Festa da Maternidade da Virgem Maria e a Vida de São Alexandre Sauli e São Gomário (11 de outubro)
- Sacra Traditio

- 11 de out.
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O dia de hoje é celebrado em toda a Igreja do Ocidente como a Festa da Maternidade da Santíssima Virgem. Essa Festa foi introduzida por Pio XI na encíclica “Lux Veritatis”, publicada em 25 de dezembro de 1931, por ocasião do décimo quinto centenário do Concílio de Éfeso.
Na terceira leitura do segundo noturno do ofício do dia, fala-se da abóbada da basílica de Santa Maria Maior, que Sisto III (432-440) mandou decorar com mosaicos pouco depois do Concílio e que foi restaurada por Pio XI.
O breviário recorda que essa abóbada é uma espécie de monumento à proclamação da maternidade divina de Maria no Concílio de Éfeso. Mas a encíclica de Pio XI menciona outros motivos para a instituição da Festa:
“Desejaríamos que, sob os auspícios da Rainha do Céu, tão amada e venerada com tão ardente piedade pelos povos separados do Oriente, todos os cristãos rezem para que Deus não permita que permaneçam afastados da unidade da Igreja e de seu Filho Jesus Cristo, de quem somos Vigário. Que retornem em breve ao Pai comum, ao juízo de quem todos os Padres do Concílio se submeteram e a quem aclamaram unanimemente como guardião da fé. Queira Deus fazê-los voltar a Nós, que por eles temos o maior afeto, e que faríamos jubilosamente nossas as graves palavras com que Cirilo exortava Nestório: ‘que a paz das Igrejas não seja perturbada, e que o laço do amor e da concórdia entre os sacerdotes de Deus permaneça indissolúvel’.”[1]
O texto da encíclica Lux Veritatis pode ser consultado em Acta Apostolicae Sedis, vol. XX (1931), pp. 439–517. Em muitos lugares já se celebrava, desde tempos antigos, a Maternidade Divina de Maria, mas a Festa não era universal e a data de celebração variava muito. Ao que parece, a Festa começou a ser celebrada em Portugal e seus domínios; em 1751, foi oficialmente autorizada em Portugal, de onde se difundiu rapidamente a outros lugares, como Veneza e Polônia. Veja-se F. G. Holweck, Calendarium Festorum Dei et Dei Matris (1925), pp. 368, 148. [2]

Conta-se que Alexandre Sauli ainda era muito jovem quando, certo dia, apresentou-se diante de uma multidão que assistia a um espetáculo de acrobatas e saltimbancos, com um crucifixo na mão, e pregou severamente contra aquele tipo de diversão frívola, para grande espanto de todos os presentes. Embora o santo talvez tenha exagerado ao agir assim, esse gesto pode ser considerado um símbolo de sua vida, já que se consagrou inteiramente à restauração da ordem cristã em meio à negligência e frieza religiosas do século XVI. Alexandre nasceu em Milão, em 1535, mas sua família era originária de Gênova. Aos dezessete anos, ingressou na Congregação dos Clérigos Regulares Barnabitas. Seus superiores o enviaram para prosseguir os estudos no colégio da congregação em Pávia, e o santo pagou do próprio bolso a ampliação da biblioteca da instituição. Em 1556, após sua ordenação sacerdotal, começou a ensinar filosofia e teologia na Universidade. O bispo da cidade logo o tomou por seu teólogo, e a reputação de Alexandre como pregador cresceu rapidamente. O êxito em Pávia foi tão grande que São Carlos Borromeu o convidou para pregar em sua catedral; a seus sermões assistiram o próprio São Carlos e o cardeal Sfondrati, que mais tarde se tornaria o Papa Gregório XIV. As ardentes palavras do jovem barnabita arrancaram lágrimas de ambos, que o tomaram como confessor; São Carlos manteve com ele uma estreita direção espiritual por muitos anos. Em 1567, o Pe. Sauli foi eleito preposto geral da sua congregação. Embora tivesse apenas trinta e oito anos, mostrou-se firme o suficiente para opor-se à opinião de São Pio V e de São Carlos Borromeu. De fato, o cardeal Borromeu, protetor dos poucos “Humiliati” que restavam, recebera a missão de reformá-los, pois esses religiosos eram ricos, mas de costumes pouco edificantes. Decidiu, então, uni-los à fervorosa congregação dos barnabitas. Contudo, São Alexandre, embora disposto a ajudar os “Humiliati”, recusou-se a aceitar uma medida que poderia prejudicar seus filhos espirituais, e São Carlos teve de renunciar a seu propósito.
A firmeza e o zelo apostólico de São Alexandre não passaram despercebidos ao grande reformador São Pio V, que o nomeou, em 1570, bispo de Aléria, na Córsega, apesar de suas resistências. São Carlos Borromeu conferiu-lhe a consagração episcopal, e o novo bispo partiu para sua diocese. A tarefa diante dele era imensa: o clero era ignorante e corrompido; o povo, ainda bárbaro, mal possuía noções de religião; a ilha estava infestada de bandidos, e as violentas vinganças entre famílias eram frequentes. São Alexandre levou consigo três barnabitas para auxiliá-lo. Logo ao chegar a Tallona — pois a cidade episcopal estava em ruínas — convocou um sínodo e anunciou as reformas que pretendia implementar. Em seguida, iniciou a visita pastoral, aplicando as novas leis com o rigor necessário. Seu governo durou vinte anos, e a transformação na ilha foi tamanha que passou a ser chamado o Apóstolo da Córsega. No terceiro sínodo diocesano, promulgou os decretos do Concílio de Trento, cuja aplicação firme foi o principal fator de reforma dos costumes. Enfrentou não só a oposição de seus subordinados, mas também a violência de estranhos, pois os piratas berberes frequentemente atacavam a ilha. Por isso, foi obrigado a mudar três vezes de residência e, finalmente, estabeleceu em Cervione sua catedral, seu cabido e seu seminário.

