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Vida de São Paulino de Nola e São Eberardo (22 de junho)

SÃO PAULINO, BISPO DE NOLA (431 d.C.)


SÃO PAULINO, BISPO DE NOLA (431 d.C.)

São Paulino, cujo nome completo era Pôncio Merópio Ânicio Paulino, foi um dos homens mais notáveis de sua época, elogiado com afeto e admiração por São Martinho, São Sulpício Severo, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Jerônimo, São Euquério, São Gregório de Tours, Apolinário, Cassiodoro e outros antigos escritores. Seu pai, prefeito nas Gálias, possuía terras na Itália, Aquitânia e Espanha. Paulino nasceu perto de Bordéus. Desde pequeno, teve como mestre de poesia e retórica o famoso poeta Ausônio. Guiado por tão excelente tutor, o jovem correspondeu às grandes esperanças nele depositadas e, ainda muito jovem, tornou-se notado e aplaudido na tribuna. “Todos — diz São Jerônimo — admiravam a pureza e elegância de sua linguagem, a delicadeza e generosidade de seus sentimentos, a força e suavidade de seu estilo e a vivacidade de sua imaginação.” Foram-lhe confiados numerosos cargos públicos e, embora não saibamos exatamente quais, há razões para supor que ocupou um alto posto na Campânia e também foi prefeito no Novo Epiro. Suas funções, quais quer que fossem, o mantinham constantemente ativo, em viagens longas e frequentes e, em sua vida pública, fez muitos amigos na Itália, Gálias e Espanha.


Casou-se com uma dama espanhola chamada Terásia e, após alguns anos, retirou-se para suas propriedades na Aquitânia para descansar e cultivar o espírito com a leitura. Foi então que estabeleceu contato com São Delfim, bispo de Bordéus, que posteriormente converteu e batizou Paulino e seu irmão. Depois de sua conversão, por volta do ano 390, foi viver com a esposa nas terras que possuía na Espanha, onde nasceu seu primeiro filho, após vários anos de espera; mas a criança faleceu ao oitavo dia de vida. A partir desse momento, Paulino e sua esposa decidiram levar uma vida mais conforme à doutrina cristã, praticando a austeridade e a caridade, e, sem demora, começaram a dispor de parte considerável de seus muitos bens em benefício dos pobres. Essa generosidade teve um desfecho que, ao que parece, surpreendeu o casal, sobretudo a Paulino. No dia de Natal, por volta do ano 393, em resposta a um pedido espontâneo, repentino e insistente do povo, o bispo de Barcelona conferiu a Paulino, em sua catedral, as ordens sacerdotais*, apesar de ele nem sequer ter sido ordenado diácono.**


Mas se os cidadãos esperavam reter Paulino consigo, ficaram desiludidos. Já antes haviam decidido estabelecer-se em Nola, uma pequena localidade perto de Nápoles, onde também possuíam propriedades. Logo que anunciou suas intenções e tentou vender suas propriedades na Aquitânia, como já o fizera com as de Terásia na Espanha, surgiram as objeções dos amigos e a oposição dos parentes. Contudo, não se deixou demover e levou adiante seus planos: transferiu-se para a Itália, onde Santo Ambrósio e outros amigos o receberam cordialmente. Em Roma, porém, teve uma acolhida fria por parte do Papa São Sirício e de seus clérigos, que provavelmente estavam ressentidos pelo caráter anticanônico de sua ordenação.*** Assim, sua permanência em Roma foi breve e partiu com a esposa para Nola. Ali estabeleceu residência numa grande casa de dois andares, fora dos muros da cidade, não distante do local onde se venerava o túmulo de São Félix. Apesar de seus generosos donativos, ainda conservava bastantes propriedades na Itália e uma fortuna considerável.


SÃO PAULINO, BISPO DE NOLA (431 d.C.)

