Vida de São Francisco de Borja e São Paulino de York (10 de outubro)
- Sacra Traditio

- 10 de out.
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Atualizado: 12 de out.

A família Borja, uma das mais célebres do reino de Aragão, tornou-se famosa em todo o mundo quando Afonso Bórgia foi eleito Papa com o nome de Calisto III. No final do mesmo século, houve outro Papa Bórgia, Alexandre VI, que já tinha quatro filhos quando subiu ao pontificado. Para dotar seu filho Pedro, comprou o ducado de Gandia, na Espanha. Pedro o legou a seu filho João, que foi assassinado pouco depois do casamento. Seu filho, o terceiro duque de Gandia, casou-se com a filha natural de um filho de Fernando V de Aragão. Desse casamento nasceu, em 1510, Francisco de Bórja e Aragão, nosso santo, neto de um Papa e de um rei e primo de Carlos V.
Francisco ingressou na corte deste último, após concluir seus estudos, aos dezoito anos. Nessa época, ocorreu um incidente cuja importância só seria reconhecida mais tarde: em Alcalá de Henares, Francisco ficou muito impressionado ao ver um homem conduzido à prisão da Inquisição — esse homem era Inácio de Loyola. No ano seguinte, após receber o título de marquês de Lombay, Francisco casou-se com Leonor de Castro. Dez anos mais tarde, Carlos V o nomeou vice-rei da Catalunha, cuja capital é Barcelona. Anos depois, Francisco costumava dizer:
“Deus me preparou nesse cargo para ser general da Companhia de Jesus. Ali aprendi a tomar decisões importantes, a mediar disputas e a considerar as questões de ambos os lados. Se não tivesse sido vice-rei, nunca teria aprendido isso.”
Seus talentos e sua vida edificante conquistaram a estima do imperador. Por isso, a imperatriz deu-lhe em casamento uma dama muito virtuosa, sua grande predileta. Francisco foi então nomeado estribeiro-mor do imperador e marquês de Lombay. A corte que Francisco manteve depois de casado poderia servir de modelo a todos os príncipes cristãos. Dividiu as horas do dia de modo que certas horas eram dedicadas à oração, aos negócios e à recreação. Ao mesmo tempo, iniciou a prática louvável de escolher todos os meses um santo para ser venerado especificamente. Opunha-se fortemente ao jogo e não permitia que seus servos se entregassem a ele. Costumava dizer:
“O jogo é acompanhado de grandes perdas: perda de dinheiro, de tempo, de devoção e de consciência”.
Tinha a mesma aversão pela leitura de livros frívolos, mesmo que não fossem imorais. Seu grande prazer estava na leitura de livros devotos, e dizia:
“A leitura de livros devotos é o primeiro passo para uma vida melhor.”
Na época em que viveu, os maiores entretenimentos das classes mais abastadas eram a música e a caça; e, como não podia abster-se deles por completo, tinha o cuidado de, nessas ocasiões, elevar os pensamentos ao Todo-Poderoso e mortificar-se. Assim, quando ia à caça, fechava os olhos no exato momento em que o falcão se precipitava do alto, privando-se do maior prazer (segundo dizem) envolvido nesse tipo de caça.

Para afastar completamente o seu servo do mundo, o Todo-Poderoso enviou-lhe várias doenças graves, que o fizeram reconhecer a instabilidade de tudo o que é terreno. Ficou mais convicto disso após a morte da imperatriz, cuja admirável beleza era exaltada por toda a parte. Por ordem do imperador, coube a Francisco acompanhar os restos mortais dela até o jazigo real de Granada. Lá o caixão foi aberto antes do enterro, e a visão que os espectadores tiveram foi terrível. Da bela imperatriz nada mais restava senão um cadáver, tão desfigurado, que todos desviavam os olhos dele, e tão malcheiroso, que afastava a maior parte dos espectadores. São Francisco ficou profundamente comovido e, após o enterro, foi para o seu quarto, prostrou-se diante do crucifixo e, depois de dar vazão aos seus sentimentos, exclamou: “Não, não, meu Deus! De agora em diante não terei nenhum mestre que a morte possa tirar de mim.” Então, fez o voto de entrar numa Ordem religiosa, caso vivesse mais do que sua consorte. Depois disso, costumava dizer muitas vezes: “A morte da imperatriz despertou-me para a vida.”
