Vida de São Osvaldo da Northúmbria e a Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior (5 de agosto)
- Sacra Traditio

- 5 de ago.
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Hoje se celebra a dedicação da terceira das basílicas patriarcais do interior de Roma. Originalmente chamada de “Basílica Liberiana”, porque havia sido construída na época do Papa Libério, em meados do século IV. Mais tarde, no ano 435, foi restaurada e recebeu o nome de Santa Maria Maior, por ser, em dignidade e antiguidade, a primeira das igrejas da Cidade Eterna consagradas à Mãe de Deus. Nos livros litúrgicos, é chamada de “Santa Maria das Neves”, já que, segundo uma tradição popular, a Mãe de Deus manifestou que desejava que lhe fosse erguida uma igreja naquele local, mediante uma nevasca milagrosa em pleno verão. Também apareceu a um patrício chamado João, que fundou e dotou com grande munificência a referida igreja, durante o pontificado de Libério, no local do Esquilino onde caíra a neve. A primeira menção que se conhece desse milagre data de um século após os acontecimentos. Atualmente, admite-se que se trata de um simples mito. A comissão para a reforma do Breviário recomendou, em 1742, ao Papa Bento XIV, que restituísse a esta festa o nome original de “Dedicação de Santa Maria”; mas isso só foi feito no Calendário Beneditino (1915). A basílica também é conhecida como “Santa Maria ad praesepe”, porque nela se conserva a suposta relíquia da manjedoura de Belém na qual repousou o Senhor ao nascer.

Ver H. Grisar, Analecta Romana (1900), p. 70, e Geschichte Roms und der Päpste (1901); Duchesne, Liber Pontificalis, vol. 1, p. 232, 235; CMH., p. 418. Ambos os autores insistem, com razão, que a inscrição de Sisto III para comemorar a dedicação da basílica não faz qualquer menção à nevasca milagrosa. Embora o original dessa inscrição não se conserve, o texto é muito conhecido; pode-se vê-lo em De Rossi, Inscriptiones Christianae, vol. II, pp. 71, 98, 139, com a nota de rodapé de Duchesne. Cf. nosso artigo sobre São Sisto III (19 de agosto). [1]

Quando São Edwino pereceu no ano de 633 numa batalha contra Penda e Cadwallon, seu sobrinho Osvaldo decidiu prosseguir a obra de Edwino e tomar posse das regiões da Nortúmbria. Osvaldo havia se convertido sinceramente ao cristianismo; assim, em vez de trair a Cristo para conquistar seus súditos, como haviam feito seus desventurados irmãos, fez tudo quanto pôde para ganhá-los à causa de Cristo. Enquanto Cadwallon saqueava as províncias da Nortúmbria, Osvaldo reuniu um exército relativamente pequeno e saiu valentemente ao encontro do inimigo. O confronto entre os dois exércitos teve lugar no ano 634, a cerca de cinco quilômetros de Hexham, perto de Rowley Burn. Na véspera da batalha, Osvaldo mandou fazer uma grande cruz de madeira, fincou-a na terra e a segurou enquanto seus homens enchiam de terra o buraco onde ela fora colocada. Uma vez feito isso, São Osvaldo gritou a seus soldados, entre os quais havia apenas um punhado de cristãos: “Prostremo-nos juntos para pedir ao Deus verdadeiro e onipotente que nos defenda misericordiosamente de nossos inimigos, já que lutamos pela defesa de nossa vida e de nossa pátria”. Todos os soldados se ajoelharam. Naquela mesma noite, Osvaldo sonhou que São Columba de Iona estendia seu manto sobre os soldados adormecidos e lhe prometia a vitória para o dia seguinte. E assim aconteceu, de fato. Deus abençoou Osvaldo, cujas tropas derrotaram o numeroso exército de Cadwallon; este último pereceu na refrega. Como observa Beda, foi um bom sinal que se chamasse ao lugar onde se havia plantado a cruz de “Campo Celeste”, (embora tal nome date de uma época posterior). A cruz foi o primeiro sinal de cristianismo na região, pois até então jamais se havia visto um altar ou uma igreja no reino dos Bernícios. Com o tempo, tornou-se muito famosa a cruz de São Osvaldo. Na época de São Beda, os enfermos costumavam beber água na qual havia sido mergulhado um fragmento dessa cruz, e muitos recuperavam a saúde. Após a morte do rei Osvaldo, os monges de Hexham tinham o costume de ir ao “Campo Celeste” na véspera do aniversário da morte do monarca; cantavam ali, à noite, o ofício divino e, no dia seguinte, celebravam a missa. Pouco depois de que Beda escreveu esses detalhes, ergueu-se ali uma igreja.
São Osvaldo consagrou-se imediatamente a restabelecer a ordem em seus domínios e a implantar neles o cristianismo. Como era natural, para a obra de evangelização, pensou na Escócia e não em Cantuária, pois foi ali que se converteu ao cristianismo. Da Escócia lhe enviaram, portanto, um bispo e vários sacerdotes para que pregassem e batizassem seu povo. São Aidano, um monge de Iona originário da Irlanda, foi o escolhido para essa árdua empresa. Esse santo conseguiu reparar, com sua mansidão, o mal causado por outro monge que o precedera, o qual tratava o povo com tanta rudeza que, em vez de atraí-lo, o afastara da fé que pregava. O rei fixou a sede de Aidano na ilha de Lindisfarne. Como o novo bispo não conhecia suficientemente o inglês, o monarca serviu-lhe pessoalmente de intérprete, a princípio, traduzindo ao povo seus sermões e instruções. “A partir de então, muitos escoceses (irlandeses) foram à Inglaterra pregar com grande fervor nos domínios do rei Osvaldo... Construíram-se numerosas igrejas; o povo se reunia para escutar os pregadores; o rei doava terras e dinheiro para a construção de mosteiros, e os ingleses, tanto nobres como plebeus, aprenderam as regras e os costumes da disciplina regular, pois quase todos os pregadores eram também monges”. (Beda)

