Vida de São Caetano e Santa Cláudia, Mártir (7 de agosto)
- Sacra Traditio
- 7 de ago.
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São Caetano era filho do conde Gaspar de Thiene e de Maria di Porto, que pertencia a uma nobre família de Vicenza. Dois anos após o nascimento de Caetano, em 1482, seu pai morreu lutando com o exército veneziano contra o rei Fernando de Nápoles. Caetano e seus dois irmãos ficaram sob os cuidados da mãe. O admirável exemplo que a piedosa viúva deu aos filhos produziu frutos esplêndidos, particularmente em Caetano, cuja extraordinária bondade o tornava muito popular. O santo estudou quatro anos na Universidade de Pádua. Os prolongados exercícios de devoção que praticava não foram obstáculo para seus estudos, mas, ao contrário, santificaram e purificaram sua inteligência e o ajudaram a penetrar mais profundamente a verdade. Caetano se destacou sobretudo na teologia e, em 1504, doutorou-se em direito civil e canônico. Depois retornou a Vicenza, onde foi nomeado senador. Decidido a prosseguir os estudos sacerdotais, recebeu a tonsura. Em 1506, transferiu-se para Roma, não em busca de cargos e honras na corte, mas persuadido de que Deus o chamava àquela cidade para realizar uma grande obra. Pouco depois de sua chegada à Cidade Eterna, Júlio II o nomeou protonotário e lhe concedeu um benefício eclesiástico. Com a morte do Pontífice, ocorrida em 1513, Caetano recusou-se a continuar no cargo e preparou-se durante três anos para receber o sacerdócio. Foi ordenado em 1516, aos trinta e três anos, e em 1518 voltou a Vicenza.
Em Roma havia fundado uma confraria do “Amor Divino”. Tratava-se de uma associação de clérigos zelosos que se dedicavam com toda a alma a promover a glória de Deus e a própria santificação. Em Vicenza, Caetano ingressou no oratório de São Jerônimo, que tinha os mesmos fins da confraria do Amor Divino, mas incluía também os leigos menos favorecidos pela fortuna. Isso incomodou muito os amigos de Caetano, que consideravam tal companhia indigna de sua linhagem, mas ele não cedeu, e seu zelo produziu frutos extraordinários. Caetano buscava e servia pessoalmente os pobres e enfermos da cidade e atendia os pacientes mais repugnantes do hospital de incuráveis, ao qual ajudou muito materialmente. Mas, sobretudo, preocupava-se com o bem espiritual dos membros de sua congregação, aos quais costumava repetir: “No oratório rendemos a Deus a homenagem da adoração, no hospital o encontramos pessoalmente.” Caetano fundou outro oratório em Verona. Depois, seguindo o conselho de seu confessor, João Batista de Crema, um dominicano de grande prudência e santidade, transferiu-se em 1520 para Veneza, onde se alojou no hospital da cidade e prosseguiu com o mesmo estilo de vida. Tantas doações fez a esse hospital, que chegou a ser considerado seu principal fundador. O santo passou três anos em Veneza, onde introduziu a bênção com o Santíssimo Sacramento e promoveu muito a comunhão frequente. A esse respeito escreveu: “Não estarei satisfeito até ver os cristãos aproximarem-se do Banquete Celestial com a simplicidade de crianças famintas e alegres, e não cheios de medo e falsa vergonha.”
A cristandade atravessava então um período de crise. A corrupção reinante havia enfraquecido a Igreja desde antes do surgimento do protestantismo e oferecido um pretexto aparente à "Reforma". Por outro lado, o clero, tanto o regular quanto o secular, em vez de se opor à decadência da religião e à perversão dos costumes, deixara-se afundar na indiferença e na dissipação. A Igreja estava doente “na cabeça e nos membros”. Angustiado diante de tal espetáculo, São Caetano foi a Roma, em 1523, para falar sobre isso com os membros da confraria do Amor Divino. Todos concordaram que era necessário, antes de tudo, reavivar no clero o zelo que animara os Apóstolos. Para fazer com que o clero tomasse consciência de suas obrigações, decidiram fundar uma ordem de Clérigos Regulares que tomassem como modelo a vida dos Apóstolos. Os primeiros companheiros de São Caetano foram João Pedro Caraffa, que era então bispo de Teate e foi mais tarde Papa com o nome de Paulo IV; Paulo Consiglieri, membro da família Ghislieri; e um cavaleiro de Milão, chamado Bonifácio da Colle. Clemente VII aprovou a fundação, e Caraffa foi eleito superior geral. Os membros da nova ordem tomaram o nome de teatinos, derivado da diocese de Teate. Em 14 de setembro de 1524, os quatro primeiros membros trocaram suas vestes prelaciais pelo hábito religioso e fizeram os votos em São Pedro, diante de um delegado pontifício. Os principais fins da ordem eram a pregação da sã doutrina ao povo, o cuidado dos enfermos, a restauração do uso frequente dos sacramentos e a renovação do clero. A vida comum era regra, e a insistência no voto de pobreza era característica da nova ordem.
Os teatinos não obtiveram sucesso imediato e, em 1527, quando a ordem contava apenas com uma dúzia de membros, um incidente quase levou à sua extinção. O exército de Carlos V saqueou a Cidade Eterna; a casa dos teatinos foi destruída e eles fugiram para Veneza. Em 1530, terminou o período de superiorato de Caraffa, e São Caetano foi eleito para sucedê-lo. Depois de aceitar o cargo com grande relutância, dedicou-se energicamente à reforma do clero e colocou particularmente à prova sua caridade durante uma epidemia que eclodiu em Veneza devido à chegada de algumas embarcações do Oriente.