Quando Francisco regressou de Granada, o imperador nomeou-o vice-rei da Catalunha e, nesta nova posição, o santo duque continuou a levar uma vida mais religiosa do que mundana. Tinha um cuidado paternal com os seus súditos, e todos tinham acesso a ele a qualquer hora. Em relação aos pobres, manifestava grande bondade. Dedicava, diariamente, quatro ou cinco horas à oração. Jejuava quase todos os dias e flagelava-se até sangrar. Assistia à Missa e comungava todos os dias. Na corte, comentava-se desfavoravelmente a frequência com que comungava, pois prevalecia então a ideia — muito diferente da dos primeiros cristãos — de que um leigo envolvido nos negócios do mundo cometia pecado de presunção se recebesse o sacramento do Corpo de Cristo com demasiada frequência. [2] Quando ouviu dizer que, nas universidades, tinham surgido disputas entre os teólogos a respeito da Comunhão frequente, escreveu a Santo Inácio, em Roma, e pediu-lhe sua opinião sobre o assunto. Santo Inácio escreveu-lhe de volta, aprovando a prática e confortando-o em suas reflexões.
Em suma, o vice-rei da Catalunha já não era o mesmo: “via com outros olhos, ouvia com outros ouvidos, falava com outra língua, pois seu coração havia mudado.” Em 1543, com a morte de seu pai, herdou o ducado de Gandia. Como o rei João de Portugal recusou-se a aceitá-lo como principal personagem da corte de Filipe I, que se casaria com sua filha, Francisco renunciou ao vice-reinado e retirou-se com a família para Gandia. Isso foi um duro golpe para sua carreira pública, e desde então o duque começou a preocupar-se mais com os assuntos espirituais. Fortificou a cidade de Gandia contra os piratas berberes, construiu um convento dominicano em Lombay e reformou um hospital. Nessa época, o bispo de Cartagena escreveu a um amigo: “Durante minha recente estada em Gandia pude perceber que Dom Francisco é um modelo de duques e espelho de cavaleiros cristãos. É um homem humilde e verdadeiramente bom, um homem de Deus em todo o sentido da palavra... Educa seus filhos com extraordinário cuidado e se preocupa muito com seus servos. Nada lhe agrada tanto quanto a companhia de sacerdotes e religiosos...”

Pouco tempo depois, adoeceu sua consorte, igual a ele em virtude. Francisco rezou fervorosamente a Deus por sua recuperação. Um dia, enquanto rezava assim, ouviu uma voz interior que lhe dizia: “Se desejas que tua consorte se recupere, teu desejo será realizado, mas isso não te beneficiará.” Assustado com tais palavras, imediatamente submeteu sua vontade em tudo à vontade divina. A partir daquele momento, o estado de saúde da duquesa piorou, e ela morreu como tinha vivido: piedosa e pacificamente. A morte súbita de Dona Leonor, em 1546, pôs fim àquela existência idílica. Ela fora sua amada e fiel companheira por dezessete anos. Ao vê-la agonizar, Francisco pediu a Deus que se fizesse a Sua vontade, e não a sua.
O mais novo de seus oito filhos tinha apenas oito anos quando Dona Leonor faleceu. Pouco depois, o Beato Pedro Fabro passou alguns dias em Gandia e partiu para Roma levando uma mensagem do duque a Santo Inácio, comunicando-lhe o voto de ingressar na Companhia de Jesus. Santo Inácio se alegrou muito com a notícia, mas aconselhou o duque a adiar seus planos até concluir a educação dos filhos e, enquanto isso, obter o doutorado em teologia na recém-fundada Universidade de Gandia. Também o advertiu a não divulgar seu propósito, pois “o mundo não tem ouvidos para ouvir tal estrondo”. Francisco obedeceu fielmente. No entanto, no ano seguinte, foi convocado às cortes de Aragão, o que impedia o cumprimento de seus planos. Por isso, Santo Inácio deu-lhe permissão para fazer a profissão em privado. Três anos depois, em 31 de agosto de 1550, quando todos os filhos do duque já estavam encaminhados, ele partiu para Roma. Tinha então quarenta anos.
