Os Mártires da Pérsia: Vida de São Domingos de Gusmão e Santa Ia (4 de agosto)
- Sacra Traditio

- 4 de ago.
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Atualizado: 6 de out.

São Domingos nasceu no início de 1171 em Calaroga, povoado de Castela que então se chamava Caleruega. Nada sabemos com certeza sobre seu pai, exceto que se chamava Félix e que, ao que parece, pertencia à família de Gusmão. A mãe de São Domingos foi a Beata Joana de Aza. Os poucos detalhes que conhecemos sobre seu nascimento e infância podem ser vistos no artigo dedicado à Beata Joana de Aza no dia 8 deste mês. Aos catorze anos, Domingos deixou a casa de seu tio, que era arcipreste de Gumiel de Izán, e ingressou na escola de Palência. Ainda era estudante quando foi nomeado cônego da catedral de Osma e, depois de sua ordenação, consagrou-se ao cumprimento dos deveres de cônego. O cabido vivia em comunidade, sob a regra de Santo Agostinho, e sua regularidade e observância foram um magnífico exemplo para o jovem sacerdote. Ao que parece, Domingos viveu ali sem se distinguir dos demais cônegos, exercitando-se na virtude e preparando-se para a tarefa que Deus lhe havia reservado. Raramente saía da casa dos cônegos e passava a maior parte do tempo na igreja, “chorando os pecados alheios e lendo e praticando os conselhos que dá Cassiano em suas Conferências”. Quando Diego de Acevedo foi eleito bispo de Osma por volta do ano 1201, Domingos o sucedeu como prior do cabido. Tinha então trinta e um anos e havia praticado a vida contemplativa à qual nos referimos por seis ou sete anos. Em 1204, esse período chegou ao fim e o jovem apareceu no mundo de modo inesperado.
Naquele ano, Afonso IX de Castela enviou o bispo de Osma à Dinamarca para negociar o casamento de seu filho, e o prelado levou consigo Domingos. No caminho à Dinamarca, os viajantes atravessaram o Languedoc, onde a heresia albigense havia se difundido muito. Em Toulouse hospedaram-se na casa de um albigense. Cheio de compaixão por seu anfitrião, Domingos passou a noite toda discutindo com ele e, ao nascer do sol, o homem havia recuperado a fé e abjurado de seus erros. A maioria dos autores supõe que, naquele instante, Domingos compreendeu o que Deus queria dele. Ao retornar da Dinamarca, o bispo e Domingos foram a Roma pedir a Inocêncio III que os enviasse a pregar o Evangelho aos cumanos na Rússia. O Pontífice, que soube apreciar o zelo e a virtude dos missionários, exortou-os a consagrar seus esforços a lutar dentro da cristandade para extirpar a heresia. Domingos e o bispo passaram depois por Cister, cujos monges o Papa encarregara especialmente de combater os albigenses. Em Montpellier encontraram-se com o abade de Cister e outros dois monges, Pedro de Castelnau e Raul de Fontefroide, que haviam trabalhado na missão do Languedoc. Diego e Domingos então perceberam que todos os esforços feitos até aquele momento para extirpar a heresia haviam sido inúteis.
O sistema albigense baseava-se no dualismo entre o bem e o mal. A este último princípio, oposto ao bem, pertencia a matéria e tudo o que era material. Por conseguinte, os albigenses negavam a realidade da Encarnação e rejeitavam os sacramentos; a perfeição exigia que o homem renunciasse à procriação, comesse e bebesse o mínimo possível, e o suicídio era considerado louvável. Naturalmente, a maioria dos albigenses não praticava estritamente sua doutrina, mas o pequeno círculo dos “perfeitos” vivia numa pureza heroica, e seu proceder ascético contrastava com a vida cômoda dos monges cistercienses. Nessas circunstâncias, era inútil tentar converter os hereges por meio do uso razoável das coisas materiais, já que o povo seguia instintivamente aqueles que levavam uma vida heroica — e esses não eram certamente os pregadores cistercienses. Vendo isso, São Domingos e o bispo de Osma exortaram os cistercienses a imitar o exemplo dos hereges: a não viajar a cavalo, a não se hospedar nas melhores estalagens e a dispensar os criados que os acompanhavam. Uma vez que conseguissem chamar a atenção do povo com sua vida de penitência, deveriam empregar as armas da persuasão e do debate, em vez das ameaças. A tarefa era tanto mais difícil quanto o albigensismo constituía uma religião nova, mais que uma heresia originada do cristianismo, e sua forma mais radical ameaçava a própria existência da sociedade humana. São Domingos estava convencido de que era possível opor um dique ao albigensismo, e Deus quis valer-se de sua pregação como instrumento para fazer penetrar sua graça no coração de muitos hereges.