Três anos depois, Caraffa foi novamente eleito superior geral e enviou São Caetano a Verona, onde tanto o clero quanto os fiéis se opunham à reforma de costumes que o bispo da cidade tentava introduzir. Pouco depois, São Caetano foi para Nápoles fundar uma casa de sua ordem. O conde de Oppido lhe doou uma casa muito ampla e tentou dar-lhe alguns terrenos, mas o santo recusou aceitá-los. Em vão alegou o conde que os napolitanos não eram tão ricos e generosos como os venezianos. São Caetano limitou-se a responder: “Talvez tenhais razão, mas Deus é o mesmo em ambas as cidades.” O exemplo, a pregação e o trabalho apostólico do santo produziram uma notável melhoria na cidade. Devemos mencionar, em particular, o êxito com que enfrentou três apóstatas — um leigo, um agostiniano e um franciscano — que pregavam, respectivamente, o socinianismo, o calvinismo e o luteranismo. Nos últimos anos de sua vida, São Caetano fundou com o Beato João Marinoni os “Montes de Piedade”, que foram aprovados pouco antes do Concílio de Latrão. Muito fatigado pela intensa atividade que teve de exercer para apaziguar a guerra civil em Nápoles e desalentado pela suspensão do Concílio de Trento, do qual tanto esperava para o bem da Igreja, São Caetano teve de guardar cama no verão de 1547. Os médicos lhe aconselharam colocar um colchão sobre sua tábua de dormir, mas ele respondeu: “Meu Salvador morreu na cruz; deixai-me, pois, morrer também sobre uma madeira.” Uma semana depois, no domingo, 7 de agosto, ele exalou o último suspiro. A comissão encarregada de examinar os numerosos milagres do santo os aprovou após rigoroso escrutínio. A canonização ocorreu em 1671.
São Caetano foi uma das figuras mais destacadas entre os reformadores que precederam o Concílio de Trento. E a fundação dos clérigos regulares, ou seja, sacerdotes que viviam em comunidade e se obrigavam com os votos religiosos, mas se dedicavam ao exercício dos ministérios pastorais, desempenhou um papel muito importante na reforma católica. Atualmente, os clérigos regulares prosseguem sua tarefa em pequenos grupos, excetuando-se o numerosíssimo corpo dos jesuítas.
Nenhum dos companheiros de São Caetano escreveu sua biografia. A de A. Caracciolo, que pode ser vista nos Acta Sanctorum (agosto, vol. II), foi escrita cerca de sessenta anos após a morte do santo. Provavelmente a estreita amizade de São Caetano com Caraffa (que ascendeu ao trono pontifício oito dias após a morte do santo e cujo pontificado foi sumamente impopular) tornava difícil escrever naquela época sobre os teatinos. Mas na era moderna, vários historiadores da estatura de Pastor, G. M. Monti e O. Premoli lançaram luz sobre muitos pontos que haviam permanecido na obscuridade. Embora seja uma obra muito breve, o S. Gaetano Thiene de O. Premoli (1910) constitui talvez o melhor retrato do santo. Baseando-se em cartas inéditas, Pio Paschini, S. Gaetano... o le origine dei... Teatini (1926), estudou profundamente os primeiros anos da carreira do santo. Não podemos recomendar sem reservas a biografia de R. de Mandé de la Clavière: cf. as resenhas da edição original e da edição corrigida em Analecta Bollandiana, vol. XXII, p. 119, e vol. XXIV, p. 419. A biografia italiana do Pe. Chiminelli (1948) é muito completa. A biografia espanhola de L. Ruiz de Cárdenas (1947) é mais breve e de tom mais popular. [1]
Em sua segunda epístola a Timóteo (IV, 21), São Paulo diz: “Eubulo, Pudente, Lino, Cláudia e todos os irmãos te saúdam.” Cláudia era, sem dúvida, uma dama de importância. As “Constituições Apostólicas”, que datam do século IV, afirmam que Cláudia era mãe de Lino, e São Ireneu diz que Lino sucedeu São Pedro no pontificado. O poeta Marcial menciona em seus “Epigramas” uma dama britânica, chamada Cláudia Rufina, que era esposa de seu amigo Aulo Pudente, e alguns identificam este com o Pudente a que se refere São Paulo. Por outro lado, uma tradição independente da anterior afirma que Santa Cláudia era filha do rei britânico Caractaco, que foi derrotado pelo general romano Aulo Pláucio e enviado prisioneiro a Roma com sua família no ano 51. O imperador Cláudio os libertou. Uma das filhas de Caractaco permaneceu em Roma e foi batizada com o nome de Cláudia. Segundo a tradição, essa é a Cláudia mencionada pelo Apóstolo. Outros opinam que Cláudia não era filha de Caractaco, mas de Cogidubno, um aliado britânico de Cláudio que adotou o nome do referido imperador. Todas essas teorias são possíveis, mas carecem de provas, já que nem sequer sabemos com certeza se Cláudia era realmente a esposa de São Pudente.
Lightfoot (Apostolic Fathers, vol. I, parte I, pp. 76-79) discute as teorias mencionadas, a propósito de São Clemente e de Pudente, e afirma que não existem dados que deem probabilidade a nenhuma delas. [2]
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 3, pp. 276–279.
Ibid. p. 279.
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