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Vida de São Raimundo Nonato e Santo Edano de Lindisfarne (31 de agosto)

Atualizado: há 2 dias



"São Raimundo Nonato" (1640) por Antonio del Castillo, coleção do Museo Camón Aznar, Saragoça.
"São Raimundo Nonato" (1640) por Antonio del Castillo, coleção do Museo Camón Aznar, Saragoça.

A vida de São Raimundo está envolta em um mistério impenetrável por falta de documentos fidedignos, de sorte que não se pode aceitar sem reservas a narração de Alban Butler, que resumimos a seguir.


São Raimundo nasceu em Portell, cidade da Catalunha, em 1204. Recebeu o sobrenome de non natus (não nascido), porque sua mãe morreu no parto antes que a criança visse a luz. Com a permissão de seu pai, o santo ingressou na Ordem dos Mercedários, que acabava de ser fundada. São Pedro Nolasco recebeu a profissão de Raimundo em Barcelona.


Progrediu tão rapidamente na virtude que, dois ou três anos depois de professar, sucedeu a São Pedro Nolasco no cargo de “redentor ou resgatador de cativos”. Enviado ao norte da África com uma soma considerável de dinheiro, Raimundo resgatou em Argel numerosos escravos. Quando lhe acabou o dinheiro, ofereceu-se como refém pela liberdade de certos prisioneiros cuja situação era desesperadora e cuja fé estava em grave perigo. Mas o sacrifício de São Raimundo apenas exasperou os infiéis, que o trataram com terrível crueldade. Entretanto, o magistrado principal, temendo que, se o santo morresse às mãos de seus compatriotas, não se pudesse obter a soma estipulada pela liberdade dos prisioneiros que representava, ordenou que fosse tratado mais humanamente. Assim, o santo pôde sair às ruas, o que aproveitou para confortar e animar os cristãos, além de converter e batizar alguns muçulmanos. Ao saber disso, o governador condenou-o a morrer empalado, mas os interessados em receber a soma do resgate conseguiram que a pena de morte fosse comutada pela da flagelação. São Raimundo, longe de perder o ânimo, prosseguiu na tarefa de socorrer todos os que se achavam em perigo, sem deixar escapar a menor ocasião de ajudá-los.


“Martírio de São Raimundo Nonato”, por Vicente Carducho.
“Martírio de São Raimundo Nonato”, por Vicente Carducho.

Mas, por um lado, São Raimundo já não tinha um só centavo para resgatar cativos e, por outro, pregar o cristianismo aos islamitas equivalia à pena de morte. O único que podia fazer era fechar os olhos e lançar-se ao martírio. Assim, voltou a instruir e exortar tanto os cristãos como os infiéis. O governador, enfurecido com tamanha contumácia, ordenou que o santo fosse açoitado em todas as esquinas da cidade e que lhe perfurassem os lábios com um ferro em brasa[1] através dos quais foi puxada uma pequena corrente e fechada com um cadeado, para que o santo homem não usasse mais a língua para instruir os outrosA cada três dias o cadeado era aberto, e ele apenas recebia comida suficiente para não morrer de fome. Além disso, foi carregado de correntes e lançado numa prisão, onde permaneceu durante oito meses [neste estado], até a chegada do seu resgate.[2]

Finalmente, São Pedro Nolasco enviou alguns membros de sua ordem para resgatá-lo. São Raimundo teria querido permanecer para assistir aos escravos na África; no entanto, obedeceu à ordem de seu superior e pediu a Deus que aceitasse suas lágrimas, já que não o havia considerado digno de derramar o sangue pelas almas de seus próximos.


De volta à Espanha, em 1239, foi nomeado cardeal por Gregório IX, mas permaneceu tão indiferente a essa honra que não havia buscado, que não mudou nem seus vestidos, nem sua pobre cela do convento de Barcelona, nem sua maneira de viver. O Papa chamou-o mais tarde a Roma. São Raimundo obedeceu, mas empreendeu a viagem como o mais humilde dos religiosos. Deus dispôs que chegasse apenas até Cardona, a uns dez quilômetros de Barcelona, onde foi surpreendido por uma violenta febre que o levou à sepultura.


Desejava ardentemente receber os santos sacramentos, mas como o sacerdote chamado para administrá-los demorava a chegar, Deus enviou um anjo que lhe trouxe o Alimento Divino. Depois de recebê-lo, agradeceu a Deus por todas as graças recebidas ao longo da vida e entregou pacificamente sua alma, aos 37 anos de idade. [3] Foi sepultado na capela de São Nicolau de Portell. O Martirológio Romano começou a mencionar seu nome em 1657. São Raimundo Nonato é Padroeiro das Parturientes, devido às circunstâncias de seu nascimento.


No dia 28 de janeiro, falando de São Pedro Nolasco, notamos quão pouco fidedignas são as fontes mercedárias que se referem à fundação e primeiros anos da ordem. Os bolandistas não conseguiram descobrir nenhum documento autêntico sobre São Raimundo e acabaram publicando o relato escrito por Ciacconius (século XVI), em sua série de biografias dos cardeais. A falta de documentos não melhorou até hoje. Tudo o que podemos dizer é que, nos séculos XVII e XVIII, vieram à luz muitas biografias de São Raimundo Nonato, geralmente pouco volumosas, como as de Dathia, Echevérez, Eyto, Juan de la Presentación, P. E. Menéndez, F. T. de Miranda, M. Ulate e outros. Essas biografias, publicadas com a devida aprovação eclesiástica, repetem pouco mais ou menos o que dissemos em nosso artigo e acrescentam inúmeros milagres. Veja-se Gams, Kirchengeschichte von Spanien, vol. II, parte I. A comissão nomeada pelo Papa Bento XIV propôs suprimir esta festa do calendário geral. [4]




Iluminura de Edano de Lindisfarne, como nos Evangelhos de Lindisfarne.
Iluminura de Santo Edano de Lindisfarne, como nos Evangelhos de Lindisfarne.