São Domingos não se contentou em pregar o exemplo, mas o deu ele mesmo. Assim, organizou uma série de debates com os hereges, que surtiram algum efeito no povo, mas não entre os chefes da heresia. O bispo de Osma retornou pouco depois à sua diocese, enquanto seu companheiro permaneceu na França; mas, antes da partida do prelado, São Domingos já havia dado o primeiro passo para fundar a ordem destinada a deter o albigensismo. Observou que as mulheres desempenhavam um papel importante na propagação da heresia, e que as jovens, depois de receberem em casa os princípios da má doutrina, continuavam sua “educação” em conventos albigenses. Em 1206, no dia da festa de Santa Maria Madalena, São Domingos recebeu um sinal do céu e, em menos de seis meses, fundou em Prouille um convento com nove monjas que ele convertera da heresia, e, próximo dali, alojou os homens que o ajudavam no apostolado. Dessa forma, começou a preparar pregadores virtuosos, a oferecer refúgio a mulheres convertidas, a zelar pela educação das jovens e a organizar uma casa religiosa onde se rezava continuamente.

O assassinato do legado pontifício, Pedro de Castelnau, pelas mãos de um criado do conde de Toulouse, desencadeou uma “cruzada” contra os albigenses, na qual se praticaram todos os horrores e crueldades de uma guerra civil. O chefe dos albigenses era Raimundo VI, conde de Toulouse; o dos católicos era Simão IV de Montfort, conde de Leicester. São Domingos não acreditava na eficácia nem na legitimidade de uma empreitada que tentasse impor a ortodoxia pela força, e é falso que tenha tido algo a ver com o estabelecimento da Inquisição, pois o tribunal começou a funcionar no sul da França desde o fim do século XII.* O santo jamais se envolveu em nenhuma das execuções cruéis realizadas pela Inquisição. Os historiadores da época mencionam unicamente, como armas de São Domingos, a instrução, a paciência, a penitência, o jejum, as lágrimas e a oração. Em certa ocasião, quando o bispo de Toulouse foi visitar sua diocese com uma comitiva de soldados e criados, o santo o repreendeu com estas palavras: “Em vão tentareis converter dessa maneira os inimigos da fé. A oração é mais eficaz que a espada e a humildade mais útil que os vestidos finos.” Domingos esteve prestes a ser eleito bispo em três ocasiões; mas se opôs firmemente, pois sabia que Deus o destinava a outra missão.
São Domingos já havia pregado por dez anos no Languedoc, e ao seu redor reunira-se um grupo de pregadores. Até então, usava o hábito dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho e seguia sua regra. Mas desejava ardentemente reacender o espírito apostólico dos ministros do altar, pois sua ausência era a principal causa do escândalo do povo e do florescimento do vício e da heresia. Para isso, planejava fundar um grupo de religiosos, que não seriam necessariamente sacerdotes nem se dedicariam exclusivamente à contemplação, como os monges, mas uniriam à contemplação o estudo das ciências sagradas e a prática dos ministérios pastorais, especialmente da pregação. O objetivo principal do santo era multiplicar na Igreja pregadores zelosos, cujo espírito e exemplo facilitassem a difusão da luz da fé e do calor da caridade, capazes de ajudar eficazmente os bispos a curar as feridas infligidas à Igreja pela falsa doutrina e pela vida dissoluta. Para facilitar a tarefa de São Domingos, o bispo Fulco, de Toulouse, concedeu-lhe, em 1214, uma renda, e, no ano seguinte, aprovou a fundação embrionária da nova ordem. Poucos meses depois, São Domingos acompanhou o bispo ao IV Concílio de Latrão.
