Vida de Santo Estêvão da Hungria e Beatos João de Lau e Companheiros: Os Mártires de Setembro (2 de setembro)
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Atualizado: há 2 dias

O povo que conhecemos com o nome de magiar chegou às regiões da Hungria nos últimos anos do século IX, procedente de vários distritos a oriente do rio Danúbio, para instalar-se nas margens, sob a direção de um chefe único chamado Arpad. Aquele povo era constituído por gente brava e guerreira; foi durante uma de suas incursões pela Itália, França e as regiões do oeste que se encontraram com o cristianismo. São Metódio e outros missionários haviam plantado a fé em pontos tão orientais da Europa como a Panônia; contudo, não foi senão em meados do século X que os magiares começaram a tomar em consideração a Igreja. Geza, o terceiro duque (vaivode), que governou o povo depois de Arpad, viu a necessidade política do cristianismo e, alentado por Santo Adalberto de Praga, fez-se batizar e grande número de nobres o imitaram. Mas, evidentemente, aquela foi uma conversão por conveniência e a maioria dos novos cristãos o eram apenas de nome. Contudo, houve uma exceção: Vaik, o filho de Geza, que recebeu o batismo ao mesmo tempo que seu pai e chamou-se Estêvão (Istvan). Na época, não tinha mais de dez anos e ainda não havia adquirido os costumes e modos de pensar dos pagãos. Em 995, quando completou vinte anos, casou-se com Gisela, irmã de Henrique, duque da Baviera, melhor conhecido como o imperador Santo Henrique II, e, dois anos mais tarde, sucedeu a seu pai no governo dos magiares. Logo, Estêvão se viu envolvido em guerras, mas acabou por dobrar as tribos rivais e, uma vez firmada sua posição, designou como primeiro arcebispo São Astrik, a quem enviou a Roma para obter do Papa Silvestre II a aprovação para uma autêntica organização eclesiástica em seu país; ao mesmo tempo, encomendou ao arcebispo que pedisse ao Pontífice que lhe confirmasse o título de rei, que seus súditos desejavam dar-lhe havia tempo e que agora estava disposto a tomar, com maior autoridade e majestade, para cumprir seus desígnios de promover a glória de Deus e o bem-estar de seu povo. O Papa mostrou-se bem disposto a conceder o que pedia e até preparou uma coroa real para enviá-la a Estêvão, com suas bênçãos, em conformidade, sem dúvida, com os desejos do imperador Otão III, que então se encontrava em Roma. Ao mesmo tempo, o Papa confirmou as fundações religiosas e as eleições de bispos que Estêvão havia feito. O próprio Estêvão saiu da cidade ao encontro de seus embaixadores e escutou, de pé e com grande respeito, a leitura das bulas pontifícias. Daí em diante, sempre tratou com grandes honras e respeito todos os pastores da Igreja, a fim de manifestar seu próprio senso religioso e inspirar em seus súditos a devoção por tudo o que pertencesse ao culto divino. O próprio São Astrik, que trouxera a coroa desde Roma, o consagrou rei, com grande solenidade, no ano de 1001.*

Com o propósito de enraizar firmemente o cristianismo em seu reino e dar-lhe as maiores possibilidades de progresso, o rei Estêvão não criou sedes episcopais senão gradualmente, à medida que podia contar com sacerdotes oriundos de seu próprio povo. A primeira sede episcopal de que há registro foi a de Veszprém, mas não passaram muitos anos sem que fosse criada a de Esztergom, que se tornou a mais importante e a sede do primaz. O santo monarca mandou construir em Szekesfehervar uma igreja dedicada a Nossa Senhora, na qual posteriormente eram consagrados e sepultados os reis da Hungria. Nessa cidade estabeleceu o rei sua residência e, desde então, chamou-se Alba Regalis, para distingui-la da Alba Júlia, na Transilvânia. Também terminou a construção do grande mosteiro de São Martinho, iniciada por seu pai. Até hoje existe esse mosteiro, conhecido como Martinsberg ou Pannonhalma, que é a casa-mãe da congregação beneditina na Hungria. A manutenção das igrejas e seus pastores, assim como o fundo de auxílio aos pobres, obtinha-se graças a dízimos que havia imposto: cada dez povoados vizinhos tinham a obrigação de construir uma igreja e sustentar um sacerdote; por conta do rei corria o mobiliário da igreja, a ornamentação dos altares e os paramentos do pastor. Não sem vencer grandes dificuldades, conseguiu eliminar muitos dos costumes e superstições bárbaras, derivados da antiga religião e, por meio de rigorosos castigos, reprimiu as blasfêmias, o assassinato, o roubo, o adultério e outros crimes públicos. Recomendava que todas as pessoas adultas, exceto clérigos e religiosos, contraíssem matrimônio, mas proibiu as uniões entre cristãos e idólatras. O monarca era acessível às gentes de todas as classes sociais e escutava atentamente as queixas de todos, mas atendia com especial benevolência os pobres e oprimidos, por considerar que, ao recebê-los com solicitude, honrava a Cristo, que nos deixou os pobres em seu lugar ao abandonar a terra.

