Vida de São Vilibaldo e São Paulo I, Bispos (7 de junho)
- Sacra Traditio

- 7 de jun.
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Atualizado: 22 de jul.
SÃO VILIBALDO, BISPO DE EICHSTÄTT (†786 d.C.)

Vilibaldo nasceu por volta do ano 700, no reino do oeste da Saxônia. Era filho de São Ricardo (7 de fevereiro) e, portanto, irmão dos santos Vunibaldo e Valburga. Aos três anos de idade, temia-se por sua vida, pois havia sido acometido por uma enfermidade gravíssima. Quando todos os remédios naturais se mostraram inúteis, seus pais o deitaram aos pés de uma grande cruz que se erguia num lugar público, próximo à casa da família; ali fizeram, diante de Deus, a solene promessa de que, se o menino sobrevivesse, o consagrariam ao seu divino serviço. A criança foi curada imediatamente. Ricardo deixou seu filho sob os cuidados do abade do mosteiro de Waltham, em Hampshire. Vilibaldo não voltou a sair dali até o ano 720, quando acompanhou seu pai e seu irmão numa peregrinação, como se narra na vida de São Ricardo (7 de fevereiro).
Em Roma, padeceu de febre palúdica e, após permanecer algum tempo na cidade, partiu novamente com seus companheiros para visitar os Santos Lugares que Cristo havia abençoado com sua presença enquanto viveu na terra. A viagem começou com a travessia até Chipre e, dali, prosseguiu rumo à Síria. Em Emesa (Homs), os sarracenos suspeitaram que São Vilibaldo era um espião e o prenderam, juntamente com seus companheiros, mas em pouco tempo todos foram libertados, pois o magistrado, ao vê-los, disse: “Muitas vezes vi homens da terra de onde esses vêm visitarem nosso país. Asseguro-vos que não desejam nos fazer mal algum e apenas querem cumprir suas leis”. Após essa aventura, seguiram para Damasco e, dali, para Nazaré, Caná, o Monte Tabor, Tiberíades, Magdala, Cafarnaum, as nascentes do Jordão (onde Vilibaldo observou que o gado maior era diferente do de Wessex, pois tinha “lombos muito longos, pernas curtas, chifres compridos e voltados para cima, e todos de uma só cor”), o deserto da Tentação, Gálgala e, por fim, Jerusalém. Ali, Vilibaldo permaneceu algum tempo para venerar a Cristo nos lugares onde operara tão grandes mistérios e para ver as maravilhas que até hoje se mostram aos piedosos peregrinos. Também visitou famosos mosteiros, “lauras” e eremitérios, com o desejo de aprender e imitar as práticas da vida religiosa, a fim de adotar os meios que lhe parecessem mais convenientes para a santificação de sua alma. Após uma breve estada em Belém, visitas às cidades do litoral, a Samaria, a Damasco e várias vezes a Jerusalém, embarcou finalmente em Tiro, permaneceu longo tempo em Constantinopla e chegou à Itália antes do fim do ano 730.
Vilibaldo decidiu estabelecer-se no célebre mosteiro de Monte Cassino, que acabava de ser restaurado por ordem do Papa São Gregório II. O exemplo do peregrino inglês contribuiu para reconduzir os monges ao espírito original de sua santa regra, durante os dez anos em que ali viveu; a bem da verdade, tudo indica que Vilibaldo desempenhou um papel muito importante na restauração da observância em Monte Cassino. Após esse período, esteve de visita em Roma, onde foi recebido pelo Papa São Gregório III, que se interessou por suas viagens e se sentiu atraído pelo caráter simples e pacífico de Vilibaldo, pedindo-lhe que fosse à Alemanha para unir-se à missão de seu compatriota São Bonifácio. Assim que pôde, partiu para a Turíngia, onde o santo o ordenou sacerdote. A partir de então, iniciou seu ministério na região de Eichstätt, na Francônia, com tal empenho que os mais extraordinários sucessos coroaram seus esforços.
Visto que não era menor seu poder nas palavras do que nas obras, pouco depois de sua chegada, São Bonifácio o consagrou bispo e o colocou à frente de uma nova diocese, cuja sede foi instalada em Eichstätt. O cultivo de um terreno espiritual tão árido quanto aquele foi uma tarefa árdua e penosa para Vilibaldo; mas sua paciência e energia superaram todas as dificuldades. Começou por fundar, em Heidenheim, um mosteiro duplo, cuja disciplina era a de Monte Cassino, e no qual seu irmão, São Vilibaldo, governava os monges, e sua irmã, Santa Valburga, as monjas. Aquele mosteiro foi o centro de onde se organizou e dirigiu o cuidado e a evangelização da diocese. Nele, Vilibaldo encontrava refúgio para descansar dos trabalhos de seu ministério. Mas seu desejo de solidão não diminuía sua solicitude pastoral pelo rebanho. Estava sempre atento a todas as suas necessidades espirituais; com frequência visitava cada aldeia e instruía seu povo com zelo e caridade incansáveis, até que aquele “campo tão árido e inculto floresceu logo como uma verdadeira vinha do Senhor”. Vilibaldo viveu mais tempo que seu irmão e sua irmã; governou seu rebanho por cerca de quarenta e cinco anos, antes que Deus o chamasse ao seu seio. Inúmeros milagres foram a recompensa de sua virtude, e seu corpo foi sepultado em sua catedral, onde ainda hoje repousa. A festa de São Vilibaldo é celebrada neste dia na diocese de Plymouth, mas o Martirológio Romano inscreveu seu nome no dia 7 de junho.

