Vida de São Frumêncio e São Odrano, abade (27 de outubro)
- Sacra Traditio

- 26 de out.
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Por volta do ano 330, certo filósofo de Tiro, chamado Merópio, desejoso de ver o mundo e aumentar seus conhecimentos, empreendeu uma viagem às costas da Arábia. Acompanharam-no nessa viagem dois discípulos: Frumêncio e Edésio. No regresso, o navio em que viajavam aportou em um porto da Etiópia. Os nativos do país atacaram os marinheiros e executaram todos os passageiros, exceto os dois jovens, que estudavam sob uma árvore, a certa distância. Quando os nativos os descobriram, levaram-nos à presença do rei, que residia em Áxum, na região de Tigre. O monarca ficou impressionado com os modos e o saber dos jovens cristãos e, pouco tempo depois, nomeou Frumêncio, que era o mais velho, seu secretário, e fez de Edésio copeiro do palácio. Pouco antes de morrer, o rei agradeceu aos dois jovens pelos serviços prestados e lhes concedeu a liberdade. A rainha, que exerceu a regência durante a menoridade de seu filho mais velho, pediu a Frumêncio e Edésio que permanecessem a seu serviço. — Frumêncio, que era encarregado da administração, persuadiu alguns mercadores cristãos a se estabelecerem no país; não apenas obteve da rainha permissão para que praticassem livremente sua religião, mas, com o exemplo de seu próprio fervor, tornou-se um modelo vivo para os infiéis.
Quando os dois filhos do rei assumiram o governo, Frumêncio e Edésio renunciaram aos cargos, apesar dos pedidos insistentes dos monarcas. Edésio voltou a Tiro; ali recebeu a ordenação sacerdotal e relatou suas aventuras a Rufino, que as registrou em sua “História da Igreja”. Por sua vez, Frumêncio, cujo maior desejo era converter os etíopes, foi a Alexandria pedir ao bispo Santo Atanásio que enviasse um pastor aos etíopes. Santo Atanásio, julgando que Frumêncio era o mais capacitado para realizar a obra que havia começado, consagrou-o bispo. Assim tiveram início as relações dos cristãos da Etiópia com a Igreja de Alexandria, que persistem até os nossos dias.
Provavelmente, a consagração de São Frumêncio teve lugar em 340 ou logo após 346 (ou talvez entre os anos 355 e 356). O santo voltou a Áxum, onde, com sua pregação e seus milagres, realizou numerosas conversões. Conta-se que conseguiu ganhar para o cristianismo os dois reis, Abreha e Asbeha, cujos nomes figuram no santoral etíope. Mas o imperador Constâncio, que era ariano, concebeu um ódio implacável contra São Frumêncio, porque ele estava unido a Santo Atanásio pelos laços da fé e da amizade. Vendo que não podia atraí-lo à heresia, Constâncio escreveu aos dois reis etíopes pedindo que enviassem São Frumêncio a Jorge, o bispo intruso de Alexandria, que se encarregaria de “velar por seu bem-estar”. Na mesma carta, o imperador prevenia-os contra Atanásio “por seus muitos crimes”. O único resultado que Constâncio obteve com sua carta foi que ela caísse nas mãos de Santo Atanásio, que a incluiu em sua “Apologia”. São Frumêncio morreu antes de converter todos os axumitas. Após sua morte, recebeu os títulos de “Abuna” (nosso pai) e “Aba salama” (pai da paz). O primaz da Igreja dissidente da Etiópia conserva ainda hoje o título de “Abuna”.
Em Acta Sanctorum, outubro, vol. XII, encontram-se o relato de Rufino e outros documentos; um destes últimos é uma cópia de uma longa inscrição grega descoberta em Áxum, que comemora as façanhas de Aizanas, rei dos homeritas, e de seu irmão Saizanas. Ora, Constâncio escreveu precisamente a Aizanas e Saizanas a carta de que falamos acima, a qual se conserva na Apologia de Santo Atanásio; por conseguinte, não há dúvida de que São Frumêncio realmente pregou o Evangelho em Áxum. Embora o relato de Rufino talvez esteja desfigurado por certas adições lendárias, é perfeitamente histórico que Santo Atanásio consagrou São Frumêncio bispo de Áxum. Cf. Guidi, na Enciclopedia Italiana, vol. XIV, pp. 480–481, e no DHG., vol. I, cc. 210–212; Leclercq, no DAC., vol. V, cc. 586–594; Duchesne, Histoire ancienne de l’Église, vol. III, pp. 576–578; e o relato sobre São Frumêncio no Sinaxário Etíope (ed. Budge, 1928), vol. IV, pp. 1164–1165. Segundo F. G. Holwecq, a antiga diocese de Louisiana (erigida nos Estados Unidos em 1787) celebrava a Festa de São Frumêncio; talvez se tratasse de um gesto de benevolência para com os escravos de origem africana. 1

Odrano, “nobre e sem mancha”, abade de Meath, foi um dos doze que partiram de Loch Foyle para Iona com São Columba. Adamnan afirma que era de origem bretã. Pouco depois de desembarcar, Odrano sentiu que se aproximava o momento de sua morte e disse: “Serei o primeiro cristão a morrer nesta região”. São Columba replicou: “Eu te asseguro que irás para o Reino dos Céus e te prometo que ninguém alcançará uma graça em meu sepulcro sem tê-la pedido também a ti”.
Como São Columba não queria ver seu amigo morrer, deu-lhe imediatamente a bênção e saiu da casa. Estava passeando no pátio quando, de repente, levantou os olhos para o céu. Seus companheiros lhe perguntaram o que olhava, e Columba respondeu que via a batalha travada no ar entre os bons e os maus espíritos. Acrescentou que também via os anjos levando em triunfo a alma de São Odrano ao Céu. Assim, São Odrano foi o primeiro dos monges irlandeses que morreu e foi sepultado em Iona. O local de sua sepultura, que se encontra no único cemitério da ilha, chama-se “Reilig Orain”. Diz-se que o santo fundou o mosteiro de Leitrioch Odrain (Latteragh de Tipperary). Embora isso seja tudo o que sabemos sobre ele, é celebrado como bispo em toda a Irlanda.
O Félire de Oengus, que não identifica plenamente São Odrano, é a melhor prova de que se sabe muito pouco acerca do santo. Em Acta Sanctorum, outubro, vol. XII, há uma notícia biográfica muito vaga. Veja-se também Forbes, KSS., p. 426. Nos Anais de Ulster afirma-se que São Odrano nasceu no ano 548. 2
Referência:
1. Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 4, pp. 211-212.
2. Ibid. pp. 212-213.


























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