VIDA DE SÃO BONIFÁCIO DE TARSO E SÃO PÔNCIO, MÁRTIRES (14 de maio)
- Sacra Traditio

- 14 de mai.
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Atualizado: 17 de jul.
SÃO PÔNCIO, MÁRTIR (†século III?)

Durante muito tempo se acreditou que São Pôncio fora um ilustre mártir da Igreja primitiva, morto durante a perseguição de Valeriano, por volta do ano 258, em Cimella. Esta cidade, situada na Côte d’Azur (Costa Azul) da França, perto de Nice, foi destruída pelos lombardos e mais tarde reconstruída com o nome de Cimiez.
Segundo narra a lenda, São Pôncio era filho de um senador romano. O Papa São Ponciano lhe ensinou os primeiros rudimentos da fé ainda em sua infância. Após a morte de seu pai, São Pôncio distribuiu sua herança entre os pobres e se consagrou à prática da caridade. O imperador Filipe e seu filho, convertidos pela pregação do santo, lhe tinham grande estima. Após o assassinato do imperador, São Pôncio fugiu para Cimella. Ali, foi preso por ser cristão, barbaramente torturado e lançado às feras; mas como estas não lhe causaram nenhum dano, o governador ordenou que fosse decapitado.
OBS: O nome de São Pôncio aparece no Martirológio Romano, sendo considerado, na época de Alban Butler, como “um ilustre mártir primitivo”. Contudo, a hagiografia moderna, representada aqui pelo bolandista Delehaye, demonstrou que os acta (cf. Acta Sanctorum, maio, vol. III) não têm valor histórico e datam do século VI, embora o autor tente se fazer passar por contemporâneo e testemunha ocular do martírio do santo. Além disso, não há nenhum vestígio de culto primitivo. Cf. Analecta Bollandiana, vol. XXV (1906), pp. 201–203.
SÃO BONIFÁCIO DE TARSO, MÁRTIR (†306?)

Parece que o culto de São Bonifácio de Tarso data apenas do século IX, embora seu martírio tenha ocorrido no ano 306. Por outro lado, é evidente que os acta (atos do martírio) contêm muitos detalhes imaginários, ainda que o núcleo da narrativa seja provavelmente histórico. A vida do santo pode ser resumida da seguinte forma:
No início do século IV, vivia em Roma uma mulher chamada Aglaé (que mais tarde se tornou santa). Nobre, rica e bela, ela gostava de atrair a atenção de seus concidadãos e, para isso, ofereceu duas vezes ao povo espetáculos públicos pagos com seu próprio dinheiro. O mordomo de Aglaé, chamado Bonifácio, vivia em pecado com ela. Bonifácio era licencioso e dissoluto, mas também generoso, hospitaleiro e muito bondoso com os pobres. Um dia, Aglaé pediu-lhe que fosse ao Oriente buscar algumas relíquias:— “Porque —explicou— ouvi dizer que aqueles que honram os mártires de Cristo partilharão da glória com eles, e os cristãos do Oriente se deixam torturar e matar por Cristo.” Bonifácio preparou-se para a viagem, pediu a sua senhora uma boa soma de dinheiro e lhe disse: — “Se no Oriente há relíquias, eu vo-las trarei. Mas não é impossível que, em vez disso, vos tragam o meu corpo como relíquia.” Desde então, Bonifácio mudou completamente; durante a viagem não tocou carne nem vinho, jejuou com frequência e passava longas horas em oração.
Naquela época, a Igreja vivia um período de paz no Ocidente; já no Oriente, Galério Maximiano e Maximino Daia continuavam a perseguição de Diocleciano com especial violência na Cilícia, onde governava o selvagem Simplício. Bonifácio dirigiu-se a Tarso, capital da província, e foi diretamente ao encontro do governador. Simplício estava justamente no ato de mandar torturar vinte cristãos. Bonifácio correu para se reunir com eles e gritou:
— “Grande é o Deus dos cristãos! Grande é o Deus dos mártires! Rogai por mim, servos de Jesus Cristo, para que eu seja digno de vos acompanhar na luta contra o demônio.”
O governador, furioso, mandou prendê-lo e ordenou que lhe cravassem lascas afiadas debaixo das unhas e que lhe despejassem chumbo derretido na boca. O povo, enojado pela crueldade do governador, começou a gritar:
— “Grande é o Deus dos cristãos!”
Diante da possibilidade de uma revolta popular, Simplício retirou-se alarmado. Mas no dia seguinte mandou chamar Bonifácio e o condenou a morrer num caldeirão de óleo fervente. Como o mártir saísse ileso da provação, um soldado lhe cortou a cabeça. Os servos de Bonifácio compraram seu corpo, embalsamaram-no e o levaram consigo para a Itália. Aglaé saiu ao seu encontro na Via Latina, a um quilômetro de Roma, à frente de um grupo de amigos com tochas acesas. Ali mesmo ela ergueu um santuário para as relíquias de seu mordomo. Quinze anos depois, após ter vivido em penitência por seus pecados, Aglaé morreu e foi sepultada junto a ele.

Em 1603, foram descobertas as supostas relíquias do santo, juntamente com as de São Aleixo, na igreja que anteriormente se chamava São Bonifácio e que atualmente leva o nome de São Aleixo.
Aqui não fizemos senão resumir o artigo de Alban Butler, que não duvidava da autenticidade dos acta. Mas Delehaye e outras autoridades no assunto afirmam que se trata de um romance piedoso. Os acta podem ser consultados nos Acta Sanctorum, maio, vol. III. Ver também Duchesne, Mélanges d’Archéologie, 1890, pp. 2-10; Nuovo Bullettino di Archeologia Cristiana, vol. VI, 1900, pp. 205-234. A lenda de São Bonifácio foi muito popular na Idade Média e originou uma série de manifestações folclóricas; cf. Bächtold-Stäubli, Handwörterbuch des deutschen Aberglaubens, vol. I, pp. 1475 ss.
Referência:
Alban Butler, Vida de Santos, volume 2, pp. 293-294. (1965).


























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