Vida de Santa Helena, Mãe de Constantino e São Agápito, Mártir (18 de agosto)
- Sacra Traditio
- 18 de ago.
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Segundo se diz, Agápito tinha apenas quinze anos quando compareceu diante do governador de Preneste (Palestrina), Antíoco. Como se negasse a abjurar da fé, foi açoitado, encarcerado e finalmente decapitado, durante o reinado do imperador Aureliano. A lenda bordou sobre as “atas”, como em tantos outros casos. O relato lendário diz que Agápito passou quatro dias na prisão sem comer nem beber, colocaram-lhe brasas sobre a cabeça e foi pendurado pelos pés sobre uma fogueira fumegante; além disso, foi banhado com água fervente e teve a mandíbula deslocada. Antíoco enfureceu-se de tal modo ao ver a constância da vítima, que caiu morto de um síncope. Como as feras do circo não tocassem no mártir, o carrasco teve de decapitá-lo. Esses fatos impressionaram tanto o tribuno Anastásio, que se converteu instantaneamente ao cristianismo. [1]
Por volta do século V, o Papa Félix III mandou erguer uma basílica em honra de São Agapito, no local tradicional de seu martírio. As relíquias do santo foram inicialmente conservadas nesta basílica, em torno do qual se formou um cemitério cristão. [2]
É absolutamente certa a existência do culto primitivo deste mártir, já que o mencionam os sacramentários da época, e a pouco mais de um quilômetro de Palestrina conservam-se as ruínas de uma basílica a ele consagrada, na qual há um epitáfio que traz seu nome. Além disso, nos séculos IX e X lhe foram dedicadas várias igrejas. Veja-se CMH., pp. 448-449; A. Kellner, Der hl. Agapitus von Praeneste em Studien und Mitteilungen (1930), pp. 404-432; e as notícias biográficas citadas por O. Marucchi em CMH.

Pelo que se pode conjecturar, Santa Elena nasceu em Drepano, na Bitínia. Provavelmente era filha de um estalajadeiro. O general romano Constâncio Cloro a conheceu por volta do ano 270 e casou-se com ela, apesar de sua origem humilde. Quando Constâncio Cloro foi feito césar, divorciou-se de Elena e casou-se com Teodora, enteada do imperador Maximiano. Alguns anos antes, em Naissus (Niš, na Sérvia), Elena havia dado à luz Constantino, o Grande, que passou a amar e venerar profundamente sua mãe, a quem concedeu o título de “Nobilissima Femina” (mulher nobilíssima) e mudou o nome de sua cidade natal para Helenópolis. Alban Butler afirma: “A tradição unânime dos historiadores britânicos sustenta que a santa imperatriz nasceu na Inglaterra”; mas, na realidade, a afirmação tão repetida pelos cronistas medievais de que Constâncio Cloro casou-se com Elena, “que era filha de Coel de Colchester”, carece de fundamento histórico. Provavelmente, tal lenda, favorecida por certos panegíricos de Constantino, originou-se da confusão com outro Constantino e outra Elena, a saber: a Elena inglesa que casou-se com Magno Clemente Máximo, que foi imperador da Inglaterra, Gália e Espanha, de 383 a 388; o casal teve vários filhos, um dos quais se chamou Constantino (Custennin). Esta Elena recebeu o título de “Luyddog” (hospitalária). Esse título passou, mais tarde, a ser aplicado também a Santa Elena, e um documento do século X diz que Constantino era “filho de Constrancio (sic) e de Elena Luicdauc, a qual partiu da Inglaterra em busca da cruz de Jerusalém e a trasladou dessa cidade para Constantinopla”. Alguns historiadores supõem que as igrejas dedicadas a Santa Elena em Gales, Cornwall e Devon derivam seu nome de Elena Luyddog. Outra tradição afirma que Santa Elena nasceu em Tréveris, cidade que também pertencia aos domínios de Magno Clemente Máximo.