Inocêncio III acolheu muito amavelmente o santo e aprovou o convento de religiosas de Prouille. Além disso, introduziu no décimo cânon do Concílio uma cláusula que ressaltava a obrigação de pregar e a necessidade de escolher pastores poderosos em obras e palavras, capazes de instruir e edificar os fiéis com o exemplo e a pregação. Embora nesse cânon o Pontífice sublinhasse a necessidade de formar pregadores aptos, a aprovação da nova ordem não era tarefa fácil, porque o próprio Concílio legislara contra a multiplicação das ordens religiosas. Diz-se que Inocêncio III havia decidido recusar o pedido, mas que naquela mesma noite sonhou que a igreja de São João de Latrão estava prestes a ruir e que São Domingos a sustentava. Seja como for, o certo é que o Papa aprovou verbalmente a nova fundação e ordenou ao santo que consultasse seus irmãos sobre qual das regras religiosas já aprovadas desejavam seguir. Em agosto de 1216, reuniram-se em Prouille, Domingos e seus dezesseis companheiros, dos quais oito eram franceses, sete espanhóis e um inglês. Após discutirem os prós e os contras, decidiram adotar a regra de Santo Agostinho, que era a mais antiga e menos detalhada de todas as existentes, escrita para sacerdotes por um sacerdote e pregador eminente. São Domingos acrescentou algumas cláusulas, tomadas em parte das regras dos premonstratenses. Inocêncio III morreu em 18 de julho de 1216 e Honório III foi eleito para sucedê-lo. Isso retardou um pouco a viagem de São Domingos a Roma, mas, enquanto isso, foi concluído o primeiro convento de Toulouse, ao qual o bispo doou a igreja de São Romão. Ali começaram os primeiros dominicanos a levar vida comunitária com votos religiosos.
São Domingos chegou a Roma em outubro de 1216. Honório III aprovou nesse mesmo ano a nova comunidade e suas constituições: “considerando que os religiosos de vossa ordem serão paladinos da fé e luz do mundo, Nós confirmamos vossa ordem.” São Domingos continuou suas pregações em Roma com grande sucesso, até depois da Páscoa. Foi então que se tornou amigo do cardeal Ugolino (mais tarde Gregório IX) e de São Francisco de Assis. Segundo conta a lenda, São Domingos sonhou que a ira divina estava prestes a descarregar-se sobre o mundo pecador, mas foi contida pela intercessão de Nossa Senhora diante de seu Filho, ao apontar-lhe dois personagens: um era o próprio São Domingos, o outro era um desconhecido. No dia seguinte, encontrava-se o santo em oração na igreja, quando entrou nela um mendigo coberto de trapos. O santo reconheceu imediatamente nele o homem de seu sonho; aproximou-se, abraçou-o e disse: “Vós sois meu companheiro e deveis estar ao meu lado, pois se permanecermos unidos não haverá poder humano capaz de resistir-nos.” O encontro dos dois homens de Deus, Domingos e Francisco, é celebrado duas vezes ao ano, em suas respectivas festas; de fato, nesses dias, os membros de cada ordem cantam a missa nas igrejas da outra e se reúnem “para comer o pão que não faltou em sete séculos”. Alguns autores compararam São Domingos com São Francisco; mas tal comparação é pouco inteligente, pois ambos os santos se completam e se corrigem mutuamente, e os únicos pontos que têm em comum são a fé, o zelo e a caridade.
