Vida do Beato Pedro Julião Eymard e A Invenção de Santo Estevão (3 de agosto)
- Sacra Traditio

- 3 de ago.
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Atualizado: 8 de ago.
A INVENÇÃO DE SANTO ESTÊVÃO (415 d.C.)

A Igreja instituiu esta segunda festa do protomártir Santo Estêvão para comemorar a descoberta de suas relíquias, juntamente com as de Gamaliel, Nicodemos e Abibas. A descoberta foi feita pelo sacerdote Luciano, em Gamala da Palestina, em dezembro do ano 415. Segundo o relato que se atribui a Luciano, em um sonho ou visão que ele e o monge Migécio tiveram, foi-lhes revelado o local onde se encontravam as relíquias. Alban Butler narra os fatos com certo detalhe, mas não reproduziremos aqui seu relato, pois nada acrescenta ao que já sabemos sobre Santo Estêvão, e os estudiosos se inclinam, cada vez mais, a rejeitar a hipótese da revelação sobrenatural de Luciano e Migécio. O Pe. Delehaye e outros autores supõem que a descoberta foi obra do acaso e que Luciano a “dramatizou” alguns anos depois, conforme o costume da hagiografia da época.
As relíquias foram distribuídas por todo o mundo, o que contribuiu muito, direta e indiretamente, para propagar o culto de Santo Estêvão. Deus realizou numerosos milagres por intercessão do protomártir. Santo Evódio, bispo de Uzala, na África, e Santo Agostinho, nos deixaram a descrição de muitos desses milagres. Santo Agostinho disse em um sermão: “É justo que desejemos obter por sua intercessão os bens temporais, de modo que, imitando o mártir, alcancemos finalmente os bens eternos.” Com efeito, Deus não Se fez homem para remediar os males temporais, mas, apesar disso, durante sua vida mortal curou os enfermos, libertou os possuídos e socorreu os miseráveis, a fim de nos dar uma prova sensível de seu poder divino e um sinal de que viera para nos libertar das enfermidades espirituais.
Por um "Motu Proprio" do [antipapa] João XXIII, datado de 25 de julho de 1960, esta festa foi suprimida do Calendário Romano.
O texto mais fidedigno da narração de Luciano é a tradução latina feita por Avito. Pode-se encontrá-lo, por exemplo, nas obras de Santo Agostinho (Migne, PL, vol. XL, col. 805-816). Existem também traduções em grego, siríaco, armênio e eslavônio antigo. Luciano conta a história da descoberta das relíquias; entre os anos de 1900 a 1908 discutiu-se muito sobre os locais de Jerusalém que ele cita. Cf. Revue de l’Orient chrétien, vol. XXX; e o artigo do Pe. Peeters em Analecta Bollandiana, vol. XXVII (1908), pp. 359-368. Ver também F. M. Abel, La légende apocryphe de S. Étienne (1931), e H. Delehaye, Origines du culte des martyrs (1933), pp. 80-82. Sobre os milagres de Uzala, cf. Delehaye, Analecta Bollandiana, vol. XLIX (1925), pp. 74-85. Quanto à razão pela qual se comemora a descoberta em 3 de agosto, cf. Analecta Bollandiana, vol. XLIX (1931), pp. 22-30. No Dictionnaire d’Archéologie Chrétienne, vol. V, col. 624-671, há um artigo muito completo de H. Leclercq, com abundantes referências. A comissão nomeada por Bento XIV já havia proposto a supressão desta festa. [1]
BEATO PEDRO JULIÃO EYMARD, FUNDADOR
DOS SACERDOTES DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO (1868 d.C.)

