovem, membro da confraria fundada pelo Beato João Colombini, começou a estudar em particular com o objetivo de receber as ordens sagradas. Uma vez ordenado sacerdote, dedicou-se intensamente ao seu ministério, especialmente em hospitais e prisões. Pouco a pouco foram se reunindo a ele alguns jovens que o ajudavam em seu trabalho. Tinham seu centro de reunião na igreja de Santa Maria da Rosa, em Lucca, e viviam em comum em uma casa nos arredores.
Era a época em que os estragos causados pelo protestantismo e o espírito de renovação do Concílio de Trento haviam infundido nos católicos fervorosos um grande desejo de reforma. Nada há, pois, de estranho que João Leonardi e seus discípulos, vários dos quais se preparavam para o sacerdócio, tenham decidido fundar uma nova congregação de sacerdotes seculares. Mas, quando o projeto chegou aos ouvidos dos habitantes da república de Lucca, suscitou uma violenta oposição por motivos políticos que hoje nos custa compreender. De todo modo, a oposição foi suficientemente forte para obrigar São João Leonardi a viver o resto de sua vida fora de Lucca, podendo visitar a cidade apenas sob a proteção do Papa. Em 1580, comprou secretamente para os membros de sua congregação a igreja de Santa Maria Cortelandini. Três anos mais tarde, com a aprovação do Papa, o bispo de Lucca reconheceu oficialmente a congregação como uma associação de sacerdotes seculares com votos simples (o nome atual da congregação e o direito de seus membros de fazer votos solenes datam de 1621). São Filipe Néri apoiou e ajudou São João Leonardi e lhe doou suas propriedades de San Girolamo della Carità, confiando-lhe ao mesmo tempo o cuidado de seu gato. Também São José de Calasanz ajudou nosso santo, e durante algum tempo as congregações fundadas por ambos chegaram a se unir em uma só.

A congregação do Pe. Leonardi tornou-se uma força espiritual de tal importância na Itália que Clemente VIII a confirmou em 1595. Esse Pontífice tinha tanta estima pelas virtudes e capacidades de São João que o nomeou vigário apostólico encarregado de supervisionar a reforma dos monges de Valumbrosa e Monte Vergine; além disso, confiou-lhe a igreja de Santa Maria in Portico e nomeou o cardeal Baronio como protetor da congregação. O Martirológio Romano faz menção dos milagres do santo e de seu zelo pela propagação da fé. No entanto, os clérigos regulares da Mãe de Deus só chegaram a ter uma casa fora da Itália e, de acordo com os desejos de seu fundador, nunca atenderam mais de quinze igrejas. Atualmente, a congregação é muito pequena. São João Leonardi colaborou com Mons. J. B. Vives no primeiro projeto de seminário para missões estrangeiras; o Papa Urbano VIII pôs o projeto em prática em 1627, ao fundar o colégio de Propaganda Fide.
São João Leonardi contraiu a peste em 1609, quando atendia os enfermos durante uma epidemia, e morreu em outubro desse mesmo ano. Sua Festa foi incluída no calendário geral em 1941.
Existem várias biografias do santo. Veja-se, por exemplo, L. Marracci, Vita del P. Giovanni Leonardi, Lucchese (1673); A. Bianchini, Vita del B. Giovanni Leonardi (1861). As duas obras de F. Ferraironi (1938) estudam São João como fundador e como colaborador no projeto do Colégio de Propaganda Fide. Próspero Lambertini (Bento XIV) menciona frequentemente a causa de São João Leonardi no livro primeiro de sua grande obra De beatificatione. [1]

