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OS MÁRTIRES DA CHINA II e a Vida de São João Fisher (9 de julho)

Atualizado: 20 de jul.


OS MÁRTIRES DA CHINA II (1900 d.C.)


OS MÁRTIRES DA CHINA II (1900 d.C.)

A época moderna das missões na China começa em meados do século XIX, quando o tratado de Nanquim e outros acordos internacionais abriram o país ao mundo exterior e garantiram a tolerância ao cristianismo. Seguiu-se então um período de intensa atividade missionária e comercial: no final do século, os ingleses controlavam 80% do comércio externo chinês. Alarmadas com a possibilidade de ver a China cair em mãos estrangeiras, como ocorrera com a Índia, as autoridades reagiram contra os “demônios estrangeiros”, até então tolerados pelo primeiro-ministro Li Hungehang.


Com o apoio da imperatriz viúva Tzu-hsi, foi formada uma sociedade secreta para expulsar os europeus. Os ingleses deram aos membros dessa sociedade o nome de “Boxers”. Em 1900, os boxers se rebelaram, cercaram as embaixadas estrangeiras e assassinaram numerosos comerciantes e missionários. Entre as vítimas estavam cinco bispos, vinte e nove sacerdotes, nove religiosas (todos europeus) e entre vinte mil e trinta mil católicos chineses. Em Roma estuda-se hoje a causa de cerca de três mil desses mártires; vinte e nove deles foram beatificados em 1946.


Na época da revolta boxer, o vigário apostólico de Shansi era o BEATO GREGÓRIO GRASSI, bispo titular de Ortósias. Natural do Piemonte, pertencia à Ordem dos Frades Menores e, com 67 anos, já trabalhava como missionário na China há quarenta anos. Em 1900, encontrava-se no seminário do seu vicariato, em Taiyuanfu. Em maio daquele ano, foi nomeado governador da cidade um inimigo declarado dos cristãos, Yu Hsien. A situação se tornava cada vez mais perigosa. Havia entre os frades um irmão leigo de constituição robusta, ANDRÉ BAUER, alsaciano, ex-membro do 7º regimento de couraceiros da França. Ele quis organizar uma resistência armada junto com o mandarim cristão Li Fu, mas seus superiores o proibiram. O BEATO FRANCISCO FOGOLLA, coadjutor de Mons. Grassi, respondeu ao irmão André: “Se Deus quer que sejamos mártires, aceitemos sua vontade.” Mons. Fogolla era franciscano e nascera na Toscana em 1839.


OS MÁRTIRES DA CHINA II (1900 d.C.)

Em 27 de junho, os boxers atacaram missões protestantes vizinhas. Na mesma noite, Mons. Grassi fechou o seminário e mandou os seminaristas voltarem às suas casas. Cinco deles não conseguiram: BEATOS JOÃO CHANG, PATRÍCIO TONG, FELIPE CHANG, outro JOÃO CHANG e JOÃO WANG. Tinham entre 16 e 23 anos. Foram presos nas portas da cidade e levados diante do prefeito, que lhes ordenou renunciar ao cristianismo. Os jovens recusaram-se firmemente. Após alguns dias de prisão, foram levados ao pátio da casa de Yu Hsien. Mons. Grassi estava angustiado pela sorte das missionárias Franciscanas de Maria,* sob sua proteção. Ordenou que se vestissem como as mulheres locais para fugirem, mas elas não quiseram: “Não nos impeçais de morrer convosco, Monsenhor; se formos fracas, Deus nos dará força.” A superiora era a BEATA MARIA HERMINIA CRIVOT, nascida em Baume, Borgonha, em 1866, com apenas 15 meses de missão na China. Sua coragem deu ânimo às outras. Entre elas havia duas italianas, MARIA GIULIANI e CLARA NANETTI; duas francesas, MARIA SAINT JUST MOREAU e NATALIA KERGUIN; uma belga, AMANDINA JEURIS; e uma holandesa, ADOLFINA DIERKxX, com idades entre 25 e 38 anos. Mons. Grassi arranjou carroças para levar os órfãos às casas de cristãos, mas os soldados impediram. Dois dias depois, os órfãos foram arrancados à força. Yu Hsien emitiu um decreto proibindo reuniões cristãs. A madre Hermínia, desejando proteger os órfãos, foi aconselhada a descansar. Respondeu: “Descansar? Já o faremos na eternidade!” Os soldados incendiaram casas vizinhas e isolaram os missionários do mundo.