O material literário sobre a vida de São Vilibaldo é extraordinariamente abundante e digno de confiança. Contamos, sobretudo, com a narrativa de seus primeiros anos de vida, de suas viagens e observações (Hodoeporicon), cuidadosamente escrita por Hugeburga, uma inglesa, parente do santo e que foi monja em Heidenheim. O melhor dos textos encontra-se em Pertz, MGH. Scriptores, vol. XV. Mas há ainda várias biografias breves e muitas referências em cartas, estudos, etc. Todos os dados de maior importância podem ser encontrados em Mabillon, vol. III e nos bolandistas, Acta Sanctorum, julho, vol. II. A tradução inglesa do Hodoeporicon é de C. H. Talbot, em Anglo-Saxon Missionaries in Germany (1954) e nas publicações da Palestine Pilgrims’ Text Society (1891). Houve muitas discussões sobre alguns pontos obscuros da cronologia. Veja-se também Hauck, em Kirchengeschichte Deutschland, vol. I; H. Timeding, Die Christliche Frühzeit Deutschlands, parte 2 (1929); Analecta Bollandiana, vol. XLIX (1931), pp. 356–397; o abade Chapman em Revue Bénédictine, vol. XXI (1904), pp. 74–80 e Saint Benedict and the Sixth Century (1929), p. 131; W. Levison, England and the Continent in the Eighth Century (1946). [1]
SÃO PAULO I, BISPO DE CONSTANTINOPLA (350 a 351 d.C.)