Afirma-se que certo dia, quando o rei, disfarçado de camponês, percorria as ruas para distribuir esmolas, um grupo de mendigos aglomerou-se ao seu redor, derrubou-o ao chão, atropelou-o e, no tumulto, arrebatou-lhe a bolsa de dinheiro, apoderando-se do que estava destinado a muitos outros. Estêvão suportou com paciência, humildade e até bom humor aquele ultraje, pois alegrava-se sinceramente por ter sofrido no serviço de Nosso Senhor. Para acompanhá-lo, os cortesãos pareceram divertir-se com o incidente e até fizeram brincadeiras; mas, na realidade, estavam muito preocupados com a segurança do rei e rogaram-lhe que não expusesse sua pessoa a tais perigos; contudo, o monarca insistiu que, ainda com risco de vida, jamais negaria uma esmola a qualquer pobre que lha pedisse. O exemplo de suas virtudes era mais efetivo que qualquer sermão para todos os que caíam sob sua influência. Isso se manifestou claramente em seu filho Emérico, a quem a Igreja beatificou e a quem se deve o código das leis de Santo Estêvão. O santo fez com que essas leis, elaboradas para governar um povo rude, rebelde e recém-convertido ao cristianismo, fossem promulgadas em todos os seus domínios. Mas, sem dúvida, as prudentes medidas não haviam sido calculadas para apaziguar o descontentamento ou a inquietação entre os que ainda se opunham à nova religião, e algumas das guerras que Santo Estêvão teve de enfrentar tiveram motivos tanto políticos como religiosos. Depois de repelir vitoriosamente uma invasão dos búlgaros, o rei empreendeu a organização política de seu povo. Começou por eliminar as divisões entre as tribos; depois, repartiu o território em condados, com um sistema de governadores e magistrados. Dessa maneira, por meio de uma moderada aplicação das ideias feudais, que faziam dos nobres vassalos da coroa, consolidou a unidade dos magiares; ao reter o domínio sobre o povo comum, evitou que o poder se acumulasse nas mãos de alguns poucos senhores. Na verdade, Santo Estêvão foi o fundador e o arquiteto do reino independente da Hungria. Mas, como nota o padre bolandista Paul Grosjean, se observamos Estêvão fora de seu marco histórico, teremos uma impressão tão falsa como se o comparássemos a um Eduardo, o Confessor, ou a um Luís IX. E, por certo, esse marco histórico foi muito rude, violento e selvagem.

À medida que passavam os anos, Estêvão confiava uma parte cada vez maior de suas responsabilidades a seu único filho; mas no ano de 1031, Emérico perdeu a vida em um acidente de caça e o rei se deixou levar por um profundo sofrimento. “Deus o amava e por isso o levou tão cedo!”, gemia, consumido pela dor. A morte de Emérico deixou o trono sem herdeiro e os últimos anos da vida do monarca foram amargurados por disputas familiares sobre a sucessão, às quais teve de fazer frente enquanto suportava os sofrimentos causados por suas doenças físicas. Havia quatro ou cinco personagens que reclamavam o trono para si, inclusive um tal Pedro, filho de Gisela, irmã de Santo Estêvão, mulher cruel e ambiciosa que se estabelecera na corte desde a morte do marido, pois estava decidida a que seu filho ocupasse o trono e, sem o menor escrúpulo, despiadadamente, aproveitou-se da má saúde de Estêvão para alcançar seus fins. Por esse tempo, morreu o santo, com sessenta e três anos de idade, na Festa da Assunção de 1038. Foi sepultado em uma tumba contígua à de seu filho, o beato Emérico, em Szekesfehervar. Em seu sepulcro realizaram-se alguns milagres. Quarenta e cinco anos após sua morte, a pedido do rei São Ladislau da Hungria, o papa São Gregório VII mandou trasladar suas relíquias para um santuário construído dentro da grande igreja de Nossa Senhora, em Buda. Inocêncio XI, em 1686, fixou sua festa no dia 2 de setembro, visto que o imperador Leopoldo recuperou a cidade de Buda das mãos dos turcos nessa data.