Quatro meses mais tarde, voltou à Espanha e retirou-se para uma ermida em Oñate, nas proximidades de Loyola. De lá, obteve permissão do imperador para transferir seus títulos e posses a seu filho Carlos. Em seguida, raspou a cabeça e a barba, tomou o hábito clerical e recebeu a ordenação sacerdotal na semana de Pentecostes de 1551. “O duque que se tornara jesuíta” converteu-se na sensação da época. O Papa concedeu indulgência plenária a todos os que assistissem à sua primeira Missa em Vergara, e a multidão reunida foi tão grande que foi preciso colocar o altar ao ar livre.

Os superiores da casa de Oñate nomearam-no ajudante do cozinheiro: sua função era carregar água e lenha, acender o fogão e limpar a cozinha. Quando servia à mesa e cometia algum erro, o santo duque tinha de pedir perdão de joelhos à comunidade por servi-la com desajeito. Imediatamente após sua ordenação, começou a pregar na província de Guipúscoa, percorrendo os povoados e tocando um sininho para chamar as crianças ao catecismo e os adultos à instrução. Por sua vez, o superior de Francisco tratava-o com a severidade que julgava exigir a nobreza do duque. Sem dúvida, o santo sofreu muito naquela época, mas jamais deu o menor sinal de impaciência. Em certa ocasião, ao se abrir uma ferida em sua cabeça, o médico lhe disse ao enfaixá-la: “Temo, senhor, causar algum dano à vossa graça.” Francisco respondeu: “Nada pode ferir-me mais do que esse tratamento de dignidade que me dais.” Após sua conversão, o duque começou a praticar penitências extraordinárias; era um homem muito corpulento, mas sua silhueta começou a se afinar rapidamente. Embora seus superiores limitassem seus excessos, São Francisco encontrava meios de inventar novas penitências. Mais tarde, admitia que, sobretudo antes de ingressar na Companhia de Jesus, havia mortificado o corpo com demasiada severidade. Durante alguns meses pregou fora de Oñate. O êxito de sua pregação foi imenso. Numerosas pessoas o tomaram como diretor espiritual. Foi um dos primeiros a reconhecer o grandíssimo valor de Santa Teresa de Jesus. Depois de operar maravilhas em Castela e Andaluzia, superou a si mesmo em Portugal. Em 1544, Santo Inácio nomeou-o prepósito provincial da Companhia de Jesus na Espanha. São Francisco de Borja exerceu esse cargo com certo autoritarismo característico dos nobres de sua época, mas demonstrou seu zelo e, em toda ocasião, exprimia sua esperança de que a Companhia de Jesus se distinguisse no serviço de Deus por três normas: a oração e os sacramentos, a oposição ao mundo e a perfeita obediência. De resto, essas eram as características da alma do santo.
São Francisco de Borja foi praticamente o fundador da Companhia de Jesus na Espanha, pois estabeleceu uma multidão de casas e colégios durante seus anos como prepósito geral. Isso, contudo, não o impedia de preocupar-se com sua família e com os assuntos da Espanha. Por exemplo, suavizou os últimos momentos de Joana, a Louca, que perdera a razão cinquenta anos antes, por ocasião da morte de seu esposo e, desde então, alimentava uma estranha aversão pelo clero. No ano seguinte, pouco depois da morte de Santo Inácio, Carlos V abdicou, recolheu-se ao mosteiro de Yuste e mandou chamar São Francisco. O imperador nunca sentira predileção pela Companhia de Jesus e declarou ao santo que não se agradava de ele ter escolhido tal ordem. Este lhe expôs as razões pelas quais se fizera jesuíta e afirmou que Deus o chamara a um estado que unisse a ação à contemplação e o libertasse das dignidades que o haviam perseguido no mundo. Explicou que, de fato, a Companhia de Jesus era uma ordem nova, mas o fervor de seus membros valia mais do que a antiguidade, pois “a antiguidade não é garantia de fervor”. Assim se dissiparam os preconceitos de Carlos V. São Francisco não era partidário da Inquisição, e esse tribunal o via com maus olhos, de modo que Filipe II teve de ouvir mais de uma vez as calúnias levantadas contra o santo duque por invejosos. Este permaneceu em Portugal até 1561, quando o Papa Pio IV o chamou a Roma a pedido do Pe. Laínez, geral dos jesuítas.