Quando São Paulo, vindo de Beréia, esperava em Atenas por Silas e Timóteo, “seu espírito se comoveu ao ver a cidade totalmente entregue à idolatria”. Isso o levou a ir ao mercado e à sinagoga para exortar o povo. Alguns filósofos epicuristas e estóicos que o ouviram pregar se aproximaram e perguntaram: “Pode nos explicar um pouco da doutrina que pregas?” Paulo então os conduziu ao Areópago ou Colina de Marte, onde costumava reunir-se o conselho da cidade. Segundo São Lucas, “todos os atenienses e estrangeiros que ali estavam dedicavam-se unicamente a contar ou ouvir novidades”. Não é impossível que São Paulo tenha ido ao Areópago a pedido do conselho. Foi ali que pronunciou seu famoso discurso sobre o Deus desconhecido. Entre os convertidos estava uma mulher chamada Damaris e um homem chamado Dionísio, apelidado de “Areopagita” (Atos, XVII, 13-34), porque era membro do conselho, ou Areópago.
Isso resume tudo o que sabemos com certeza sobre São Dionísio. Eusébio afirma que São Dionísio de Corinto foi o primeiro bispo de Atenas. São Sofronio de Jerusalém e outros autores afirmam que foi mártir. Além disso, o Menologio de Basílio acrescenta que foi queimado vivo em Atenas durante a perseguição de Domiciano. Todos os calendários antigos comemoram sua Festa em 3 de outubro. Sírios e bizantinos ainda celebram nessa data. Não existe documento anterior ao século VII que afirme que São Dionísio tenha saído da Grécia; porém documentos posteriores o mencionam em relação às cidades de Cotrone, Calábria e Paris. A identificação de São Dionísio Areopagita com São Dionísio (Denis) da França deixou marcas no Martirológio Romano e na liturgia do dia. [a] A sexta lição de maitines termina assim: “Escreveu obras admiráveis e celestiais sobre os Nomes Divinos, sobre as hierarquias eclesiásticas e celestes, assim como diversos tratados de teologia mística e outras matérias.”

Na Idade Média, cometeu-se o erro de atribuir a São Dionísio Areopagita quatro tratados e dez cartas, que do século X ao XV foram contados entre os escritos teológicos e místicos mais apreciados, tanto no Oriente quanto no Ocidente, exercendo enorme influência sobre a escolástica. A convicção crescente de que não foram escritos pelo discípulo de São Paulo, mas por um autor posterior que os atribuiu falsamente ao Areopagita, relegou-os por muito tempo. Contudo, na época moderna, devido ao valor intrínseco dessas obras, começou-se a lhes dar novamente a importância que merecem.
O longo artigo em Acta Sanctorum, com mais de 160 páginas in folio, dedica-se principalmente a provar que Dionísio convertido por São Paulo não foi o autor do livro dos Nomes Divinos e de outros tratados atribuídos a ele. No entanto, é indiscutível que o pseudo-Dionísio queria ser confundido com o Dionísio dos Atos dos Apóstolos. A primeira menção preservada desses escritos, do Sínodo de Constantinopla de 533, diz que são obra de “Dionísio o Areopagita”; mas já então Hipácio alegou que eram falsificações. Existe vasta literatura sobre as obras do pseudo-Dionísio, mas o autor nunca foi identificado. Ele afirma ter presenciado o eclipse solar durante a crucificação do Senhor e a morte da Virgem Maria; ambas afirmações são falsas. Cf. P. Peeters, Analecta Bollandiana, vol. XXX (1910), pp. 302-322; o autor conclui de forma desfavorável sobre a honestidade literária de Hilduíno, abade de Saint-Denis, que traduziu pela primeira vez ao latim as obras do pseudo-Dionísio, embora não tenha sido o primeiro a identificá-lo com São Dionísio de Paris. Veja G. Théry, Études dionysiennes (2 vols., 1932-1937); e R. J. Loenertz, Analecta Bollandiana, vol. LXXX (1951), pp. 218-237. [2]