Existem duas biografias antigas sobre Santo Estêvão que datam do século XI e que se chamam Vita Major e Vita Minor. Esses textos foram editados por Pertz, em MGH. Scriptores, vol. XI. No início do século XII, o bispo Hartwig extraiu desses materiais uma biografia que se encontra impressa no Acta Sanctorum, setembro, vol. II. Podem-se extrair outros fatos relacionados com a vida do santo da Chronica Ungarorum, editada no Monumenta, vol. I de Endlicher. Apesar de a suposta bula de Silvestre II ser falsa e não obstante terem sido levantadas dúvidas muito sérias quanto à autenticidade da coroa que, ao que parece, lhe foi enviada pelo Papa, há provas positivas de que foram conferidos poderes especiais a Santo Estêvão, equivalentes aos de legado ad latere por parte do Papa. A crença de que Santo Estêvão foi investido com o título de “rei apostólico” não tem fundamento algum. Ver o artigo de L. Kropf, na English Historical (1898), p. 295. Há uma biografia muito amena, mas pouco digna de crédito, escrita por Ehorn (1899), que apareceu na série Les Saints. Para informações mais detalhadas e fidedignas, deve-se recorrer às autoridades na matéria, como os historiadores húngaros J. Paulers, Mons. Fraknoi e Dr. Karacsonyi. Em um volume posterior do Acta Sanctorum, novembro, vol. II, pp. 477-487, os bolandistas tratam do beato Emérico e discutem muitos pontos esclarecedores sobre a história do rei seu pai. Entre as publicações que situam o século IX como o da morte de Santo Estêvão figuram F. Bamfi, Re Stefano il Santo (1938), e B. Homan em Szent Istvan (1938); esta última obra foi traduzida ao alemão em 1941. Ver também Archivum Europae centro orientalis vol. IV (1938); e MacArtney, The Medieval Hungarian Historians (1953). [1]

Não cabe a menor dúvida de que no tempo da Revolução Francesa, existiam na Igreja da França situações e condições que, para dizê-lo com a maior suavidade possível, eram lamentáveis: os bispos e outros clérigos de alta hierarquia eram mundanos e ambiciosos, indiferentes aos sofrimentos do povo; contavam-se por centenas os párocos e reitores ignorantes, egoístas e fracos que, na hora da prova, não titubearam em pronunciar um juramento e aceitar uma constituição que haviam condenado a Santa Sé e seus próprios bispos. Isso, pelo lado do clero, porque da parte dos leigos quase todos eram indiferentes ou abertamente hostis à religião. O reverso da medalha podia encontrar-se em um reduzido grupo de sacerdotes locais e imigrados e de pessoas que colaboravam com eles para a causa da emancipação católica, e aos quais não podemos deixar de somar as centenas que deram suas vidas antes que cooperar com as forças antirreligiosas. Neste último grupo se encontravam os mártires que morreram em Paris no dia 2 e 3 de setembro de 1792. No ano de 1790, a Assembleia Constituinte aprovou a constituição civil para os clérigos, condenada imediatamente pela hierarquia, como ilegal. Todos os bispos diocesanos, à exceção de quatro, assim como a maioria do clero urbano, recusaram-se a prestar o juramento que lhes impunha a nova constituição. No ano seguinte, o Papa Pio VI confirmou a condenação da constituição, qualificando-a como “herética, contrária aos ensinamentos católicos, sacrílega e contrária aos direitos da Igreja”. No fim de agosto de 1792, os revolucionários em toda a França enfureceram-se pelo levante dos camponeses na Vendeia e os êxitos das armas da Prússia, Áustria e Suécia, em Longwy. Inflamados pelos fogosos discursos contra os realistas e o clero, cerca de mil e quinhentos homens da Igreja, leigos, mulheres e crianças pereceram em uma gigantesca matança. Cento e noventa e uma dessas vítimas foram beatificadas como mártires em 1926.