No dia 13 de agosto de 1217, os frades pregadores reuniram-se com o fundador em Prouille. Santo Domingo lhes deu instruções sobre o modo de pregar e ensinar, e os exortou a estudar sem descanso; sobretudo, lembrou-lhes que sua principal obrigação era a própria santificação e que estavam destinados a prosseguir a obra dos Apóstolos para estabelecer no mundo o reino de Cristo. Falou-lhes também sobre a humildade, sobre a desconfiança de si mesmos e a confiança em Deus; dessa forma, seriam capazes de superar todas as aflições e perseguições, e de combater a grande batalha contra o mundo e os poderes do inferno. Com grande surpresa de todos, pois a heresia havia ganho terreno no local onde se encontravam, Santo Domingo dispersou os irmãos no dia da Assunção em todas as direções, dizendo-lhes: “Tende confiança em mim. Eu sei o que faço. Nossa obrigação não é armazenar a semente, mas semeá-la.” Quatro dos frades partiram para a Espanha, sete para Paris, um voltou a Toulouse, dois permaneceram em Prouille, e o fundador dirigiu-se a Roma no mês de dezembro. Santo Domingo tinha a intenção de renunciar ao papel na nascente ordem e ir pregar o Evangelho aos tártaros, mas Deus disporia as coisas de outro modo.

Quando São Domingos chegou a Roma, o Papa lhe confiou a Igreja de São Sisto. Ao mesmo tempo em que fundava ali um convento, ensinava teologia; sua pregação em São Pedro chamou a atenção da multidão. Naquela época, a maioria das religiosas de Roma não observava a clausura e vivia sem regras, algumas em pequenos conventos e outras na casa de seus pais ou amigos. Inocêncio III havia tentado várias vezes reunir todas as religiosas dispersas em um convento de clausura, mas não o havia conseguido. Assim, incumbiram São Domingos de realizar essa reforma, e ele a executou. Cedeu às religiosas seu próprio mosteiro de São Sisto, que acabava de construir; o Papa lhe deu, em troca, para seus frades, uma casa no Aventino e a igreja de Santa Sabina. Conta-se que, na Quarta-feira de Cinzas de 1218, a abadessa e as religiosas que iam se mudar para o convento de São Sisto estavam na sala capitular com São Domingos e três cardeais, quando um mensageiro trouxe a notícia de que o jovem Napoleão, sobrinho do cardeal Stephen, acabara de morrer ao cair do cavalo. São Domingos ordenou que transportassem o cadáver para a sala capitular e pediu ao irmão Tancredo que preparasse o altar para a Missa. Os cardeais e suas comitivas, a abadessa e suas monjas, os frades e uma grande multidão que se reuniu dirigiram-se à igreja. Ao terminar a celebração do santo sacrifício, São Domingos endireitou um pouco os membros machucados do cadáver, ajoelhou-se para orar e fez o sinal da cruz sobre o morto. Em seguida, levantou as mãos ao céu e exclamou: “Napoleão, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, eu te ordeno que te levantes.” O jovem ressuscitou imediatamente, sem um só ferimento, diante da multidão.
Como frei Mateus da França havia tido sucesso na fundação de uma casa da ordem na Universidade de Paris, São Domingos enviou alguns de seus irmãos à Universidade de Bolonha, onde o Beato Reginaldo de Orléans realizou a fundação de um dos mais famosos conventos da ordem. Entre 1218 e 1219, o fundador viajou pela Espanha, França e Itália, fundando conventos. No verão de 1219, chegou a Bolonha, onde estabeleceu sua residência habitual até o fim da vida. Em 1220, Honório III confirmou o santo no cargo de superior geral. No Pentecostes desse mesmo ano, reuniu-se o primeiro capítulo geral da ordem, em Bolonha; nele foram redigidas as constituições definitivas, que fizeram da Ordem dos Pregadores “a mais perfeita das organizações monásticas que a Idade Média produziu” (Hauck): uma ordem religiosa no sentido moderno da palavra, onde a unidade é a ordem e não o convento, cujos membros dependem de um superior geral e cujas regras levam a marca inconfundível do fundador, particularmente no que se refere à capacidade de adaptação e à supressão da propriedade.