Ao mesmo tempo em que governava seu reino temporal, Osvaldo orava e trabalhava por ganhar a coroa eterna, e como orava e dava graças continuamente, dizia-se que se sentava sempre com as mãos sobre os joelhos e as palmas voltadas para o céu. O reino da Nortúmbria se estendia naquela época até Firth of Forth, e o poder de Osvaldo chegou a ser tão grande, que os outros reis da Inglaterra o consideravam nominalmente como seu senhor. Por isso, São Adamnán, em sua vida de São Columba, chama Osvaldo de “Imperador da Grã-Bretanha”. Beda narra o seguinte exemplo da caridade do monarca em meio a tanta prosperidade: num dia de Páscoa, no momento em que se sentava para comer, um oficial lhe disse que havia à porta uma grande multidão de pobres pedindo esmolas. O rei mandou dar-lhes uma enorme bandeja de prata cheia de carne e ordenou que se desse a cada um uma porção da carne e um fragmento do prato. Então São Aidano, que estava com o rei, tomou-lhe a mão direita e disse: “Guarde Deus para sempre esta mão”. Depois da morte de São Osvaldo, cortaram-lhe o braço direito, o qual permaneceu incorrupto, pelo menos até a época de Simeão de Durham († c. 1136), no mosteiro de Peterborough. São Osvaldo casou-se com Cineburga, filha de Cinigildo, o primeiro rei cristão de Wessex. Osvaldo fora padrinho de batismo de seu sogro. Cineburga e Osvaldo tiveram um filho, Etelwoldo, que foi rei de Deira e pouco honrou a memória de seu pai.

Alguns anos depois da ascensão de Osvaldo ao trono, estourou uma guerra contra o pagão Penda da Mércia e seus aliados. O conflito prolongou-se até a batalha de Maserfield, onde foi derrotado o pequeno exército de São Osvaldo, que pereceu na luta. Quando se viu cercado de inimigos, Osvaldo fez a última oração pelas almas de seus soldados. Tal foi a origem do provérbio que diz: “Senhor, tende misericórdia de suas almas, como disse São Osvaldo ao morrer”. A batalha de Maserfield teve lugar em 5 de agosto de 642; Osvaldo tinha trinta e oito anos. Suas relíquias foram distribuídas entre diversos santuários. Beda conta alguns dos milagres que lhes eram atribuídos. Era muito natural que aquele monarca que tanto se preocupara em vida com os pobres e os enfermos lhes restituísse a saúde depois de sua morte. Antigamente venerava-se São Osvaldo como herói nacional da Inglaterra, e seu culto se popularizou na Escócia, Irlanda, Portugal, norte da Itália, Boêmia, sul da Alemanha e Suíça. O santo é padroeiro de Zug, na Suíça. Seu culto decaiu um tanto, mas sua festa ainda é celebrada em várias dioceses da Inglaterra. Em Argyll, possui missa própria. Em Meissen e Tréveris, assim como na Inglaterra, sua festa se celebra em 9 de agosto; mas o Martirológio Romano o menciona no dia 5.
Praticamente tudo o que sabemos sobre São Osvaldo procede da História Eclesiástica de Beda. No entanto, C. Plummer enumera várias biografias posteriores (vol. II, p. 161). Nos Acta Sanctorum, agosto, vol. II, pode-se ver a que escreveu Drogo no século XI; a de Reginaldo de Durham encontra-se na edição feita por Arnold das obras de Simeão de Durham (Rolls Series). Plummer (pp. 159–160) estuda o culto de São Osvaldo na Europa Central. As notas do mesmo autor ao texto de Beda são importantes, assim como as da edição feita por Mayor e Lumby (1881). Sobre o culto do santo na Suíça, cf. o artigo de E. P. Baker em Archaeologia, vol. XCIII (1949), pp. 103–123; quanto ao norte da Itália, veja-se outro artigo do mesmo autor em Archaeologia, vol. XCIV (1951), pp. 167–194. [2]
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 3, pp. 267.
Ibid. pp. 270-272.


























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