Vida dos MÁRTIRES DE DURHAM e Santa Cristina (de Bolsena e de Tiro) (24 de julho)
- Sacra Traditio

- 24 de jul.
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Atualizado: 31 de ago.
SANTA CRISTINA, VIRGEM E MÁRTIR (Data desconhecida)

O Martirológio Romano resume assim a lenda desta mártir do Ocidente: Cristina pertencia à família romana dos Âncios. Desde muito jovem, converteu-se ao cristianismo e destruiu as imagens de ouro e prata dos deuses lares que havia na casa de seus pais, vendendo os fragmentos para repartir o valor entre os pobres. Cheio de cólera, seu pai espancou a filha, atou-lhe uma pedra ao pescoço e a lançou no lago de Bolsena, que ficava ao lado da casa. Mas Cristina foi milagrosamente salva de morrer afogada e seu pai a denunciou como cristã, de modo que "deveria comparecer diante dos magistrados". O juiz a condenou à morte, quando a jovem recusou renegar sua fé. Cristina saiu ilesa de um poço cheio de serpentes venenosas e, depois de permanecer cinco dias em um forno aceso, saiu sã e salva. Então o juiz ordenou que lhe cortassem a língua e a matou atravessada por flechas. O martírio ocorreu na época de Diocleciano.
Santa Cristina foi outrora muito popular no Ocidente, mas mais tarde sua lenda se confundiu com a de Santa Cristina de Tiro, tão popular quanto ela no Oriente. Para identificar ambas as santas, inventou-se a história da translação das relíquias de Cristina de Tiro para Bolsena (embora as relíquias de Santa Cristina de Roma estejam, segundo se diz, em Palermo). Segundo outra versão, citada por Alban Butler, o martírio da santa ocidental teria ocorrido “em Tiro, que era uma cidade situada antigamente numa ilha no lago de Bolsena, posteriormente coberta pelas águas”.
A lenda da Cristina do Oriente, que é uma coleção de milagres absurdos, diz que "em sua solidão, Cristina começou a se perguntar quem havia criado este belo mundo. De seu quarto, ela ficou encantada com as estrelas dos céus e constantemente voltava ao pensamento sobre o criador de todo o mundo. Ela estava convencida de que os ídolos sem voz e inanimados em seu quarto não podiam criar nada, pois eles próprios foram criados pelas mãos humanas. Ela começou a orar a um Deus de lágrimas, implorando-o para se revelar. Sua alma brilhou de amor pelo Deus desconhecido, e ela intensificou ainda mais sua oração e combinou -a com o jejum. Uma vez, Cristina foi visitada por um anjo, que a instruiu na verdadeira fé em Cristo, o Salvador do mundo. O anjo a chamou de noiva de Cristo e contou a ela sobre seu futuro sofrimento."[1] A santa foi encarcerada por ter se recusado a oferecer sacrifícios aos deuses. Quando sua mãe foi à prisão com o propósito de persuadi-la a abjurar da fé, Cristina a rejeitou e, como filha de Deus, recusou-se a reconhecê-la como mãe. O juiz a condenou a ser dilacerada com ganchos; a jovem tomou um dos ganchos e o lançou ao rosto do juiz. Os verdugos acenderam uma fogueira para queimá-la; mas o vento dispersou as chamas da pira e provocou outros incêndios nos quais pereceram muitos homens, deixando a mártir intacta. Cristina foi então lançada ao mar; Cristo desceu pessoalmente do Céu para batizá-la “em nome de Deus, meu Pai, e de seu Filho, que sou Eu, e do Espírito Santo”, e São Miguel Arcanjo a levou ilesa à costa. Naquela mesma noite, morreu o juiz que havia condenado Cristina.

O substituto condenou-a a morrer em um caldeirão de óleo e piche ferventes, no qual foi mergulhada por quatro homens; mas a santa achou muito agradável a tortura, da qual, evidentemente, saiu ilesa. Em seguida, os verdugos rasparam-lhe a cabeça e a conduziram despida pelas ruas da cidade até o templo de Apolo. Tão logo Cristina entrou, a estátua do deus caiu por terra e se despedaçou. Então morreu o segundo juiz. O terceiro a condenou a ser lançada num fosso de serpentes; mas, novamente, os répteis abstiveram-se de tocar Cristina e atacaram, em vez disso, o encantador, a quem a mártir ressuscitou. Quando o juiz ordenou que lhe cortassem os seios, jorrou das feridas leite em vez de sangue. Ainda que já tivessem cortado sua língua, Cristina podia falar sem dificuldade. Quando a arrancaram, ela a lançou ao rosto do juiz, que ficou cego de um olho. Finalmente, a santa alcançou a palma do martírio ao ser atingida no coração por uma flecha.
A identidade da lenda das duas santas está comprovada. Na realidade, nada sabemos sobre Cristina de Bolsena. O fato de sua festa ser celebrada na data de hoje deve-se, sem dúvida, a uma confusão com Cristina de Tiro, de quem herdou também a lenda absurda. É muito duvidosa a existência de uma mártir chamada Cristina relacionada de algum modo com a cidade de Tiro. Mas não carece de fundamento a tradição que sustenta que em Bolsena foi martirizada uma donzela chamada Cristina, à qual se professava grande devoção. As escavações realizadas em Bolsena comprovaram a existência de uma espécie de catacumba onde havia um santuário dedicado à santa.
No DAC, vol. 11, artigo Bolsena, há uma resenha sobre as provas arqueológicas. Pennazi, Vita e martirio... della gloriosa S. Cristina (1725), resume as diferentes versões da lenda. Cf. também Delehaye, Origines du culte des martyrs, pp. 181, 320; e Lexikon für Theologie und Kirche, vol. 11, cc. 923–924. [2]
OS MÁRTIRES DE DURHAM DE 1594