Em Roma, foi acolhido cordialmente. Entre os que assistiam regularmente a seus sermões estavam o cardeal Carlos Borromeu e o cardeal Ghislieri, que mais tarde seria Papa com o nome de Pio V. Ali se aprofundou nos assuntos da Companhia e começou a exercer cargos importantes. Em 1565, com a morte do Pe. Laínez, foi eleito geral. Durante os sete anos em que exerceu esse ofício, deu tal impulso à sua ordem em todo o mundo que pode ser chamado seu segundo fundador. O zelo com que propagou as missões e a evangelização do mundo pagão imortalizou seu nome. Não se mostrou menos diligente na distribuição de seus súditos pela Europa, a fim de colaborar na reforma dos costumes. Seu primeiro cuidado foi estabelecer um noviciado regular em Roma e ordenar que se fizesse o mesmo nas diversas províncias. Durante sua primeira visita à Cidade Eterna, quinze anos antes, havia se interessado muito pelo projeto de fundação do Colégio Romano e doou uma generosa soma para torná-lo realidade. Como geral da Companhia, ocupou-se pessoalmente de dirigir o Colégio e definir o programa de estudos. Praticamente foi ele quem fundou o Colégio Romano, embora sempre tenha recusado o título de fundador, geralmente atribuído a Gregório XIII, que o restabeleceu com o nome de Universidade Gregoriana. São Francisco construiu a igreja de Santo André do Quirinal e fundou o noviciado na residência adjacente; além disso, iniciou a construção da igreja do Gesù e ampliou o Colégio Germânico, onde se preparavam os missionários destinados a pregar nas regiões do norte da Europa, devastadas pelo protestantismo.

São Pio V tinha muita confiança na Companhia de Jesus e grande admiração por seu geral, de modo que São Francisco de Borja podia agir com grande liberdade. A ele se deve a expansão da Companhia de Jesus para além dos Alpes, bem como o estabelecimento da província da Polônia. Valendo-se de sua influência na corte da França, conseguiu que os jesuítas fossem bem recebidos naquele país e fundassem vários colégios. Por outro lado, reformou as missões da Índia, as do Extremo Oriente e iniciou as missões da América. Entre suas obras legislativas deve-se contar uma nova edição das regras da Companhia e uma série de diretivas para os jesuítas dedicados a trabalhos específicos. Apesar do extraordinário trabalho que desempenhou durante seus sete anos de generalato, jamais se desviou um ápice da meta que se havia proposto, nem descuidou de sua vida interior. Um século mais tarde, escreveu o Pe. Verjus:
“Pode-se dizer com verdade que a Companhia deve a São Francisco de Borja sua forma característica e sua perfeição. Santo Inácio de Loyola projetou o edifício e lançou os alicerces; o Pe. Laínez ergueu as paredes; São Francisco de Borja colocou o teto e organizou o interior e, assim, concluiu a grande obra que Deus havia revelado a Santo Inácio.”
Apesar de suas muitas ocupações, São Francisco ainda encontrava tempo para cuidar de outros assuntos. Por exemplo, quando a peste assolou Roma em 1566, o santo recolheu esmolas para socorrer os pobres e enviou seus súditos, em duplas, para cuidar dos enfermos da cidade, apesar do perigo a que os expunha.
Em 1571, o Papa enviou o cardeal Bonelli em uma embaixada à Espanha, Portugal e França, e São Francisco de Borja o acompanhou. Embora a embaixada tenha sido um fracasso do ponto de vista político, constituiu um triunfo pessoal para Francisco. Por toda parte, multidões se reuniam para “ver o santo duque” e ouvi-lo pregar; Filipe II, esquecendo as antigas animosidades, recebeu-o com tanta cordialidade quanto seus súditos. Mas o cansaço da viagem apressou o fim de São Francisco de Borja, já muito enfraquecido pela responsabilidade do cargo e pelo esforço de não poder dedicar-se à oração como desejava. Seu primo, o duque Afonso, alarmado com o estado de sua saúde, enviou-o de Ferrara a Roma em uma liteira. Restavam-lhe apenas dois dias de vida. Por intermédio de seu irmão Tomás, São Francisco enviou suas bênçãos a cada um de seus filhos e netos, e à medida que seu irmão pronunciava os nomes de cada um, ele orava por eles. Quando o santo perdeu a fala, um pintor entrou para retratá-lo, o que demonstra a falta de delicadeza que se observava em certas ocasiões daquela época. Ao ver o pintor, São Francisco expressou sua desaprovação com o olhar e o gesto, e voltou o rosto para a parede para que não o pudessem retratar. Morreu à meia-noite de 30 de setembro de 1572. Segundo a expressão do Pe. Brodrick, foi “um dos homens mais bons, amáveis e nobres que já pisaram o nosso pobre mundo.”