Pedro Julião nasceu em 1811 em La Mure d'Isère, um vilarejo da diocese de Grenoble. Seu pai era um fabricante de facas. O jovem trabalhou algum tempo com ele, e mais tarde, em uma prensa de óleo, até completar dezoito anos. Nas horas de descanso, estudava latim e recebia lições de um sacerdote de Grenoble, na casa do qual trabalhou por algum tempo. Em 1831, ingressou no seminário de Grenoble, onde recebeu a ordenação sacerdotal três anos depois. Passou os primeiros cinco anos de ministério paroquial em Chatte e Monteynard. Seu bispo, Dom de Bruillard, expressou perfeitamente o que os fiéis pensavam do Pe. Eymard, quando este lhe pediu permissão para ingressar na congregação dos maristas: “A melhor prova de estima que posso dar a essa congregação é permitir que um sacerdote como vós ingresse nela.” Ao terminar o noviciado, Pedro Julião foi nomeado diretor espiritual do seminário menor de Belley. Em 1845 foi eleito provincial de Lyon. A devoção ao Santíssimo Sacramento foi sempre o centro de sua vida espiritual. “Sem Ele”, dizia o santo, “eu perderia minha alma.” Durante uma procissão de Corpus Christi, enquanto carregava o Santíssimo Sacramento em suas mãos, teve uma experiência extraordinária que relatou assim: “Minha alma se inundou de fé e de amor por Jesus no Santíssimo Sacramento. As duas horas passaram como um instante. Coloquei aos pés do Senhor a Igreja da França, o mundo inteiro, a mim mesmo. Meus olhos estavam cheios de lágrimas, como se meu coração fosse um lagar. Eu quisera naquele momento que todos os corações estivessem unidos ao meu e se inflamassem com um zelo como o de São Paulo.”
Em 1851, o Pe. Eymard fez uma peregrinação ao santuário de Nossa Senhora de Fourvières: “Obcecava-me a ideia de que não existisse nenhuma congregação consagrada a glorificar o Santíssimo Sacramento, com uma dedicação total. Devia existir tal congregação... Então prometi a Maria trabalhar com esse objetivo. Tratava-se ainda de um plano muito vago e não me passava pela cabeça abandonar a Companhia de Maria... Que horas maravilhosas passei ali!” Os superiores lhe aconselharam adiar a execução de seus projetos, até que estivessem perfeitamente amadurecidos. O sacerdote passou quatro anos em La Seyne. Encorajado por Pio IX e pelo Venerável Jean Colin, fundador dos maristas, decidiu finalmente sair da Companhia de Maria para fundar a nova congregação. Em 1856, com a aprovação do superior geral dos maristas, apresentou a Dom de Sibour, arcebispo de Paris, seu plano de fundar uma congregação de sacerdotes adoradores do Santíssimo Sacramento. Após doze dias de angustiosa espera, recebeu a aprovação de Dom Sibour, que lhe cedeu uma casa. Nela se instalou Pedro Julião com seu primeiro companheiro. No dia 6 de janeiro de 1857 expôs pela primeira vez na capela da casa o Santíssimo Sacramento e pregou a um auditório numeroso.