Entretanto, pouco a pouco, foi desfazendo-se também disso em obras de caridade e no patrocínio de projetos que favorecessem a religião e a Igreja. Construiu uma igreja na localidade de Fondi, dotou Nola do aqueduto de que tanto necessitava e socorreu um exército de pobres, devedores, vagabundos, mendigos e enfermos, muitos dos quais praticamente habitavam o piso térreo de sua casa. Paulino, com alguns amigos, ocupava o andar superior, onde todos levavam uma existência dedicada à oração e penitência, muito semelhante à vida monástica. Presume-se que Terásia era a governanta que atendia a todos os moradores daquele estabelecimento. Anexa a ele, havia uma casa menor, com jardim, que servia para hospedar os visitantes. Entre os que usufruíram daquela hospitalidade, podem ser mencionados Santa Melânia a Velha e o bispo missionário São Niceto de Remesiana, que ali esteve por duas vezes. É notável o relato conservado na biografia de Santa Melânia, a Jovem, descrevendo sua chegada a Nola com o esposo e outros fiéis cristãos. Quando São Paulino fixou ali sua residência, já existiam três pequenas basílicas e uma capela em torno do túmulo de São Félix, que fora presbítero no local; Paulino acrescentou uma igreja a mais, cujas paredes mandou adornar com mosaicos. O próprio santo escreveu, em verso, uma descrição do edifício e de seus ornamentos. Três dessas igrejas compartilhavam a entrada principal e, ao que tudo indica, comunicavam-se internamente, de modo semelhante ao que se vê nas sete antigas basílicas que formam a igreja de Santo Estêvão, em Bolonha. Todos os anos, por ocasião da festa de São Félix, Paulino lhe prestava o que chamava de um tributo de seu serviço voluntário, sob a forma de um poema. Catorze ou quinze desses poemas ainda se conservam.


Com a morte do bispo de Nola, por volta do ano 409, São Paulino foi naturalmente indicado como o único adequado para ocupar a sede vacante e, assim, assumiu o episcopado até sua morte. Além da informação de que governou com grande sabedoria e generosidade, não temos muitos outros dados que ilustrem sua atuação como pastor de almas. Uma vez por ano, na festa de São Pedro e São Paulo, visitava Roma; fora isso, jamais abandonava Nola. Gostava, porém, de escrever cartas e, por correspondência, mantinha contato com todos os amigos e os mais destacados homens da Igreja de sua época, especialmente São Jerônimo e Santo Agostinho; a este último frequentemente consultava sobre diversas questões, inclusive para esclarecer certos trechos obscuros da Bíblia. Foi justamente para responder a uma solicitação de Paulino que Santo Agostinho escreveu seu livro Do cuidado com os mortos, no qual declara que os funerais pomposos e outras honras ostensivas servem apenas de consolo para os vivos, não para o falecido.


São Paulino de Nola, Bispo

São Paulino viveu até o ano 431, e seus últimos momentos foram descritos na carta de uma testemunha chamada Urânio. Três dias antes de morrer, foi visitado por dois bispos, Símaco e Acindino, com os quais celebrou os divinos mistérios, sem se levantar do leito. Em seguida, aproximou-se o sacerdote Postumiano para avisá-lo de que se deviam quarenta moedas de prata pela compra de roupas para os pobres. O santo moribundo respondeu, sorrindo, que certamente alguém pagaria a dívida dos pobres; e quase imediatamente chegou um mensageiro trazendo um donativo de cinquenta moedas de prata. No último dia, na hora das Vésperas, enquanto acendiam as lâmpadas na igreja, o bispo rompeu seu prolongado silêncio e, erguendo uma das mãos, murmurou estas palavras: “Já tenho preparada uma lâmpada para meu Cristo.” Poucas horas depois, os que o velavam sentiram um tremor sob os pés, como um pequeno terremoto e, naquele instante, São Paulino entregou sua alma a Deus. Foi sepultado na igreja que havia construído em honra de São Félix. Pouco depois, suas relíquias foram trasladadas a Roma, mas posteriormente, em 1909, foram devolvidas a Nola por ordem do Santo Papa Pio X.