Desde o momento de sua “conversão”, São Francisco de Borja, canonizado em 1671, compreendeu a importância e a dificuldade de alcançar a verdadeira humildade e impôs a si mesmo toda espécie de humilhações diante de Deus e dos homens. Em Valladolid, onde o povo o recebeu triunfalmente, o Pe. Bustamante observou que Francisco se mostrava ainda mais humilde que de costume e perguntou-lhe a razão de tal atitude. O santo respondeu:
“Esta manhã, durante a meditação, percebi que meu verdadeiro lugar é o inferno, e tenho a impressão de que todos os homens, até os mais tolos, deveriam gritar-me: ‘Vai ocupar teu lugar no inferno!’”.
Certa vez, confessou aos noviços que, durante os seis anos em que meditara sobre a vida de Cristo, sempre se colocara espiritualmente aos pés de Judas; mas que recentemente compreendera que Cristo havia lavado os pés do traidor e, por esse motivo, já não se sentia digno sequer de aproximar-se de Judas.
Existe uma quantidade imensa de documentos sobre a vida de São Francisco de Borja, mas a maioria deles veio à luz apenas recentemente, graças à publicação de cinco volumes especiais dos Monumenta Historica Societatis Jesu (1894–1911). Esses volumes contêm mais de mil cartas do santo, seu diário espiritual dos últimos anos e diversos documentos relativos à sua família. Nesses materiais baseiam-se as biografias do Pe. Suau, Histoire de S. François de Borgia (1910), e de Otto Karrer, Der heilige Franz von Borja (1921). O artigo de Alban Butler limitava-se a um resumo das biografias primitivas, como a de D. Vázquez (1585), reproduzida substancialmente pelo Pe. J. E. Nieremberg em 1644, e a do Pe. Ribadeneira, Vida del P. Francisco de Borja (1598). Tanto Vázquez quanto Ribadeneira foram contemporâneos e amigos do santo, mas, para evitar escândalos, silenciaram sobre muitos fatos, especialmente sobre a luta do duque de Gandía contra os graves abusos cometidos na administração da justiça pelos magistrados e grandes da Espanha. Em todas as biografias primitivas, sobretudo na do cardeal Cienfuegos, exaltava-se o santo de modo extravagante, repetindo milagres e maravilhas sem o menor senso crítico. Por exemplo, é infundada a lenda segundo a qual, ao ver o cadáver da rainha Isabel, teria dito São Francisco: “Jamais voltarei a servir a senhora que possa morrer” (cf. Suau, p. 68; Karrer, p. 281). O Pe. Suau publicou um excelente resumo de sua obra mais extensa na coleção Les Saints (1905). Veja-se Mons. M. Yeo, The Greatest of the Borgias (1936); J. Brodrick, Origin of the Jesuits (1940), e Progress of the Jesuits (1946). Encontra-se uma bibliografia muito completa em Karrer, pp. XI–XVI. [1]

O nome de São Paulino figura no Martirológio Romano e nos martirológios ingleses. Foi o primeiro apóstolo do reino mais poderoso da Inglaterra de sua época. Tinha ido a esse país como membro do segundo grupo de missionários enviados pelo Papa São Gregório I. Quando o rei da Nortúmbria, Edwino, pediu a mão de Etelburga, irmã do rei Edbaldo de Kent, prometeu respeitar a religião de sua prometida. São Paulino partiu com ela para a Nortúmbria, encarregado da nova missão. No ano de 625, São Justo, arcebispo de Cantuária, consagrou-o bispo.