Nas primeiras horas da tarde de 2 de setembro, vários centenas de rebeldes atacaram a “Abbaye”, o antigo mosteiro onde sacerdotes, soldados leais e algumas outras pessoas se encontravam prisioneiros. A horda de malfeitores, com um rufião chamado Maillard à frente, exigiram a numerosos sacerdotes que pronunciassem o juramento constitucional; todos se negaram e foram mortos ali mesmo. Depois formou-se um tribunal para condenar o resto dos prisioneiros em massa. Entre este segundo grupo de mártires encontrava-se o ex-jesuíta (a Companhia de Jesus encontrava-se suprimida por então) BEATO ALEXANDRE LENFANT. Havia sido confessor do rei e um fiel amigo da família real em desgraça. Isso bastou para que, não obstante os esforços de um sacerdote apóstata, fosse condenado e martirizado. Monsenhor de Salamon nos conta em suas memórias que observou o padre Lenfant quando serenamente escutava a confissão de outro sacerdote, minutos antes de que confessor e penitente fossem arrastados ao lugar da execução.

O prefeito de Paris, excitado pelo vinho e incentivado com gorjetas, incitou um grupo de vadios e desordeiros a atacar a igreja dos carmelitas na “Rue de Rennes”. Ali se encontravam presos mais de cento e cinquenta eclesiásticos e um leigo, o BEATO CARLOS DE LA CALMETTE, conde de Valfons, um oficial de cavalaria que havia acompanhado voluntariamente o pároco de sua paróquia à prisão quando este foi levado preso. Aquela companhia de valentes fidalgos, chefiada pelo BEATO JOÃO MARIA DE LAU, arcebispo de Arles, pelo BEATO FRANCISCO JOSÉ DE LA ROCHEFOUCAULD, bispo de Beauvais, e por seu irmão, o BEATO PEDRO LUÍS, bispo de Saintes, levava na prisão uma vida de regularidade monástica e não cessava de assombrar seus carcereiros por sua alegria e bom humor. Era uma sombria tarde de domingo, com rajadas de vento gelado e ameaça de tempestade; aos prisioneiros havia sido permitido tomar ar no jardim e, enquanto os bispos e outros clérigos rezavam as vésperas na capela, a horda de assassinos irrompeu no jardim e apunhalou o primeiro sacerdote que se cruzou em seu caminho. Ao ouvir o tumulto, Mons. de Lau saiu tranquilamente da capela. “És tu o arcebispo?”, perguntou-lhe um dos rufiões. “Sim, senhores. Eu sou o arcebispo”. Foi derrubado com um golpe de espada no ombro e, já no chão, teve o peito atravessado de parte a parte com uma lança. Entre uivos de excitação, horror e selvageria, começaram a troar as salvas de disparos; as balas caíam em chuva cerrada; a perna do bispo de Beauvais ficou destroçada. Num instante, alguns morreram e outros caíram feridos.
Mas o fogo cessou subitamente. Os franceses têm o senso de ordem e, talvez, aquela matança lhes tenha parecido desordenada. Por isso, procedeu-se à nomeação de um “juiz” que instalou seu tribunal no corredor entre a igreja e a sacristia. Os acusados compareciam diante dele de dois em dois. Com ambas as mãos, o “juiz” lhes apresentava dois documentos com o juramento constitucional para que o prestassem; mas todos o rejeitaram sem a mínima vacilação. Então, o par de condenados descia pela estreita escada que conduzia ao exterior e, ao sair, a multidão desvairada os despedaçava. No corredor, o juiz gritou o nome do bispo de Beauvais; desde o canto onde jazia, imobilizado, respondeu: “Não me nego a morrer com os demais, mas não posso andar. Rogo a vossa senhoria que tenha a bondade de mandar que me levem aonde devo ir”. Não poderia ter sido feita demonstração mais clara daquela monstruosa injustiça do que a réplica breve e cortês do bispo. Mas não lhe salvou a vida, embora nenhum dos verdugos ousasse dizer palavra quando dois homens o levantaram e o levaram em peso diante do juiz, para que rejeitasse o juramento constitucional. O BEATO TIAGO GALAIS, que estava encarregado da cozinha dos prisioneiros, entregou ao juiz trezentos e vinte e cinco francos que devia ao açougueiro, porque não queria chegar ao céu “com aquela dívida”. O BEATO TIAGO FRITEYRE-DURVÉ, ex-jesuíta, foi apunhalado por um vizinho que conhecia desde a infância; outros três ex-jesuítas e quatro sacerdotes seculares eram anciãos retirados de uma casa de descanso em Issy para serem encerrados na igreja dos carmelitas; o conde de Valfons e seu confessor, o BEATO JOÃO GUILLEMINET, morreram lado a lado; e assim, todos pereceram até que não restasse nenhum. A estes mártires se chama “des Carmes” pelo lugar onde padeceram. Ali mesmo havia outras quarenta pessoas, mais ou menos, que conservaram a vida porque não foram vistas ou puderam escapar diante de guardas complacentes ou compadecidos. Entre as vítimas encontrava-se também o BEATO AMBRÓSIO AGOSTIN CHIVREUX, superior geral dos beneditinos mauristas e outros dois monges; o BEATO FRANCISCO LUÍS HEBERT, confessor de Luís XVI; três franciscanos, quatorze ex-jesuítas, seis vigários gerais diocesanos, trinta e oito estudantes e ex-alunos do seminário de São Sulpício, três diáconos, um acólito e um irmão mestre. Os cadáveres foram enterrados em uma fossa comum no cemitério de Vaugirard, embora muitos tenham sido também atirados em um poço no jardim da igreja do Carmo.