São Domingos pregava em todos os lugares por onde passava e orava constantemente pela conversão dos infiéis e dos pecadores. Se essa tivesse sido a vontade de Deus, o santo teria querido derramar seu sangue por Cristo e ir pregar aos bárbaros a boa nova do Evangelho. Por isso, fez do ministério da palavra o fim principal de sua instituição. Queria que todos os seus religiosos se dedicassem à pregação, cada um segundo sua capacidade, e que os que tinham especial talento de pregadores só interrompessem o ministério para se retirarem, de tempos em tempos, a pregarem a si mesmos na solidão e no silêncio. A vocação dominicana consiste em “compartilhar com os outros o fruto da contemplação”. Essa é a razão pela qual os membros da ordem se preparam longamente, por meio da prática da oração, da humildade, da abnegação e da obediência.
São Domingos repetia frequentemente: “Quem domina suas paixões é senhor do mundo. Quem não as domina torna-se seu escravo. Mais vale ser martelo do que bigorna.”
São Domingos ensinava seus missionários a falar diretamente ao coração, por meio da prática da caridade. Alguém lhe perguntou certa vez em que livro havia preparado o sermão que acabara de pregar: “No livro do amor”, respondeu o fundador. A cultura, o ensino e o estudo da Bíblia foram, desde o início, elementos essenciais da ordem; não é de se estranhar que os dominicanos se tenham distinguido no trabalho intelectual, nem que se tenha chamado o fundador de “o primeiro Ministro da Instrução Pública na Europa moderna.” O espírito de oração e recolhimento é outra das características dos dominicanos, como o foi de São Domingos, que pedia incessantemente a Deus que lhe concedesse o verdadeiro amor ao próximo e a capacidade de ajudar os outros. O santo exigia inflexivelmente o cumprimento das regras que havia imposto. Ao chegar a Bolonha, em 1220, notou que no convento que se edificava havia certa elegância que não combinava com o espírito de pobreza da ordem; sem hesitar um instante, mandou parar a construção. Graças a esse enérgico espírito de disciplina, a ordem se espalhou rapidamente. Em 1221, quando se reuniu o segundo capítulo geral, já havia cerca de sessenta conventos, distribuídos em oito províncias; os dominicanos já tinham chegado à Polônia, Escandinávia, Palestina, e o irmão Gilberto, com outros doze frades, havia fundado as casas de Canterbury, Londres e Oxford. A Ordem dos Pregadores encontra-se atualmente estabelecida em todo o mundo.

Ao terminar o segundo capítulo geral, São Domingos foi visitar o cardeal Ugolino em Veneza. Na volta dessa viagem, sentiu-se doente e foi levado para o campo, para respirar um ar mais puro, mas já havia compreendido que se aproximava a hora de sua morte. Falou a seus irmãos sobre a beleza da castidade. Como não possuía bens temporais, redigiu seu testamento nestes termos: “Meus filhos muito queridos, eis aqui minha herança: conservai a caridade entre vós, permanecei humildes e observai voluntariamente a pobreza”. Depois de exortar longamente seus filhos à pobreza, o santo pediu que o levassem novamente a Bolonha, porque desejava ser sepultado “aos pés de seus irmãos”. Os frades do convento de Bolonha se reuniram para rezar as orações pelos agonizantes em torno do fundador e, ao chegar ao “Subvenite”, São Domingos repetiu essas belas palavras e exalou o último suspiro. Era o entardecer de 6 de agosto de 1221; o santo tinha cinquenta e dois anos. Sua morte foi um exemplo da pobreza sobre a qual havia falado pouco antes a seus irmãos, pois expirou “no leito do irmão Moneta, já que não tinha cama própria, vestido com o hábito do irmão Moneta, porque não tinha outro para substituir o que usara durante tantos anos”. O Beato Jordão da Saxônia havia escrito em vida do santo: “O único sofrimento que podia perturbar a serenidade de sua alma era o sofrimento alheio. O rosto de um homem revela se é feliz ou não; o rosto amável e transfigurado de alegria de Domingos revelava a paz de sua alma. Possuía tal bondade e tal desejo de ajudar o próximo, que ninguém escapava à força de seu encanto, e todos os que o viam uma vez o amavam para sempre”. Ao promulgar o decreto de canonização de seu amigo, em 1234, Gregório IX (cardeal Ugolino) afirmou que estava tão seguro de sua santidade quanto de São Pedro e São Paulo.