São Paulo era natural de Tessalônica, mas desde a infância serviu como secretário do bispo Alexandre, em Constantinopla. Ainda muito jovem, ocupava já o ofício de diácono naquela igreja, e o venerável prelado, em seu leito de morte (ao que parece no ano 336), recomendou Paulo como seu sucessor. Os eleitores confirmaram a eleição. Consequentemente, os mais altos prelados ortodoxos consagraram São Paulo como bispo. Praticamente tudo o que se sabe sobre ele e sua vida é que seu episcopado foi perturbado por diversas tempestades causadas pelos hereges arianos, que haviam apoiado a candidatura de um diácono mais velho chamado Macedônio. A pedido dos rebeldes, o imperador Constâncio convocou um concílio de bispos arianos, os quais acabaram por depor Paulo. A sede vacante não foi ocupada por Macedônio, mas sim por Eusébio, metropolita da vizinha diocese de Nicomédia. São Paulo refugiou-se no Ocidente e só conseguiu recuperar sua sede após a morte de seu poderoso antagonista — a qual, por outro lado, não tardou a ocorrer. O regresso do bispo Paulo a Constantinopla foi recebido com grande regozijo pelo povo. Os arianos, que ainda se recusavam a reconhecê-lo, colocaram como bispo rival o idoso Macedônio; em breve, o conflito eclodiu abertamente, e as ruas da cidade tornaram-se palco de violentos tumultos. Constâncio tentou restabelecer a ordem e ordenou a seu general Hermógenes que expulsasse Paulo de Constantinopla. Mas o povo, enfurecido ante a perspectiva de perder seu bispo, incendiou a casa do general, capturou-o durante a fuga, assassinou-o e arrastou seu cadáver pelas ruas. Tal ultraje levou o próprio Constâncio a apresentar-se na cidade. Perdoou o povo, mas exilou São Paulo. Por outro lado, recusou-se a confirmar a eleição de Macedônio, uma vez que, assim como a de seu rival, fora feita sem a sanção imperial.
Mais uma vez encontramos São Paulo em Constantinopla no ano 344. Por então, Constâncio consentiu em restabelecê-lo em seu posto, temendo incorrer no desagrado de seu irmão Constante, que havia se aliado ao Papa São Júlio I para apoiar Paulo. Mas ao morrer o imperador do Ocidente, em 350, Constâncio enviou a Constantinopla o prefeito pretoriano Filipe, com instruções precisas para expulsar Paulo e colocar Macedônio em seu lugar. Para não ter um fim trágico como o do general Hermógenes, o astuto Filipe recorreu a uma artimanha. Convidou São Paulo a encontrá-lo nos banhos públicos de Zeuxipo e, enquanto o povo, desconfiando de algum ardil, se aglomerava diante do edifício, retirou Paulo por uma janela dos fundos; seus homens apoderaram-se dele e imediatamente o embarcaram. O infeliz bispo foi desterrado a Singara, na Mesopotâmia; de lá foi levado à cidade síria de Emesa e, por fim, à de Cucuso, na Armênia.* Ali foi encerrado num sinistro calabouço durante seis dias e noites, privado de alimento, e depois foi estrangulado. Este, ao menos, é o relato feito por Filágrio, um funcionário que servia em Cucuso na ocasião.
A vida e os feitos de São Paulo I de Constantinopla pertencem à história eclesiástica geral e a obras como Histoire des Conciles, de Hefele-Leclercq; History of the Early Church, de L. Duchesne; Histoire de l'Église, de Fliche e Martin — livros estes que devem ser consultados para conhecer os incidentes em seu próprio contexto e ambiente. Sobre a vida privada de São Paulo como homem e como pastor de almas, quase nada se sabe, a despeito de existirem duas biografias gregas posteriores, impressas em Migne, PG (ver BGH., nn. 1472, 1473). Os bolandistas, nos Acta Sanctorum, junho, vol. II, reuniram todas as informações que puderam encontrar na antiga literatura cristã. Concedem-lhe o título de mártir, que não lhe é atribuído no Martirológio Romano; mas nas Igrejas do Oriente é venerado como mártir. Sua festa, celebrada por gregos e armênios no dia 6 de novembro, está assinalada para o dia 5 de outubro entre os coptas. É digno de nota que o Hieronymianum faz menção de São Paulo, e daí passou seu nome ao Félire de Oengus. Ver também DCB, vol. IV, pp. 256–257; e igualmente, vol. II, pp. 775–777, sob o nome de Macedônio. [2]
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 2, pp. 486–488. Edição espanhola.
Ibid. pp. 484-485.
NOTA: *Cinquenta e quatro anos depois, outro bispo de Constantinopla, São João Crisóstomo, foi exilado para o mesmo lugar.


























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