No dia 3 de setembro, a horda de assassinos irrompeu no seminário lazarista de São Fermín, convertido também em prisão, onde sua primeira vítima foi o BEATO PEDRO GUÉRIN DU ROCHER, um ex-jesuíta de sessenta anos. Pediram-lhe que escolhesse entre o juramento e a morte e, tão logo se recusou a submeter-se à constituição, foi atirado pela janela mais próxima e, ao cair no pátio, foi crivado de punhaladas. Seu irmão, o BEATO ROBERTO DU ROCHER, foi também uma das vítimas, e houve outros três ex-jesuítas entre os noventa e um clérigos que se achavam presos ali, dos quais apenas quatro escaparam com vida. O superior do seminário era o BEATO LUÍS JOSÉ FRANÇOIS. Na qualidade de superior, havia advertido sua comunidade de que o juramento era ilegal para os clérigos. Era um homem tão famoso por sua bondade e tão querido em Paris que, apesar dos riscos, um oficial do exército o preveniu do perigo que corria e se ofereceu para ajudá-lo a fugir. Naturalmente, ele se negou a abandonar seus companheiros de prisão, muitos dos quais tinham chegado voluntariamente a São Fermín, confiando em salvar-se. Entre os que morreram com ele estavam o BEATO HENRIQUE CRUYER e outros lazaristas; o BEATO YVES GUILLON DE KERANRUN, vice-chanceler da Universidade de Paris, e três leigos. Na prisão de La Force, na “Rue Saint-Antoine”, não ficou nenhum sobrevivente para descrever os últimos momentos de qualquer de seus companheiros de infortúnio.
O breve da beatificação, com o registro de cada um dos nomes dos bem-aventurados mártires, encontra-se impresso em Acta Apostolicae Sedis, vol. XVIII (1926), pp. 415-425. Na maior parte das histórias sobre a Revolução Francesa encontram-se relatos sobre a morte de um ou outro desses mártires, mas o tema do seu martírio é tratado detalhadamente em distintos livros, como por exemplo, Les Massacres de Septembre (1907), de Lenôtre; Massacres de Septembre (1935), de P. Caron; Les Martyrs, vol. XI, de H. Leclercq; e sobretudo, Histoire Générale de l’Église, vol. VIII, de F. Mourret. Há também livros dedicados a um desses mártires em particular ou a um grupo deles, como a obra de G. Barbotin, Le dernier évêque de Saintes (1927); H. Fouqueray, Un Groupe des Martyrs de Septembre. 23 anciens Jésuites (1927); um livro anônimo: Les Martyrs Franciscains des Carmes (1926); Les B. Martyrs du séminaire Saint Sulpice (1928), de E. Levesque; Le B. L. J. François (1929); C. Clercq, Le B. Apollinaire Morel (1945) e outros. [2]
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 3, pp. 463–466.
Ibid. pp. 471-473.
Notas:
* A suposta bula do Papa Silvestre, que concedia o título de rei apostólico e legado apostólico a Santo Estêvão, com direito a portar a cruz de primaz, foi falsificada séculos depois, provavelmente no século XVII. A parte superior da coroa enviada pelo Papa encaixava na parte inferior de outra coroa que o imperador Miguel III dera ao rei Geza e ambas se conservam até hoje em Budapeste.
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