Em 5 de julho, os dois bispos, as religiosas, os padres ELIAS e TEODORICO e o irmão ANDRÉ foram levados à casa de Yu Hsien. O BEATO ELÍAS FACCHINI, de Bolonha, era idoso e lecionara por mais de 30 anos no seminário de Shansi. O BEATO TEODORICO BALAT, francês de Albi, era homem bondoso e reservado, fluente em chinês, e atuava em missão difícil e remota.


OS MÁRTIRES DA CHINA II (1900 d.C.)

Em 9 de julho, os boxers atacaram protestantes reunidos em casa próxima.** Os missionários entenderam que sua hora havia chegado. No momento em que Mons. Grassi dava a absolvição final à sua pequena grei, os boxers invadiram. Sem julgamento, Yu Hsien decapitou os dois bispos. As religiosas ajoelharam-se, entoaram o Te Deum e expuseram o pescoço à espada. A madre Clara, que havia profetizado seu martírio, foi a primeira a morrer. Também morreram os três franciscanos e os cinco seminaristas. Junto com eles, nove humildes criados da missão deram suas vidas por Cristo, embora pudessem ter escapado. Seus nomes, inscritos no livro dos beatos, são: TOMÁS SEN, SIMÃO CHEN, PEDRO U’NGANPAN, FRANCISCO CHANG YUN, MATIAS FUN TE, TIAGO YEN KUTUN, PEDRO CHANG PANNIEN, TIAGO CHAO SIUENSIN e PEDRO YANOL MAN. Os seminaristas e religiosas foram, respectivamente, os protomártires dos seminaristas chineses e das Franciscanas Missionárias de Maria. Os católicos chineses chamaram o local do martírio de “Mansão da Paz Celestial.”


Quatro dias depois, em Hengchufú, na província de Honã, outro franciscano, o Pe. CESÍDIO GIACOMANTONIO, foi capturado pelos boxers no momento em que retirava o Santíssimo Sacramento do tabernáculo, antes de abandonar sua igreja. Após espancá-lo brutalmente, os boxers o banharam em óleo e o queimaram lentamente. O Beato Cesídio havia chegado à China sete meses antes. Foi o primeiro mártir e o primeiro beato do colégio franciscano de São Antônio de Roma.


OS MÁRTIRES DA CHINA II (1900 d.C.)

Assim que soube do martírio do Pe. Cesídio, o vigário apostólico do sul de Honã, Dom ANTÔNIO FANTOSATI, dirigiu-se a Hengchowfú, acompanhado do Pe. JOSÉ GÁMBARO. Os boxers os reconheceram quando navegavam pelo rio, obrigaram-nos a desembarcar e os apedrejaram na margem. O Beato José morreu primeiro. O Beato Antônio agonizou durante duas horas, até que um golpe de lança pôs fim à sua vida.


Para que a beatificação desses vinte e nove mártires pudesse ser realizada, era necessário provar que tinham sido assassinados por causa da fé e não simplesmente por razões políticas ou por serem, em sua maioria, estrangeiros. A principal prova foi um edito do governador Yu Hsien, que dizia textualmente:


A religião europeia é cruel e perversa, despreza o homem e oprime o povo. Todos os cristãos (chineses) que não renunciarem à sua religião, serão executados... Ouvi, cristãos, e tremei! Renunciai a essa religião perversa! Temei e obedecei! Os boxers não odeiam nenhum ser humano, o que odeiam é a religião.”

OS MÁRTIRES DA CHINA II (1900 d.C.)

A cerimônia de beatificação dos primeiros mártires de 1900 teve lugar na basílica de São Pedro em Roma, a 24 de novembro de 1946. Entre os presentes encontravam-se duas religiosas chinesas da congregação das missionárias de Maria, que haviam sido testemunhas da execução de alguns dos mártires. Uma delas, que tinha setenta anos, havia ficado pendurada durante uma hora pelos polegares e, como consequência, perdera o uso desses dedos; além disso, os boxers a haviam obrigado a beber o sangue de uma das vítimas. A outra religiosa era neta de um dos mártires.