São Gregório de Tours, que escreveu no século VI, relata que São Dionísio de Paris nasceu na Itália. No ano 250, foi enviado com outros bispos missionários às Gálias, onde sofreu o martírio. O Hieronymianum menciona São Dionísio em 9 de outubro, junto com os Santos Rústico e Eleutério. Alguns autores posteriores afirmam que Rústico e Eleutério eram, respectivamente, o sacerdote e o diácono de São Dionísio; que se estabeleceram com ele em Lutécia Parisiorum (Paris) e introduziram o Evangelho na ilha do Sena. Devido às numerosas conversões que realizavam com sua pregação, foram presos; após longo tempo de cativeiro, os três morreram decapitados. Os corpos dos mártires foram lançados ao Sena, mas os cristãos conseguiram resgatá-los e lhes deram honrosa sepultura. Mais tarde, construiu-se sobre seu túmulo uma capela, junto à qual se ergueu a grande abadia de Saint-Denis.
Essa abadia foi fundada pelo rei Dagoberto I, que morreu no ano 638. Provavelmente um século mais tarde começou a difundir-se a identificação de Dionísio Areopagita com o bispo de Paris, ou, pelo menos, a ideia de que São Dionísio de Paris havia sido enviado pelo Papa Clemente I no primeiro século. Tal ideia, contudo, só se popularizou na época de Hilduíno, abade de Saint-Denis. No ano 827, o imperador Miguel II presenteou o imperador do Ocidente, Luís, o Piedoso, com uma cópia de certos escritos atribuídos a São Dionísio Areopagita (veja-se nosso artigo sobre este santo). Infelizmente, esses escritos chegaram à abadia de Saint-Denis justamente na véspera da Festa do santo. Hilduíno os traduziu para o latim e, alguns anos depois, quando o rei lhe pediu uma biografia de São Dionísio de Paris, o abade escreveu um livro que acabou convencendo a cristandade de que o bispo de Paris e o Areopagita eram a mesma pessoa. Em sua obra intitulada Areopagitica, o abade Hilduíno utilizou muitos materiais falsos ou de pouco valor, sendo difícil crer que o tenha feito de boa-fé.

O Areopagita vai a Roma, onde o Papa São Clemente I o recebe pessoalmente e o envia a evangelizar Paris. Os habitantes de Paris tentam em vão matá-lo — lançando-o às feras, ao fogo e até crucificando-o — até que, finalmente, Dionísio morre decapitado em Montmartre, junto com Rústico e Eleutério. O corpo decapitado de São Dionísio, guiado por um anjo, caminhou três quilômetros desde Montmartre até a abadia que leva seu nome, carregando nas mãos sua própria cabeça e cercado por coros de anjos; por isso, foi sepultado em Saint-Denis. O Breviário Romano menciona essa série de milagres.
O culto de São Dionísio foi muito popular na Idade Média. Já no século VI, Fortunato o reconhecia como Padroeiro de Paris (Carmina, VII, 3, 159), e o povo o considera até hoje protetor da França.
Em Acta Sanctorum, outubro, vol. IV, há um extenso artigo sobre São Dionísio. O relato mais antigo do martírio foi erroneamente atribuído a Venâncio Fortunato; B. Krusch, MGH, Auctores Antiquissimi, vol. IV, parte 2, pp. 101–105, fez uma edição crítica desse relato, no qual São Dionísio não é identificado com o Areopagita, mas é dito que foi enviado a Paris por São Clemente I. Veja-se nosso artigo sobre o Areopagita; e cf. J. Havet, Œuvres, vol. I, pp. 191–246; G. Kurth, em Études Franques, vol. I, pp. 297–317; L. Levillain, em Bibliothèque de l’École des Chartes, vol. LXXXIII (1921), pp. 5–116; vol. LXXXVI (1925), pp. 5–97; Leclercq, em D.A.C., vol. IV, cols. 588–606; e E. Griffe, La Gaule Chrétienne (1947), pp. 89–99. Há um bom resumo em Baudot e Chaussin, Vies des Saints..., vol. X (1952), pp. 270–288. [3]
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 4, pp. 66-67.
Ibid. pp. 67-68.
Ibid. pp. 69-70.
Notas:
a. Alban Butler não se atreveu a admitir abertamente essa identificação. Em uma nota, escreve: “Hilduíno..., baseando-se em documentos falsos e lendários, afirma que São Dionísio, o primeiro bispo de Paris, se identifica com o ‘Areopagita’. Em alguns outros escritos também se encontram vestígios do mesmo erro.” Nos séculos IX a XV, a identidade dos dois personagens não era questionada no Ocidente.


























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