Vida de São Teodórico e São Galo de Clermont: O Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo (1 de julho)
- Sacra Traditio

- 1 de jul.
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Atualizado: 13 de ago.
O PRECIOSÍSSIMO SANGUE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Desde a época dos Apóstolos, o Preciosíssimo Sangue do Senhor tem sido o símbolo da Redenção. Embora a devoção particular ao Preciosíssimo Sangue se deva, sobretudo, à iniciativa de São Gaspar del Búfalo (2 de janeiro), já muito antes essa devoção era praticada em várias Igrejas. Por exemplo, em 1582, concedeu-se à arquidiocese de Valência, na Espanha, o ofício “do Sangue de Cristo”; a diocese de Sarzana, na Toscana, obteve a mesma graça em 1747. No início do século XIX, concedeu-se à congregação de São Gaspar o privilégio de celebrar a festa do Preciosíssimo Sangue. O Papa Pio IX estendeu essa festa à Igreja universal em 1849, quando a revolução acabava de expulsá-lo de Roma. A data original da celebração era o primeiro domingo de julho, mas Pio X a transferiu para 1º de julho. Os passionistas e algumas outras congregações celebram outra festa no domingo imediatamente posterior ao “Laetare”. A catedral da arquidiocese de Westminster é dedicada ao Preciosíssimo Sangue.
Como observava Dom Guéranger, ao celebrar a festa do Preciosíssimo Sangue, a Igreja celebra o seu próprio nascimento, pois o sangue e a água que brotaram do lado de Cristo lhe deram existência. Assim, a ferida do lado de Cristo tornou-se fonte de vida para o mundo. Na homilia da leitura de matinas, São João Crisóstomo diz: “Assim, pois, a Igreja nasceu do lado de Cristo, como Eva, a esposa de Adão, nasceu do seu lado... Assim como Deus criou a mulher tirando-a do lado do homem, assim Cristo criou a Igreja tirando-a do seu próprio lado.” Santo Agostinho expressa-se de modo semelhante na homilia lida no terceiro noturno.
Veja-se: F. G. Holweck, Calendarium festorum Dei et Dei Matris (1925), p. 235; Moroni, Dizionario di Erudizione, vol. XIX, pp. 40-48; Nilles, Kalendarium manuale (1896-1897), vol. II, pp. 493-495; Buchberger, Lexikon für Theologie und Kirche, vol. II, cols. 401-404.
SÃO TEODÓRICO, ABADE (†533 d.C.)

Teodórico nasceu no distrito de Reims. Seu pai era um homem de temperamento difícil. Tendo contraído matrimônio para agradar à família, Teodórico persuadiu sua esposa a renunciar aos direitos conjugais. Mais tarde, foi ordenado sacerdote* na época de São Remígio e fundou uma comunidade religiosa no “Mont d'Or”, próximo a Reims. Teodórico tornou-se famoso pelas conversões que realizou, exortando os pecadores à penitência. Um de seus convertidos foi seu próprio pai, que perseverou em seus bons propósitos e morreu no mosteiro fundado pelo filho. Conta-se que São Teodórico curou milagrosamente o rei Teodorico I de uma doença nos olhos. Segundo a opinião mais comum, São Teodórico morreu em 1º de julho do ano 533.
Flodoardo escreveu no século X algumas páginas sobre São Teodórico. Existem, além disso, duas breves biografias latinas; podem ser vistas em Mabillon e nos Acta Sanctorum. Infelizmente, todas essas fontes são pouco fidedignas. [1]
SÃO GALO, BISPO DE CLERMONT (†551 d.C.)

Galo nasceu por volta do ano 486 em Clermont, na Auvérnia. Sua família era uma das mais distintas da região. O pai do santo dedicou grande cuidado à educação do filho. Quando este chegou à idade de se casar, propôs-lhe que desposasse a filha de um senador. Mas Galo, que já havia resolvido consagrar-se a Deus, fugiu da casa paterna e pediu para ser admitido no mosteiro de Cournon. O abade recusou-se a admiti-lo sem o consentimento do pai. Não se sabe como, o jovem conseguiu convencer seu pai e foi aceito na abadia. O bispo Quinciano, que não deixou de perceber as qualidades de Galo, ordenou-o diácono, fez dele membro do cabido da catedral e o enviou como seu representante à corte do rei. O jovem, que possuía uma voz extraordinária, passou a fazer parte do coro da capela de Teodorico I. Quinciano morreu por volta do ano 526, e Galo foi eleito para sucedê-lo no governo da diocese. A humildade, a caridade e o zelo do santo encontraram amplo campo de ação em seu novo encargo. A virtude característica de São Galo era a mansidão, como demonstram vários episódios. Certa vez, um homem lhe deu um golpe na cabeça; o bispo não mostrou raiva nem ressentimento, mas com sua mansidão desarmou o agressor. Noutra ocasião, um certo Evódio, que havia deixado o senado para receber a ordenação sacerdotal, deixou-se levar pela ira e tratou seu bispo de forma desrespeitosa. São Galo não respondeu uma só palavra; simplesmente levantou-se da cátedra e saiu para visitar as igrejas da cidade. O fato comoveu tanto Evódio, que foi atrás do santo e lhe pediu perdão de joelhos, na rua. Nos últimos anos de sua vida, São Galo dedicou-se especialmente à educação de seu sobrinho, que mais tarde se tornaria famoso com o nome de São Gregório de Tours.
Não se deve confundir este São Galo com seu famosíssimo homônimo irlandês que viveu quase um século mais tarde e deu nome a um dos cantões suíços. Os únicos dados que possuímos sobre este santo são os deixados por seu sobrinho, São Gregório de Tours, em seu tratado De vitiis patrum. O essencial encontra-se resumido nos Acta Sanctorum, julho, vol. I. [2]
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 3, pp. 1–10.
Ibid. pp. 20-20.
NOTA:
* Como vimos antes na vida de São Paulino de Nola, a obrigatoriedade do celibato para o clero ocidental foi se tornando norma disciplinar gradualmente. Já no Concílio de Elvira (c. 306), na Espanha, há um dos primeiros cânones exigindo continência para bispos, presbíteros e diáconos. No século IV, concílios locais (como Cartago e Hipona) reforçaram essa exigência. Contudo, o celibato absoluto como pré-requisito para ordenação tornou-se disciplina universal na Igreja latina a partir do século XI, especialmente com as reformas gregorianas sob o Papa São Gregório VII (pontificado 1073–1085), que proibiu a ordenação de homens casados. Desde então, o celibato passou a ser obrigatório antes da ordenação.


























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