Cinco anos depois, proclamou-se a beatificação de ALBÉRICO CRESCITELLI. Esse missionário havia nascido em Nápoles, em 1863, e chegado à China em 1888. Seu vasto campo de trabalho havia sido a margem do rio Han. Durante dez anos, o Pe. Albérico percorreu de aldeia em aldeia, pregando e fundando escolas. Quando estourou a perseguição dos boxers, o missionário encontrava-se no sul de Shansi, ao final de uma viagem de três meses que realizara de barco, a cavalo e a pé. O Pe. Albérico caiu nas mãos da turba sedenta de sangue, que o atormentou durante vinte e quatro horas e, por fim, o esquartejou. Seu martírio teve lugar a 22 de julho de 1900.


Conserva-se o testemunho escrito de vários testemunhas oculares da execução desses mártires. Em 1902, foi publicada em Roma a obra Vie de la Mére Marie-Hermine de Jésus et de ses compagnes; trata-se de um volume “in octavo” de 580 páginas, no qual se narra detalhadamente a vida das sete religiosas. M. T. de Blarer publicou em Paris, em 1946, um resumo dessa obra (146 páginas). Em ambos os livros há alguns detalhes sobre os mártires franciscanos. Veja-se também: Les vingt-neuf martyrs de Chine... (1946). Na obra Missions de Scheut (1924), há uma lista completa dos missionários europeus martirizados na China entre 1815 e 1923. Sobre outros mártires da China, cf. nosso artigo de 17 de fevereiro. [1]


SÃO JOÃO FISHER, BISPO DE ROCHESTER E CARDEAL, MÁRTIR (1535 d.C.)


SÃO JOÃO FISHER, BISPO DE ROCHESTER E CARDEAL, MÁRTIR (1535 d.C.)

São João Fisher, bispo, cardeal e mártir, nasceu em 1469, em Beverley, cidade da qual outro santo, também chamado João, havia tomado seu nome oito séculos antes. O pai de João, um modesto comerciante, morreu quando seus filhos ainda eram muito jovens. Aos quatorze anos, João foi estudar na Universidade de Cambridge. Destacou-se tanto nos estudos, que foi nomeado catedrático no famoso colégio Michaelhouse, o qual, mais tarde, foi incorporado ao Trinity College. Aos vinte e dois anos obteve a dispensa de idade para ser ordenado sacerdote e tornou-se, sucessivamente, doutor em teologia, diretor do Michaelhouse e vice-chanceler da Universidade. Em 1502, renunciou à sua cátedra para assumir o cargo de capelão da mãe do rei, Margarida Beaufort, condessa de Richmond e Derby. Ao que parece, Margarida Beaufort conhecera o Pe. Fisher sete anos antes, quando ele foi à corte de Greenwich para tratar de alguns assuntos da Universidade. Como todas as outras pessoas que o conheciam, Margarida Beaufort ficou impressionada com seu saber e sua santidade. A mãe do rei era uma mulher muito inteligente, erudita e rica, que havia vivido num mundo de intrigas e política com os três maridos que teve. Ao ficar viúva pela terceira vez, decidiu consagrar o resto de sua vida a Deus, sob a direção do Pe. Fisher.


Guiada pelo santo, Margarida empregou sabiamente sua fortuna. Entre outras coisas, fundou na Universidade de Cambridge os colégios de Cristo e de São João para substituir outros antigos colégios que estavam em plena decadência, e estabeleceu na Universidade de Oxford uma cátedra de teologia. A Universidade de Cambridge considera Margarida Beaufort como sua principal benfeitora — e com toda justiça. Infelizmente, essa Universidade esqueceu mais facilmente o quanto deve a João Fisher. Quando o santo chegou a Cambridge, os estudos estavam em decadência; não se ensinava nem grego nem latim, e a biblioteca da Universidade tinha apenas trezentos volumes. Pois bem, João Fisher não só cuidou de todos os assuntos administrativos relacionados às fundações de Margarida Beaufort, mas também trabalhou muito para fomentar os estudos na Universidade; fundou várias bolsas, reintroduziu o grego e o hebraico no currículo e conseguiu que Erasmo fosse ensinar em Cambridge.