Dos escritos de São Paulino, que parecem ter sido muito numerosos, conservam-se trinta e dois poemas, cinquenta e uma cartas e alguns fragmentos. É considerado o melhor poeta cristão de sua época, depois de Prudêncio. Seu epitalâmio para Julião, bispo de Eclano, é um dos mais antigos poemas cristãos conhecidos.


Não existe uma biografia propriamente dita de São Paulino escrita na antiguidade, mas contamos com a carta de Urânio descrevendo sua morte e com uma breve nota de São Gregório de Tours. Além disso, na correspondência do próprio Paulino e nas referências de seus contemporâneos, encontramos material biográfico abundante, que foi utilizado no Acta Sanctorum, junho, vol. V. Outra fonte de informação descoberta em tempos relativamente recentes é a Vida de Melânia, a Jovem, em textos gregos e latinos, na edição do cardeal Rampolla, Santa Melania Giuniore (1905). As melhores biografias modernas são as de A. Buse, F. Lagrange e A. Baudrillart, bem como um bom artigo no DCB, vol. IV, pp. 234-245, e também no DTC, vol. XV, cc. 68-71. Veja-se ainda G. Boissier em La Fin du Paganisme, vol. II, pp. 49-103; F. de Labriolle, La Correspondance d’Ausone et de Paulin (1910); C. Weyman, Beiträge zur Geschichte der christlich-lateinischen Poesie (1929), pp. 92-103; P. Fabre, S. Paulin et l’amitié chrétienne (1947); e P. Labriolle, Histoire de la Littérature Chrétienne (1947), p. 877. [1]


SÃO EBERARDO OU EVERARDO, BISPO DE SALZBURGO (1164, aprox.)


SÃO EBERARDO OU EVERARDO, BISPO DE SALZBURGO

A mãe de Eberardo era uma mulher muito piedosa e de grande religiosidade, descendente de família nobre, que vivia em Nuremberg, onde deu à luz seu filho, entre os anos de 1085 e 1090. Educado pelos beneditinos, recebeu um cargo de cônego na catedral de Bamberg, ao qual renunciou logo para ingressar na abadia de Mont Saint Michel. No entanto, o capítulo de Bamberg não consentiu que permanecesse no claustro, e o bispo insistiu em enviá-lo para estudar em Paris até obter o grau de mestre. Eberardo completou o curso com altas distinções e regressou a Bamberg sem que tivesse diminuído seu desejo de entregar-se à vida religiosa. Visto que toda oposição parecia inútil, o bispo Otto e os cônegos consentiram em que ingressasse no mosteiro de Priifening, próximo a Regensburgo. Ali encontrou Eberardo o guia espiritual que necessitava, na pessoa do abade Erbo, a quem seus contemporâneos, modestamente, compararam ao profeta Elias e a São João Batista. Pouco depois deixou Priifening, ao ser chamado para assumir o cargo de superior numa nova abadia que haviam fundado em Biburgo, entre Ingoldstein e Regensburgo, seus dois irmãos e sua irmã.


Sob seu prudente governo, a nova comunidade cresceu rapidamente em número e em fervorosa vida espiritual. As virtudes e habilidades de Eberardo eram reconhecidas por todos e, tão logo a sé de Salzburgo ficou vaga, em 1146, foi eleito para ocupar a cátedra episcopal. O primeiro ato de Eberardo como arcebispo foi estabelecer a concórdia numa longa disputa entre o capítulo e duas abadias e, a partir de então, atuou constantemente como mediador entre as partes em conflito. Mas o principal objetivo a que dedicou suas energias foi a melhoria moral de seu povo, tanto clérigos como leigos e, sobretudo, não poupou esforços para erradicar certos abusos que eram praticados extensamente em sua arquidiocese. Obteve tanto êxito nessa empresa, que o imperador Conrado III, ao passar por Salzburgo, felicitou publicamente o arcebispo pelos resultados de suas ordenanças de reforma.