São Paulino sofria terrivelmente em meio àquele povo que não conhecia a Deus. Sua pregação não teve sucesso no início, mas Deus finalmente escutou suas orações. O rei Edwino converteu-se — como se explica no artigo dedicado a ele (12 de outubro) — e foi batizado em York por São Paulino, na Páscoa do ano 627. Os dois filhos do primeiro matrimônio do monarca, bem como muitos nobres, seguiram o exemplo de Edwino. Multidões se apressavam para receber o batismo das mãos de São Paulino, às margens do rio Swale, perto de Catterick. Edwino residia em Yeavering, no vale de Glendale, e São Paulino costumava batizar nessa região com a água do rio Glen. Em certa ocasião, permaneceu ali trinta e seis dias, instruindo e batizando o povo dia e noite. O nome de São Paulino está associado às localidades de Dewsbury, Easingwold e outras mais. O campo de apostolado do santo foi, sobretudo, o sul da Nortúmbria. Cruzou o rio Humber e evangelizou também os habitantes de Lindsey, onde batizou o governador de Lincoln e construiu uma igreja. Após a morte de São Justo, consagrou São Honório como arcebispo de Cantuária. Assistido por seu diácono Jaime, batizou numerosas pessoas no rio Trent, perto de Littleborough, conforme contou a São Beda o abade Deda, que foi um dos batizados naquela ocasião. O mesmo abade descreveu Paulino como “um homem alto, um tanto curvado, de cabelos brancos, rosto alongado e nariz aquilino, cuja presença inspirava veneração e respeito.”
O Papa Honório I enviou o pálio a São Paulino, designando-o como metropolita do norte da Inglaterra. O mesmo Pontífice escreveu ao rei Edwino felicitando-o por sua conversão: “Enviamos os pálios dos metropolitanos a Honório e Paulino, de modo que, quando aprouver a Deus chamar um deles a Si, o outro esteja autorizado, em virtude desta carta, a nomear seu sucessor.” No entanto, São Paulino jamais usou o pálio em sua catedral, pois, quando a carta de Honório I chegou à Inglaterra, Edwino já havia morrido. De fato, quase dois anos antes de o Pontífice escrevê-la (o que mostra como eram difíceis as comunicações naquela época), os pagãos mercios, liderados por Penda e reforçados pelos bretões cristãos de Gales, invadiram a Nortúmbria e mataram Edwino. Os invasores destruíram em grande parte a obra de São Paulino. O santo então deixou a diocese de York a cargo do diácono Jaime e acompanhou a rainha Santa Etelburga, com seus dois filhos e seu neto, em sua viagem marítima de volta a Kent.
Como a sé de Rochester estava então vaga, São Paulino aceitou o convite para administrá-la e assim o fez durante dez anos, “até que voou ao Céu, carregado com o fruto de seus trabalhos”. Provavelmente tinha ao menos sessenta anos quando partiu de York com Santa Etelburga, e teria sido imprudente voltar à Nortúmbria, então mergulhada na desordem. São Beda relata que o fiel Jaime, seu vigário, era um homem de grande santidade, que instruiu e batizou muitas pessoas “arrancando numerosas presas ao velho inimigo da natureza humana”. Quando a paz foi restabelecida em York, Jaime “introduziu na igreja o canto romano.”
São Paulino morreu em Rochester, em 10 de outubro de 644. Legou seu pálio à catedral e uma cruz de ouro e um cálice, que havia trazido de York, à igreja de Cristo de Cantuária. Diversas dioceses inglesas celebram sua Festa.
Nossa principal fonte é a Historia Ecclesiastica de São Beda (edição e notas de Plummer). Poucos dados fidedignos podem ser extraídos da crônica em verso de Alcuíno, de Simeão de Durham e de outros escritores da época (cf. Raine, History of the Church of York, Rolls Series). O excelente artigo do cônego Burton na Catholic Encyclopedia contém boa bibliografia. Veja também F. M. Stenton, Anglo-Saxon England (1943), pp. 113–116. A inserção do nome de São Paulino em numerosos calendários (cf. Stanton, Menology, p. 485), assim como as muitas cruzes tradicionalmente associadas ao seu nome no norte da Inglaterra, demonstram a popularidade do culto do santo. [3]
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 4, pp. 10-10. Levemente adaptado para melhorar o contexto.
Artigo "A morte que despertou São Borja para a vida". Do livro Lives of the saints: compiled from authentic sources with a practical instruction on the life of each saint, for every day in the year, v. 2. New York: P. O’Shea, 1876, p. 448ss.
Vida dos Santos, vol. 4, pp. 10-10.


























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