Em 1504, João Fisher foi eleito chanceler da Universidade e desempenhou esse ofício até sua morte. Pouco depois, no mesmo ano, o rei Henrique VII o nomeou bispo de Rochester, embora ele tivesse apenas trinta e cinco anos. O santo aceitou, não sem certa relutância, essa dignidade que se somava ao trabalho que já tinha na Universidade. Apesar disso, cumpriu seus deveres pastorais com um zelo incomum para a época: visitava sua diocese, administrava a confirmação, promovia a disciplina entre o clero, ia visitar os pobres doentes em suas choupanas, distribuía esmolas generosamente e era extraordinariamente hospitaleiro. Embora pareça incrível, ainda encontrava tempo para escrever livros e continuar os estudos. Aos quarenta e oito anos, começou a estudar grego, e aos cinquenta e dois, hebraico. Conservam-se ainda as orações fúnebres que ele proferiu em 1509, por ocasião da morte de Henrique VII e de Margarida de Beaufort. Ambas as peças oratórias são consideradas clássicos da época. A oração fúnebre do rei constitui um tributo nobre e sincero à memória do soberano e mal tem algo do tom adulador exagerado que costumava ser usado nessas ocasiões. O santo bispo levava uma vida muito austera: dormia apenas quatro horas, praticava penitências com frequência e, durante as refeições, mantinha diante de si um crânio para lembrar-se da morte. Humanamente falando, seu maior prazer eram os livros, e formou uma das melhores bibliotecas da Europa, com a intenção de doá-la à Universidade de Cambridge.


Era tão pouco ambicioso que, quando lhe ofereciam outras dioceses mais ricas do que a sua, respondia que “não trocaria sua pobre esposa pela mais rica viúva da Inglaterra”. Quando o luteranismo começou a se espalhar, sobretudo em Londres e nas universidades, o santo foi escolhido para pregar contra aquela doutrina, por causa de seu saber e eloquência. Escreveu quatro volumosos livros contra Lutero, onde se encontra a primeira refutação da nova doutrina. Esses e outros trabalhos literários tornaram João Fisher famoso não apenas na Inglaterra, mas em toda a Europa. Mais tarde, um monge cartuxo felicitou o santo pelos serviços prestados à Igreja com seus escritos; João Fisher respondeu que lamentava não ter consagrado aquele tempo à oração, pois com isso teria servido ainda melhor à Igreja. O embaixador de Carlos V escrevia que João Fisher era “o exemplo de todos os bispos da cristandade, por seu saber e santidade”, e o rei Henrique VIII dizia, em sua juventude, que nenhum outro reino possuía um prelado tão distinto quanto ele. A grande intuição do santo bispo o fez compreender perfeitamente os vícios de seu tempo e os perigos que ameaçavam a Igreja. Também ele era um reformador dos abusos e dos vícios, mas não um deformador da verdade. Num sínodo convocado pelo cardeal Wolsey, em 1518, o santo protestou valentemente contra a mundanidade, a frouxidão e a vaidade do alto clero, que geralmente obtinha as dignidades eclesiásticas pelos serviços prestados ao Estado. Como João Fisher, ao contrário de outros bispos, não procurava servir a dois senhores, sustentou sem vacilar, nove anos depois, a validade do matrimônio de Henrique VIII com Catarina de Aragão.