O santo arcebispo convocou dois sínodos; em um deles manifestou sua devoção pela Mãe de Deus, ao dispor que as principais festas da Virgem Maria fossem complementadas com oitavas. Durante a luta que teve lugar entre Frederico Barba-Ruiva e o Papa Alexandre III, Eberardo foi um dos poucos dignitários alemães que se recusaram a reconhecer o antipapa “Vítor IV”. Frederico mostrou-se indignado com sua atitude, mas o prestígio do arcebispo era tão grande que não se fez a menor tentativa para obrigá-lo a mudar de parecer, nem para intervir em sua posição de qualquer forma. A última das atividades registradas de São Eberardo foi a realização de uma viagem com o objetivo de restabelecer a paz entre dois nobres cavaleiros em disputa. Conseguiu o que desejava, mas na viagem de regresso caiu gravemente enfermo e morreu no mosteiro do Cister em Reihn, no ano de 1164.


Por volta do ano 1180, foi escrita a biografia mais antiga sobre São Eberardo. Portz a editou em MGH., Scriptores, vol. XI, pp. 78-84 e também se encontra no Acta Sanctorum, junho, vol. V. São Eberardo foi um personagem de importância no mundo político de seu tempo; em consequência, figura destacadamente nos escritos de todos aqueles que estudaram e discutiram a situação criada pelas campanhas de Frederico Barba-Ruiva contra o Papa. Veja-se, por exemplo, Hauck, em Kirchengeschichte Deutschland, vol. IV; J. Engel, Schisma Barbarossas in Bisthum Freising (1930). Devemos advertir que não há nenhum fundamento para afirmar que São Eberardo foi o autor do tratado Oratio de Hildebrandi antichristiano Imperio. A causa de canonização de Eberardo foi insistentemente apresentada pelo arcebispo Burkhard em 1469, mas nunca chegou a ser emitido o decreto. [2]


Referência:


  1. Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 2, pp. 621–624.

  2. Ibid. pp. 624-625.


NOTA:


*São Paulino de Nola, embora casado com Terásia, foi eleito bispo após ambos abraçarem vida de continência perfeita, vivendo como irmão e irmã. Nos primeiros séculos da Igreja, o matrimônio não era impedimento absoluto para o sacerdócio, mas era exigida a continência perfeita dos clérigos ordenados, mesmo que casados previamente. A obrigatoriedade do celibato para o clero ocidental foi se tornando norma disciplinar gradualmente. Já no Concílio de Elvira (c. 306), na Espanha, há um dos primeiros cânones exigindo continência para bispos, presbíteros e diáconos. No século IV, concílios locais (como Cartago e Hipona) reforçaram essa exigência. Contudo, o celibato absoluto como pré-requisito para ordenação tornou-se disciplina universal na Igreja latina a partir do século XI, especialmente com as reformas gregorianas sob o Papa São Gregório VII (pontificado 1073–1085), que proibiu a ordenação de homens casados. Desde então, o celibato passou a ser obrigatório antes da ordenação.


**O caso de conferir as ordens sagradas por aclamação popular tem outros exemplos. Além do conhecido caso da elevação de Santo Ambrósio ao episcopado, há um episódio semelhante ocorrido com o esposo de Santa Melânia a Jovem (31 de dezembro). Melânia e Piniano, não só foram contemporâneos, mas também amigos pessoais de São Paulino e, como ele, haviam distribuído grandes somas de dinheiro em esmolas.


***A eleição de São Paulino de Nola ao episcopado ocorreu de forma não habitual para a disciplina canônica vigente. Sem ter percorrido o cursus honorum clerical (leitor, acólito, diácono, presbítero), foi ordenado presbítero repentinamente, por pressão popular, logo após sua conversão, e em seguida elevado ao episcopado. Em Roma, no final do século IV, sob o pontificado de São Sirício (384-399), havia crescente rigor na observância das normas canônicas relativas à formação e ordenação dos bispos, o que explica a frieza com que foi recebido. A rápida ascensão de Paulino, sem longa vida clerical prévia e sob forte influência popular, suscitava reservas quanto à regularidade de sua eleição e ordenação, ainda que não afetasse sua validade.


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