Quando São Osvaldo recebeu a coroa da Nortúmbria no ano 634, pediu aos monges de Iona que enviassem um bispo para pregar o Evangelho a seus súditos. O primeiro missionário mostrou-se rude e austero, incapaz de fazer bem aos pagãos. Assim, retornou ao seu mosteiro, culpando a dureza e a indocilidade dos ingleses. Os monges reuniram um sínodo para deliberar sobre o que fazer. Santo Edano, que estava presente, disse claramente ao missionário que o fracasso fora dele [do primeiro missionário], e não dos ingleses, pois havia se mostrado duro com os ignorantes, quando deveria nutri-los com o “leite” de uma doutrina mais suave, até que estivessem preparados para alimentos mais sólidos. Os olhos da assembleia se voltaram para ele, e, vendo sua prudência, escolheram-no para a missão.


Edano era originário da Irlanda e, segundo se diz, discípulo de São Senán na ilha de Scattery. É tudo o que se sabe dele até entrar no mosteiro de Iona. O rei Osvaldo o acolheu com bondade e designou a ilha de Lindisfarne como sede episcopal. São Beda fala com entusiasmo de sua humildade e piedade. Aqueles que viajavam com ele deviam ocupar os descansos na leitura da Bíblia e na memorização dos Salmos. Sempre viajava a pé. Distribuía entre os pobres todos os presentes que recebia do rei e dos nobres, mostrando que não buscava riquezas.


Raramente ia comer com o rei e, quando o fazia, levava dois clérigos e voltava logo ao trabalho. Beda ressalta a liberdade apostólica com que corrigia os poderosos, além da paz, caridade, continência e virtudes que transmitia a uma nação bárbara. “Era um bispo que amava ardentemente a bondade, distinguindo-se pela mansidão e moderação. Estava cheio de zelo pela causa de Deus, embora sua ciência não igualasse seu fervor” (alusão à prática celta sobre a data da Páscoa). Era, porém, o homem necessário após Penda e Cadwallon terem arruinado grande parte da obra de São Paulino.


Milagres confirmaram sua pregação. Beda relata três deles e testemunha, trinta anos depois, a eficácia do apostolado: monges e clérigos eram recebidos com alegria, o povo corria ao seu encontro pedindo bênçãos, reunia-se nas igrejas aos domingos e ouvia com entusiasmo a Palavra de Deus. Os sacerdotes só iam aos povoados para pregar, visitar enfermos e cuidar das almas. Viviam sem cobiça, sem buscar terras, aceitando mosteiros apenas por ordem das autoridades.


O centro de sua atividade era Lindisfarne (atual Ilha Santa), onde fundou um mosteiro sob a regra de São Columba. Por isso é chamada a “Iona inglesa”, pois dali partiu o movimento que derrotou o paganismo na Nortúmbria. Dom Gougaud cita Lightfoot: “O verdadeiro apóstolo da Inglaterra não foi Santo Agostinho, mas Santo Edano” — ao menos no norte. Bispo por dezessete anos, teve como sucessor mais famoso São Cuteberto. Educou doze jovens ingleses, dedicou-se a crianças e escravos, libertando muitos com esmolas recebidas. São Osvaldo e depois São Oswino o apoiaram, até que este último foi assassinado em 651. Onze dias depois, Santo Edano morreu no castelo de Bamburgh, apoiado no muro da igreja. Foi sepultado em Lindisfarne e depois trasladado para a igreja de São Pedro. Suas relíquias certamente foram removidas durante as invasões dinamarquesas.


Seu nome está no Martirológio Romano, e sua festa é celebrada em várias dioceses da Inglaterra, em Argyll e nas Ilhas. Praticamente tudo o que sabemos vem de São Beda em sua História Eclesiástica. [5]


Referência:


  1. Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 3,"SÃO RAIMUNDO NONATO", pp. 448–449. (levemente adaptado).

  2. Lives of the saints: compiled from authentic sources with a practical instruction on the life of each saint, for every day in the year, v. 2. New York: P. O’Shea, 1876, p. 275ss. (Levemente adaptado).

  3. Ibid. p. p. 275.

  4. Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 3,"SÃO RAIMUNDO NONATO", p. 449.

  5. Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 3,"SANTO EDANO", p. 450-452.


REZE O ROSÁRIO DIARIAMENTE!


1 comentário


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“O ROSÁRIO
é a
ARMA
para esses tempos.”

Padre Pio
 

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Enquanto a modéstia não for colocada em prática a sociedade vai continuar a degradar, a sociedade fala o que é pelas roupas que veste.

- Papa Pio XII
 

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A castidade faz o homem semelhante aos anjos.”
- São Gregório de Nissa
 

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O sofrimento de Jesus na Cruz nos ensina a suportar com paciência nossas cruzes,
e a meditação sobre Ele é o alimento da alma.”


Santo Afonso MARIA de Ligório

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