Em 1529, foi um dos conselheiros da rainha no processo de anulação do casamento, que se realizou em Blackfriars perante o cardeal Campeggio, e atuou como o melhor dos defensores de Catarina de Aragão. Em um discurso eloquente diante do tribunal, demonstrou a validade do matrimônio, argumentou que nenhum poder humano ou divino tinha o direito de dissolvê-lo e concluiu recordando que São João Batista havia sofrido o martírio por defender o vínculo matrimonial. O rei respondeu aos argumentos do bispo com um documento furibundo que ainda se conserva no “Record Office”, com as anotações marginais de João Fisher. Pouco depois, Roma reservou a questão para seu exame, e com isso terminou a participação do santo. Mas, após defender a santidade do matrimônio, João Fisher tornar-se-ia o paladino dos direitos da Igreja e da supremacia do Papa. Como membro da Câmara dos Lordes, clamou contra as medidas anticlericais aprovadas pela Câmara dos Comuns. “Essas medidas equivalem a gritar: Morram a Igreja!”, clamou o santo. Também protestou energicamente quando a assembleia foi forçada a reconhecer que Henrique VIII era a cabeça da Igreja. Foi ele quem conseguiu que se introduzissem no documento de aprovação as palavras: “Na medida em que a lei de Cristo o permite”; e mesmo isso ele considerou um mal menor.


SÃO JOÃO FISHER, BISPO DE ROCHESTER E CARDEAL, MÁRTIR (1535 d.C.)

João Fisher não precisava das súplicas dos amigos nem das ameaças dos inimigos para compreender o perigo em que se colocava ao se opor ao poder real. Já havia estado duas vezes na prisão; seus inimigos haviam tentado envenená-lo e, em outra ocasião, a bala disparada contra ele da margem oposta do rio penetrou pela janela da biblioteca onde ele se encontrava. Thomas Cromwell tentou em vão envolvê-lo no caso de Isabel Barton, “a santa donzela de Kent”. Mas quando as Câmaras aprovaram a questão da sucessão, o destino de João Fisher ficou selado. Com efeito, seus inimigos o convocaram a Lambeth para assinar o documento sobre a sucessão, apesar de estar tão doente que perdeu a consciência no caminho de Rochester a Londres. O santo não tinha nada a objetar à questão da sucessão em si, mas recusou-se a prestar o juramento na forma como estava redigido, pois isso equivaleria a afirmar a supremacia do rei. Ele mesmo escrevera a Cromwell: “Não condeno a consciência dos outros. Mas eles se salvarão com a sua consciência, e eu com a minha.” Essas palavras referiam-se ao fato de que os outros bispos haviam prestado o juramento. Por recusar-se a prestá-lo, João Fisher foi imediatamente encarcerado na Torre de Londres.


Quando os tribunais aprovaram oficialmente a acusação de traição feita contra o santo, ele foi deposto de sua sede, considerada como vacante. João Fisher tinha então sessenta e seis anos, mas a má saúde, as austeridades que praticara e os sofrimentos suportados davam-lhe o aspecto de um homem de oitenta anos. Segundo dizem, estava tão fraco que mal podia sustentar o peso das vestes. O cardeal Pole, que o havia visto três anos antes, consumido pela fadiga, admirava-se de que o santo tivesse resistido a dez meses de prisão na Torre do Sino. Em novembro de 1535, o Papa Paulo III enviou-lhe o barrete cardinalício, o que enfureceu o rei e apressou o desfecho. Henrique VIII exclamou: “Que o Papa envie o barrete, se quiser. Eu me encarregarei de que Fisher o carregue sobre os ombros, pois já não terá cabeça.” Como a vontade real era lei, ninguém duvidou de que o julgamento do santo bispo terminaria com uma condenação à morte. Com efeito, embora alguns dos juízes chorassem, a sentença de pena capital foi lida em 17 de junho de 1535.