Constâncio Cloro viveu ainda quatorze anos após repudiar Santa Elena. À sua morte, ocorrida no ano 306, suas tropas, então estacionadas em York, proclamaram césar seu filho Constantino; dezoito meses depois, Constantino foi proclamado imperador. O jovem entrou em Roma em 28 de outubro de 312, após a batalha da Ponte Mílvio. No início do ano seguinte, publicou o Édito de Milão, que tolerava o cristianismo em todo o Império. Segundo se deduz do testemunho de Eusébio, Santa Elena converteu-se ao cristianismo por volta dessa época, quando já tinha perto de sessenta anos, enquanto Constantino permaneceria catecúmeno até a hora de sua morte: “Sob a influência de seu filho, Elena tornou-se uma cristã tão fervorosa como se desde a infância tivesse sido discípula do Salvador”. Assim, embora tenha conhecido Cristo em idade tão avançada, a santa compensou com seu fervor e zelo sua longa temporada de ignorância, e Deus quis conservar-lhe a vida por muitos anos para que, com seu exemplo, edificasse a Igreja que Constantino se esforçava por exaltar com sua autoridade. Rufino qualifica de incomparáveis a fé e o zelo da santa, os quais soube comunicar aos cidadãos de Roma. Elena assistia aos divinos ofícios nas igrejas, vestida com grande simplicidade, e isso constituía seu maior prazer. Além disso, empregava os recursos do Império em esmolas generosíssimas e era mãe dos indigentes e desamparados. As igrejas que construiu foram muito numerosas. Quando Constantino se tornou senhor do Oriente, após sua vitória sobre Licínio, em 324, Santa Elena foi à Palestina visitar os lugares que o Senhor havia santificado com sua presença corporal.
Constantino ordenou destruir o pátio e o templo de Vênus que o imperador Adriano havia mandado construir sobre o Gólgota e o Santo Sepulcro, respectivamente, e escreveu ao bispo de Jerusalém, São Macário, para que erigisse uma igreja “digna do lugar mais extraordinário do mundo”. Santa Elena, que já estava quase octogenária, encarregou-se de supervisionar a construção, movida pelo desejo de descobrir a cruz na qual havia morrido o Redentor. Eusébio diz que o motivo da viagem de Santa Elena a Jerusalém foi simplesmente agradecer a Deus pelos favores derramados sobre sua família e encomendar-se à sua proteção; mas outros escritores atribuem-no a certas visões que a santa tivera em sonhos, e São Paulino de Nola afirma que um dos objetivos da peregrinação era, precisamente, descobrir os Santos Lugares. Em sua carta ao bispo de Jerusalém, Constantino ordenava expressamente que fossem feitas escavações no Calvário para descobrir a cruz do Senhor. Em nossos artigos sobre a Festa da Invenção da Santa Cruz (3 de maio) e sobre São Macário (10 de março), referimos as circunstâncias da descoberta das três cruzes em uma cisterna na encosta leste do Calvário e a maneira como se chegou a distinguir a verdadeira cruz. Também falamos em nosso artigo de 3 de maio sobre a falta de dados contemporâneos acerca da descoberta da cruz e sobre os documentos que relacionam o nome de Santa Elena com o evento. O primeiro desses documentos é um sermão pregado por Santo Ambrósio no ano 395, em que diz que, quando a santa descobriu a cruz, “não adorou a madeira, mas ao rei que nela havia morrido, cheia de um ardente desejo de tocar a garantia de nossa imortalidade”. Vários outros escritores da mesma época afirmam que Santa Elena desempenhou papel importante na descoberta da cruz; mas é necessário advertir que São Jerônimo vivia em Belém e não diz uma palavra sobre isso.
Podemos, porém, fazer um resumo aqui:
Em algum momento do século IV, os cristãos de Jerusalém começaram a venerar uma cruz que acreditavam ser aquela na qual Jesus havia morrido. A descoberta dessa cruz pode ter ocorrido já na década de 320, quando o bispo Macário é conhecido por ter limpo a área ao redor do Gólgota e do Santo Sepulcro. Também na década de 320, a cidade foi visitada por Santa Helena, mãe do imperador Constantino, que construiu várias igrejas naquele local.[3]
Com base nesses fatos históricos, a História da Igreja, escrita por Rufino em 402, afirmou que foi Helena quem realizou a limpeza em Gólgota e, durante as escavações, encontrou três cruzes. Por sugestão de Macário, ele e Helena levaram as cruzes a uma mulher enferma e tocaram cada uma delas nela, sucessivamente. Ao tocar na terceira cruz, "ela começou a correr por toda a casa glorificando o poder do Senhor"[4]. Isso confirmou a identidade da Vera Cruz [ou Verdadeira Cruz], e Helena construiu a Igreja do Santo Sepulcro no local onde a Cruz havia sido encontrada.
No século V, surgiu uma recontagem grega da história, posteriormente traduzida para o latim sob o título Vita Cyriaci. Esta versão é a base da maioria dos relatos ocidentais sobre a permanência de Helena em Jerusalém.[5] Nesses relatos, o histórico Macário desaparece, sendo substituído por um judeu chamado Judas, que alerta seus correligionários de que sua fé será destruída se Helena encontrar a Cruz, pois grande parte da história cristã é verdadeira.