Durante seu episcopado, viajou várias vezes a Roma, onde tornou-se grande amigo de São Filipe Néri, que o considerava modelo de prelados. Era profundo canonista e escreveu várias cartas pastorais e obras catequéticas. Tendo obtido grande êxito na Córsega, ofereceram-lhe as dioceses de Tortona e Gênova, mas recusou mudar-se até que Gregório XIV o obrigou, por obediência, a aceitar o governo da diocese de Pávia, em 1591. Deus o chamou a Si no ano seguinte, quando visitava a diocese em Calozza. Durante a vida, São Alexandre possuía o dom de profecia e de acalmar tempestades. Os milagres continuaram após sua morte, e sua canonização ocorreu em 1904.
Nos Acta Sanctorum, outubro, vol. V, há uma biografia de São Alexandre escrita por seu contemporâneo J. A. Gabutius. Por ocasião da canonização, a Rivista di Scienze Storiche (1905–1908) publicou diversos documentos de grande valor, graças à diligência do Pe. O. Premoli, também autor da excelente obra Storia dei Barnabiti (2 vols., 1914, 1922). A biografia de F. T. Moltedo (1904) é menos documentada; mencione-se ainda a biografia francesa de A. Dubois (1904). Sobre seus escritos, veja-se G. Boffito, Scrittori Barnabiti (1933–1934). [3]

São Gomário era filho do senhor de Emblem, localidade situada nas proximidades de Lier, em Brabante. Embora não soubesse ler nem escrever, entrou para o serviço da corte de Pepino, onde se destacou pelo fiel cumprimento de seus deveres e pela caridade com que praticava as obras de misericórdia. Pepino o elevou a um cargo importante e arranjou-lhe o casamento com uma jovem de boa família chamada Guinimária.
Embora tal união não parecesse muito feliz aos olhos do mundo — pois Guinimária era extravagante, perversa, cruel, caprichosa e indisciplinada —, Deus serviu-se dela para conduzir Seu servo aos cumes da perfeição. É desnecessário dizer que a vida de São Gomário, a partir do casamento, tornou-se uma série de duras provações.
O santo esforçou-se durante anos, com prudência e caridade, para melhorar sua esposa e atraí-la à prática da religião. Depois, teve de ausentar-se por oito anos a serviço do rei Pepino na guerra. Quando voltou para casa, encontrou suas posses mal administradas e que poucos de seus vassalos haviam escapado da opressão. Guinimária era tão pouco generosa que se recusava até mesmo a dar um pouco de cerveja aos que colhiam a safra. Gomário tratou imediatamente de restituir a cada um de seus servos o que lhes era devido. Aparentemente, Guinimária deixou-se tocar pela prudência e bondade do marido e parecia disposta a corrigir-se; mas pouco tempo depois, voltou a ser dominada por seu péssimo caráter. Gomário ainda tentou ajudá-la, mas finalmente desistiu e retirou-se para a vida solitária. [4]
Diz-se que alguns anos depois, desejoso de empreender duma peregrinação a Roma, partiu com alguns amigos, Na tarde do primeiro dia de jornada, acamparam no prado dum rico homem, tendo os servidores que o acompanhavam, e aos amigos, cortado uma bela arvora para construir-lhes uma grande tenda, tal ato suscitou séria discussão entre os servidores e o proprietário das terras, que apareceu de repente.
Gomário, doce e gentil, depois de grandes esforços, tendo apaziguado a cólera do homem em cujos campos pararam, conseguiu autorização para ali permanecerem até a manhã seguinte. E o Santo, tomando dois pedaços da árvore, porque os servidores dela tinham feito dois postes, uniu-os apertadamente com o seu cinto, e todo sinal de que havia sido cortada desapareceu.
Abismado, o dono daquelas paragens tudo fez para que Gomário aceitasse aquele terreno. Recusando, o Santo acabou por aceitar a doação - uma vez que, à noite, um anjo, aparecendo-lhe na forma duma branca pomba, ordenou-lhe que não continuasse a peregrinação, aceitasse as terras e nelas construísse um oratório. Diz-se que São Gomário fundou, juntamente com São Rumoldo, o oratório (ou abadia) que mais tarde recebeu o nome de Ledon ou Lierre.
Logo, surgiu uma capela que Gomário dedicou a São Pedro. Ali, na fundação, São Gomário levou vida de contemplativo, enquanto que, em Emblehem, onde às vezes ia, fazia vida ativa, dedicando-se febrilmente às obras de misericórdia. São Gomário adoeceu, e morreu no mesmo dia - 11 de Outubro de 775. Estava, então, em Emblehem, mas foi levado para Lierre e ali enterrado. [5]
Nos Acta Sanctorum, outubro, vol. V, encontram-se uma biografia em verso e outra em prosa latina. P. G. Deckers estudou profundamente a vida de São Gomário em Leven en eerdienst van den h. ridder Gummarus (1872). Cf. T. Paaps, De hl. Gummarus, christische studie (1944).
Referência:
Encíclica Lux Veritatis, Concílio de Éfeso, Papa Pio XI (1931).
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 4, pp. 83-84.
Ibid. pp. 90-91.
Ibid. p. 88.
Vida dos Santos, Pe. Rohrbacher, vol XVIII, pp. 106-107.


























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