Os primeiros membros da Congregação do Santíssimo Sacramento foram os Padres de Cuers e Champion. A exposição do Santíssimo ocorria três vezes por semana. Os progressos foram lentos: muitos eram os chamados, mas poucos os escolhidos, e as dificuldades abundavam. Os membros da congregação foram obrigados a mudar de residência. Em 1858 conseguiram uma capelinha no subúrbio de Saint-Jacques. Deus derramou ali suas graças com tal intensidade durante nove anos, que o Pe. Eymard costumava chamar aquele lugar de “a capela dos milagres”. No ano seguinte, Pio IX emitiu um breve em louvor à congregação. Foi inaugurada a segunda casa em Marselha. Em 1862 foi aberta a terceira casa em Angers. Já havia então membros suficientes para estabelecer um noviciado regular, e a congregação começou a se expandir rapidamente. Os sacerdotes rezam o ofício divino em coro e exercem os ministérios pastorais; seu fim principal é a adoração do Santíssimo Sacramento, auxiliados pelos irmãos leigos. Em 1852, o Pe. Eymard fundou a congregação das Servas do Santíssimo Sacramento, dedicadas à adoração perpétua e a propagar o amor ao Senhor. Fundou também a Liga Eucarística Sacerdotal, cujos membros se comprometem a passar diariamente uma hora em oração diante do Santíssimo. Mas o Pe. Eymard não se limitou a trabalhar entre sacerdotes e religiosos. Assim, fundou a “Obra dos Adultos”, destinada a preparar para a primeira comunhão homens e mulheres que, por motivo de idade ou de trabalho, não podiam frequentar o catecismo paroquial; organizou a Arquiconfraria do Santíssimo Sacramento, tão estimada pela Igreja, que o direito canônico ordena que seja estabelecida em todas as paróquias. Como se tudo isso fosse pouco, o santo escreveu várias obras sobre a Eucaristia, que foram traduzidas para diversos idiomas.
Uma das maiores dificuldades com que teve que se confrontar o Pe. Eymard foram as críticas recebidas no início, por abandonar a Companhia de Maria, já que seus detratores se opunham à fundação da nova obra. O santo costumava desculpá-los: “Não compreendem a obra e pensam que fazem bem em opor-se a ela. Já sabia eu que a obra seria perseguida. Acaso o Senhor não foi perseguido durante sua vida?” Houve, além disso, outras dificuldades e decepções; mas a Santa Sé aprovou finalmente a congregação ainda em vida de seu fundador, como dissemos antes, e confirmou-a “in perpetuum” em 1895. O Pe. Eymard possuía um espírito de piedade muito comunicativo. Sempre que ia a La Mure, fazia três “visitas”: uma à pia em que fora batizado, outra ao altar em que recebeu a primeira comunhão e outra ao túmulo de seus pais. Em 1867 escrevia: “Durante anos acalentei o sonho de visitar minhas queridas regiões de Chatte e Saint-Romans”, que foram o cenário de seus primeiros ministérios. As pessoas consideravam o Pe. Eymard como um santo e, na realidade, sua santidade se manifestava em tudo: em sua vida diária, em suas virtudes, em suas obras, em seus dons sobrenaturais. Em diversas ocasiões adivinhou os pensamentos de pessoas ausentes; com frequência lia nos corações e, mais de uma vez, teve visões proféticas. São João Batista Vianney, que o conheceu pessoalmente, disse dele: “É um santo. O mundo se opõe à sua obra porque não a conhece, mas trata-se de uma empresa que realizará grandes coisas para a glória de Deus. Adoração sacerdotal, que maravilha! ... Dizei ao Pe. Eymard que rezarei diariamente por sua obra.”

Durante os últimos quatro anos de sua vida, Beato Pedro Julião foi afligido pela gota reumática, sofreu de insônia, e a seus sofrimentos somaram-se enormes dificuldades exteriores. Por uma vez, deixou transparecer o desânimo que o assaltava. O Pe. Mayet escreveu em 1868: “Abriu-nos seu coração e nos disse: ‘Estou esmagado sob o peso da cruz, aniquilado, desfeito.’” Precisava do consolo de um amigo, pois, segundo nos explicou: “Tenho que levar a cruz totalmente sozinho para não assustar ou desanimar meus irmãos.” Já pressentia sua morte próxima; assim, quando sua irmã lhe rogou que voltasse com mais frequência a La Mure, replicou: “Voltarei mais cedo do que imaginas.” A conversa teve lugar em fevereiro. O Pe. Eymard foi visitar seus amigos e penitentes, falando-lhes como se fosse a última vez que os via. Em julho, vendo se aproximar o fim, seu médico lhe ordenou que saísse de Paris imediatamente. No dia 21 daquele mês, o padre Eymard saiu de Grenoble rumo a La Mure. O dia estava muito quente e, ao chegar ao destino, já havia quase perdido os sentidos e sofria um ataque de paralisia parcial. Sua morte ocorreu em 1º de agosto. Antes do fim daquele ano, já se haviam realizado vários milagres em seu túmulo. Sua beatificação ocorreu em 1925.
Lady Herbert, “The Priest of the Eucharist” (1898), constitui um breve esboço biográfico. Na coleção “Les Saints” (1925) há uma excelente biografia, escrita por J. M. Lambert. São também muito completas a biografia francesa de F. Trochu (1949) e a italiana de P. Fossati (1925). Cf. A. Bettinger, “Pierre Julien Eymard et sa méthode d’adoration” (1927). [2]
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 3, pp. 255–256.
Ibid. pp. 256-258.


























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