Cinco dias depois, os guardas o despertaram às cinco da manhã para levá-lo ao local da execução. O santo lhes pediu que o deixassem descansar um pouco mais e dormiu tranquilamente por duas horas. Depois vestiu-se e lançou sobre os ombros uma capa de pele “para não me resfriar antes da execução”, conforme observou. Em seguida, pegou seu pequeno exemplar do Novo Testamento e desceu penosamente a escada, devido à fraqueza. À porta, o esperava uma carroça que o conduziu à saída da prisão. Ali teve que esperar alguns momentos, recostado contra a parede; abriu seu Novo Testamento e pediu a Deus que lhe desse coragem. Segundo dizem, as primeiras palavras que leu foram as de Cristo antes da Paixão: “A vida eterna consiste em Te conhecer, único Deus verdadeiro, e a teu enviado, Jesus Cristo. Eu Te glorifiquei na terra e cumpri a tarefa que me confiaste.” Fortalecido por essas palavras, o ancião pôde ir a pé até Tower Hill e subir sozinho ao cadafalso. Quando se voltou para dirigir algumas palavras à multidão, sua silhueta alta e esquelética lembrava um esqueleto. Com voz muito clara, disse que morria pela fé da Santa Igreja Católica, fundada por Cristo, e pediu à multidão que rezasse por ele, para que não fraquejasse diante da morte. Ao terminar de recitar o “Te Deum” e o salmo “In te, Domine, speravi”, os guardas vendaram-lhe os olhos. A cabeça do santo rolou por terra ao primeiro golpe do machado do carrasco. A vingança de Henrique VIII perseguiu o servo de Deus além da morte. Seu corpo, que ficou exposto o dia todo à curiosidade da plebe, foi atirado sem nenhuma consideração numa cova no átrio da igreja de All Hallows Barking. Sua cabeça permaneceu espetada durante duas semanas na ponte de Londres, junto com as dos mártires cartuxos. Segundo um cronista, “parecia que a cabeça estava viva e olhava para os que se dirigiam a Londres.” Quinze dias depois, a cabeça do santo foi lançada ao rio para dar lugar à de Tomás Moro.


Em maio de 1935, quase exatamente quatro séculos após sua morte, João Fisher foi solenemente canonizado, junto com seu amigo Tomás Moro. Na Inglaterra, no País de Gales e na diocese escocesa de Dunkeld, celebra-se no dia 9 de julho a festa dos dois mártires.


Letters and Papers, Foreign and Domestic, of the Reign of Henry VIII, publicados pelo Record Office, incluem os melhores documentos sobre a vida de João Fisher. Mas também existe uma importante biografia, escrita por um contemporâneo do santo. O Pe. Van Ortroy, bolandista, publicou na Analecta Bollandiana, vols. X e XII (1891-1893), uma cuidadosa edição dessa biografia, baseada na comparação dos diversos manuscritos e da tradução latina. A Early English Text Society publicou outro texto em 1915. Como as duas obras citadas preservavam a ortografia original, o Pe. Philip Hughes publicou, em 1935, uma edição popular com a ortografia moderna, com uma excelente introdução e algumas notas. Essa biografia foi atribuída durante muito tempo a Ricardo Hall, que, na realidade, apenas a traduziu do latim; provavelmente o verdadeiro autor foi o Dr. João Young, vice-chanceler da Universidade de Cambridge no reinado da rainha Maria. Ao que parece, a obra foi escrita pouco depois de 1567. O Pe. T. Bridget, em sua Life of John Fisher (3ª ed., 1902), utilizou todos os documentos existentes; trata-se de uma biografia que é um modelo do gênero: muito séria, muito crítica e muito espiritual. Veja-se também a obra mais popular de N. M. Wilby (1929); R. L. Smith, John Fisher and Thomas More (1935). A primeira parte das English Works de Dom Fisher foi editada por J. E. B. Mayor (1876); a segunda parte por R. Bayne (1915). [2]


Referência:


  1. Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 3, pp. 62–65.

  2. Ibid. pp. 53-57.


NOTA:

* Essa congregação foi fundada em 1877 por Maria Helena de Chappotin de Neville. As primeiras religiosas chegaram à China nove anos após a fundação.


** Nesse ataque morreram 33 protestantes. A esposa do "pastor" protestante norte-americano Ernesto Atwater, cuja nora estava entre as vítimas, narrou os fatos em carta de 3 de agosto, escrita em Fenchufu. Nela se lê: “No dia seguinte, foram também decapitados os sacerdotes e religiosas católicas de Taiyuan.” Ernesto Atwater, sua esposa e dois filhos foram assassinados em 15 de agosto do mesmo ano. Protestantes ou outros hereges que morrem acreditando defender a Cristo não são mártires e não são salvos fora da Igreja Católica.

"Ninguém, por mais esmolas que dê, ainda que derrame seu sangue pelo Nome de Cristo, pode salvar-se se não permanecer no seio e na unidade da Igreja Católica" (Papa Eugênio IV, Concílio de Florença, Cantate Domino, 1441, ex cathedra)


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