No ano de 1594, no condado de Durham, deram a vida por Cristo quatro cristãos que foram beatificados em 1929, junto com outros mártires ingleses. O primeiro deles, executado no dia 4 de fevereiro, foi o Beato JOÃO SPEED (ou Spence). Morreu na forca, na cidade de Durham, “por ter ajudado e assistido diversos sacerdotes, os quais costumava guiar e conduzir de uma casa católica a outra. Morreu com grande coragem, desprezando as promessas que lhe faziam para que apostatasse” (Challoner).
O Beato João BOSTE nasceu em Dufton, localidade de Westmorland, por volta do ano de 1544. Foi educado no Queen’s College de Oxford, do qual chegou a ser membro do corpo docente. Em 1576, converteu-se ao catolicismo. Quatro anos depois, passou a Reims e, em 1581, recebeu ali a ordenação sacerdotal e retornou à Inglaterra. Trabalhou com tanto zelo e êxito no norte do país, que tanto os perseguidores quanto os cristãos o procuravam com igual empenho. Finalmente, foi traído por um tal Francisco Ecclesfield, que, depois de ter recebido sacrilegamente os sacramentos de suas mãos para lhe inspirar confiança, o delatou a Sir William Bowes. Os esbirros prenderam o Pe. Boste na casa de Guilherme Claxton, perto de Durham, onde costumava esconder-se.
Na Torre de Londres, foi terrivelmente torturado no potro para que denunciasse seus amigos; como resultado dos tormentos, o mártir ficou paralisado. As autoridades o enviaram, em julho, à corte de Durham. Junto com ele foi julgado o Beato JORGE SWALLOWELL. Este era um antigo "pastor" protestante, cuja resolução começou a vacilar na prisão; mas a conduta “decidida, valente, alegre e amável” do Pe. Boste lhe devolveu o ânimo, de modo que confessou publicamente a fé católica diante dos juízes. O Pe. Boste lhe deu ali mesmo a absolvição. O Beato Jorge foi executado poucos dias depois, em Darlington. O Pe. Boste, que fora condenado por ser sacerdote, foi executado em Dryburn, em Durham, no dia 24 de julho de 1594. O Venerável Cristóvão Robinson, que seria martirizado mais tarde, afirma que o Pe. Boste subiu ao patíbulo recitando o Angelus; os verdugos cortaram tão rapidamente a corda da forca (“mal passado o tempo de rezar um Pai-Nosso”), que o esquartejamento começou antes que o mártir estivesse morto. Outro testemunho relata que, quando o carrasco se preparava para arrancar-lhe o coração, o mártir disse: “Jesus te perdoe. Jesus, Jesus!”
Dois dias depois, o Beato JOÃO INGRAM foi enforcado, arrastado e esquartejado em Gateshead, por ser sacerdote. Havia sido condenado em Durham ao mesmo tempo que o Pe. Boste e Jorge Swallowell. Nascido em Stoke Edith, no Herefordshire, foi educado no New College de Oxford. Após sua conversão, foi estudar no Colégio Inglês de Reims e depois em Roma, onde foi ordenado sacerdote em 1589. Três anos depois, foi enviado à missão na Escócia. No final de 1593, foi preso em Tyneside. Em Londres, foi submetido à tortura na presença de Topcliffe, mas, segundo declarou o próprio mártir, “tomo a Deus por testemunha de que, nem na tortura nem antes dela, pronunciei o nome de homem, mulher ou criança alguma, nem indiquei qualquer casa.”
Veja-se Challoner, MMP, pp. 197, 202–208 e 597–600. Há muitas referências a estes mártires nas Publicações da Catholic Record Society, vol. V. Ali encontram-se muitos dos epigramas latinos do Pe. Ingram (pp. 270–285) e duas cartas a seus companheiros de prisão. [2]
Referência:
# Martyr Christina, O"C"A.
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 3, pp. 178–180.
Ibid. pp. 183-184.


























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