A primeira biografia de São Domingos foi a escrita pelo Beato Jordão da Saxônia, que lhe sucedeu no cargo de superior geral. Existem, além disso, numerosos documentos biográficos relativamente antigos. Sem entrar em detalhes, basta dizer que os principais documentos se encontram reunidos nos Acta Sanctorum, agosto, vol. I; em Scriptores O.P., de Quétif e Echard; e em Monumenta O.P. Historica, vols. XV e XVI. Talvez a obra mais importante sobre a vida de São Domingos seja a dos padres Balme e Lelaidier, Étude sur St. Dominique (1803–1901); ali se encontrarão numerosos documentos e orações. Infelizmente, essa obra termina com a vida do santo e não inclui os testemunhos do processo de canonização. Mas os testemunhos dos frades que haviam convivido com ele, tão reveladores do espírito que o animava, podem ser vistos nos Acta Sanctorum e outras obras. A obra definitiva sobre São Domingos é a de P. Mandonnet e H. M. Vicaire, Saint Dominique. L’idée, l’homme et l’oeuvre (2 vols., 1937–1938). Veja-se também A. Mortier, Histoire des Maîtres Généraux O.P., vol. V. Entre as biografias inglesas, há que mencionar as de Frances Raphael Drane (1891) e Bede Jarrett (1924); entre as alemãs, as de M. Rings (1920), B. Altaner (1922) e H. C. Scheeben (1927); entre as francesas, as de Lacordaire (1840), J. Guiraud (1899), H. Petitot (1925) e M. S. Gillet (1942). [1]

Em toda a época das perseguições romanas contra os cristãos, não houve um período mais sangrento que o dos anos 314 a 379, no qual à perseguição de Roma se somou a do rei Sapor II, na Pérsia. Esta última, em proporção à sua extensão e duração, foi a que mais vítimas causou. Entre elas contaram-se Santa Ia e suas companheiras. Segundo o relato de seu martírio, que carece de valor histórico, Ia era uma donzela grega. Como tivesse convertido muitas mulheres persas, foi denunciada, presa e torturada. O juiz mandou que lhe deslocassem os membros e que fosse espancada. A santa repetia durante a tortura: “Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, ajuda a tua serva e salva-a dos lobos que a cercam”. Depois, ficou em um calabouço até recuperar as forças. Então, o juiz ofereceu-lhe a vida, com a condição de que apostatasse. Como Ia se recusou novamente, foi espancada outra vez, com tamanha fúria que perdeu a fala e o movimento. Seis meses mais tarde, os verdugos amarraram fortemente ao redor de seu corpo finas varas, até que penetraram profundamente na carne e, depois, foram arrancando-as uma a uma. A santa esteve à beira da morte devido à hemorragia. Dez dias depois, o juiz ordenou que fosse pendurada pelas mãos e açoitada até morrer. O cadáver foi decapitado e jogado no lixo como um desperdício. O Martirológio Romano menciona a tradição de que com ela morreram nove mil cristãos.
O melhor texto da paixão de Santa Ia é o publicado por Delehaye na Patrologia Orientalis, vol. 11, pp. 453-473, fasc. 4; pode ser consultado também nos Acta Sanctorum, agosto, vol. 1. O nome sírio desta mártir significa “Violeta”, como demonstrou Peeters na Analecta Bollandiana, vol. XXV (1906), p. 340. [2]
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 3, pp. 260–266.
Ibid. pp. 266.
Notas:
* Posteriormente, a Ordem de São Domingos ficou encarregada da Inquisição. Desde o início mostrou-se relutante em desempenhar essa tarefa e, em 1243, pediu ao Papa para ser dispensada do encargo, mas Inocêncio IV recusou o pedido. Apenas dois dos inquisidores gerais da Espanha foram dominicanos. Torquemada foi um deles.


























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