De fato, nenhum judeu tinha permissão para entrar em Jerusalém no século IV.[6] Helena convoca os judeus e exige que eles lhe digam onde a cruz está enterrada, sob pena de morte. Temendo suas ameaças de destruir toda a cidade, eles entregam Judas, que parece saber algo. Ele finge ignorância e é jogado em um poço por sete dias. Finalmente, ele ora a Deus para revelar o local "se for da tua vontade que o Filho de Maria reine" (si tua voluntas est regnare filium Mariae, Vita Cyriaci, 447). Uma coluna de fumaça revela o lugar, e Judas desenterra três cruzes. Nesse momento, ele vê pessoas carregando o corpo de um jovem morto em um esquife. Assim como Macário fez com a mulher enferma, ele toca sucessivamente as três cruzes no corpo e verifica a terceira como a Verdadeira Cruz, quando o jovem retorna à vida. Judas então se converte ao cristianismo. Mais tarde, torna-se bispo de Jerusalém com o nome de Ciriaco e, nessa função, lidera um grupo que desenterra os "Santos Pregos" usados na Crucificação. [7]
Como quer que tenha sido, Santa Elena passou, certamente, seus últimos anos na Palestina. Eusébio diz: “Elena ia constantemente à igreja, vestida com grande modéstia, e se colocava com as outras mulheres. Também adornou com ricas decorações as igrejas, sem esquecer as capelas das aldeias de menor importância”. O mesmo autor lembra que a santa construiu a basílica “Eleona” no Monte das Oliveiras e outra basílica em Belém. Era bondosa e caridosa com todos, especialmente com as pessoas devotas, às quais servia respeitosamente à mesa e oferecia água para lavatório. “Embora fosse imperatriz do mundo e dona do Império, considerava-se serva dos servos de Deus”. Durante suas viagens pelo Oriente, Santa Elena prodigalizou toda sorte de favores às cidades e seus habitantes, sobretudo aos soldados, aos pobres e aos que estavam condenados a trabalhar nas minas; libertou muitos miseráveis da opressão e das correntes e devolveu à pátria muitos exilados. No ano 330, o imperador Constantino mandou cunhar as últimas moedas com a efígie de Flávia Júlia Elena, o que nos leva a supor que a santa morreu nesse ano. Provavelmente a morte a surpreendeu no Oriente, mas seu corpo foi trasladado para Roma. O Martirológio Romano comemora Santa Elena em 18 de agosto. No Oriente celebra-se sua festa em 21 de maio, junto com a de seu filho Constantino, cuja santidade é mais do que duvidosa. Os bizantinos chamam Santa Elena e Constantino de “os santos, ilustres e grandes imperadores, coroados por Deus e iguais aos Apóstolos”.
A principal fonte de informação sobre Santa Elena é a biografia de Constantino escrita por Eusébio, cujos principais trechos podem ser vistos em Acta Sanctorum, agosto, vol. nt. Ver também M. Guidi, Un Bios di Constantino (1908); DAC., vol. vi, cc. 2126-2145. Entre as biografias mais populares de Santa Elena citaremos as de R. Couzard, Ste Hélène d’après l’histoire et la tradition (1911) e A. M. Rouillon, Sainte Hélène (1908) na coleção Les Saints. Ambas as obras insistem demasiado na discutível transladação das relíquias da santa para Hautvilliers, na França. Como demonstra Delehaye (CMH., p. 450), que segue Duchesne, Santa Elena não foi sepultada em Constantinopla, mas em Roma, na Via Lavicana. J. Maurice publicou uma interessante obrita sobre Santa Elena na coleção L'Art et les Saints (1929). Deve-se ler o romance de Evelyn Waugh, Helena, à luz do prefácio do autor. Cf. também Thurston, em The Month, maio de 1892, pp. 88-100. [8]
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, "SÃO AGÁPITO, MÁRTIR", vol. 3, pp. 349–350.
Dom Gaspar LeFebvre, O.S.B., Saint Andrew Daily Missal, with Vespers for Sundays and Feasts (1952), p. 1409 (em inglês). Disponível em: https://archive.org/details/saintandrewdaily0000domg/page/1408/mode/2up?utm_source=chatgpt.com&view=theater.
Head, Thomas. Medieval Hagiography: An Anthology. New York: Routledge, 2000, pp. 77-79.
Rufinus, Church History, 402; Roman Breviary, II, 850 (tradução em inglês).
Vita Cyriaci, século V.
Herberman, Charles, Edward A. Pace, Conde B. Pallen, et al. The Catholic Encyclopedia. 15 vols. New York: Encyclopedia Press, 1914-17; "Jerusalem (A.D. 71–1099)" e "Aelia Capitolina".
Richard Stracke, St. Helena: The Iconography, Roman Martyrology for August 18, Augusta University (última atualização 11/09/2022). Disponível em: christianiconography.info
Butler, Alban. Vida dos Santos, "SANTA ELENA", vol. 3, pp. 351–353.
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