VIDA DE SÃO PASCOAL BAILÃO E SÃO BRUNO, BISPO DE WÜRZBURG (17 de maio)
- Sacra Traditio

- 17 de mai.
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Atualizado: 28 de mai.
SÃO PASCOAL BAILÃO (1592 d.C.)
SÃO BRUNO, BISPO DE WÜRZBURG (†1045 d.C.)
SÃO PASCOAL BAILÃO (1592 d.C.)

O Martirológio Romano nos diz que São Pascoal Bailão foi um homem de maravilhosa inocência e vida austera, proclamado pela Santa Sé como padroeiro dos congressos eucarísticos e das confrarias do Santíssimo Sacramento. Não podemos deixar de nos admirar ao ver que esse humilde fradezinho, que nunca foi sacerdote, cujos pais eram camponeses e cujo nome mal era conhecido no obscuro povoado espanhol onde nasceu, hoje preside, desde o céu, as imponentes assembleias dos congressos eucarísticos.
Graças ao Pe. Jiménez, seu irmão na religião, superior e biógrafo, possuímos bastantes informações sobre os primeiros anos de sua vida. Pascoal nasceu em Torre Hermosa, na fronteira entre Castela e Aragão, no dia de Pentecostes. Como na Espanha essa festa é chamada de "Páscoa de Pentecostes", o menino foi batizado com o nome de Pascoal. Seus pais, Martín Bailón e Isabel Jubera, eram um casal piedoso e muito modesto de camponeses; praticamente não possuíam mais do que um rebanho de ovelhas. Pascoal começou a trabalhar como pastor aos sete anos, cuidando primeiro do rebanho de seu pai e depois de outros. Trabalhou nisso até os vinte e quatro anos.
Provavelmente, a maior parte dos episódios contados dessa fase de sua vida são lendários; mas há um ou dois que são autênticos. Por exemplo, Pascoal, que nunca frequentou escola, aprendeu sozinho a ler e escrever, pois desejava poder rezar o Ofício Parvo da Virgem, que então era o livro de orações dos leigos. Apesar de os caminhos serem pedregosos e cheios de cardos, Pascoal não usava sandálias; vivia em grande pobreza, jejuava frequentemente e usava sob o manto de pastor uma espécie de hábito religioso. Quando não podia assistir à missa, ajoelhava-se para orar por longas horas, com os olhos fixos no distante santuário de Nossa Senhora da Serra, onde se celebrava o santo sacrifício. Cinquenta anos depois, um velho pastor que o conhecera na época testemunhou que, mais de uma vez, os anjos levaram o Santíssimo Sacramento ao pequeno pastor, com a hóstia suspensa sobre o cálice, para que ele pudesse vê-la e adorá-la. Conta-se também que São Francisco e Santa Clara apareceram a Pascoal e lhe disseram que deveria entrar na Ordem dos Frades Menores. Mais convincente do que isso é o testemunho de seu escrupuloso senso de justiça: o dano que suas ovelhas às vezes causavam nas vinhas e plantações o preocupava tanto, que insistia em compensar os donos, muitas vezes do próprio bolso, embora ganhasse muito pouco. Seus companheiros o respeitavam por isso, mas achavam exagerados seus escrúpulos.
Aos dezoito ou dezenove anos, Pascoal pediu pela primeira vez ingresso na Ordem dos Frades Menores Descalços. Naquela época, ainda vivia São Pedro de Alcântara, o austero reformador que havia enchido os conventos de monges fervorosos. Provavelmente os frades do convento de Loreto, sem conhecer aquele jovem de um povoado a 300 km de distância, duvidaram de sua firmeza e adiaram sua admissão. Anos mais tarde, admitiram-no, e logo perceberam que Deus lhes havia confiado um tesouro. Embora toda a comunidade vivesse ainda o fervor dos primeiros anos da reforma, o irmão Pascoal logo se destacou em todas as virtudes religiosas. É provável que seus biógrafos o elogiem em demasia, mas a descrição que o Pe. Jiménez nos deixou de seu amigo tem toda a simplicidade da verdade. A caridade de Pascoal maravilhava até aqueles homens tão mortificados, que com ele partilhavam as austeridades da vida e da regra comum. O santo era inflexível em questões de consciência. Conta-se que um dia, enquanto era porteiro, duas damas vieram buscar confissão com o superior. “Diga-lhes que não estou”, ordenou este. “Direi que Vossa Reverência está ocupado”, respondeu Pascoal. “Não — insistiu o guardião — diga-lhes que não estou.” Então o fradinho respondeu humildemente: “Meu pai, não posso dizer que Vossa Reverência não está, pois isso seria mentira, e pecado venial.” E voltou tranquilamente à portaria. Esses lampejos de independência, que de tempos em tempos iluminam a monotonia dos catálogos de virtudes, nos permitem vislumbrar, por momentos, a realidade daquela alma tão fervorosa e transparente.
É com gosto que se lê as ingênuas estratégias que o santo usava para conseguir algo melhor, de vez em quando, para os pobres e doentes; e se comove ao saber que as lágrimas lhe vinham aos olhos — àquele homem austero e pouco comunicativo — ao ver de perto a miséria alheia. Embora São Pascoal nunca sorrisse, nem por isso deixava de ser alegre. Sua piedade e seu espírito de penitência nada tinham de tristes. O Pe. Jiménez narra que, certa vez, estando o santo sozinho no refeitório, pondo a mesa, um dos frades o viu dançar graciosamente diante da imagem da Virgem, como um novo “trovador de Nossa Senhora”. O frade curioso retirou-se em silêncio e, alguns minutos depois, entrou com a saudação habitual: “Louvado seja Jesus Cristo!”, e encontrou Pascoal tão radiante de alegria, que aquela lembrança lhe alimentou a devoção por várias semanas. O mesmo Pe. Jiménez, que era então provincial dos alcantarinos no tempo mais fervoroso da reforma de São Pedro, nos deixou este testemunho autorizado:
“Não me lembro de ter visto jamais uma única falta no irmão Pascoal, embora tenha convivido com ele em vários de nossos conventos e tenhamos sido companheiros de viagem duas vezes. Ora, o cansaço e a monotonia das viagens costumam ser ocasião fácil para descuidar um pouco da virtude...”

Mas a característica mais conhecida de São Pascoal, ao menos fora da Espanha, é sua devoção ao Santíssimo Sacramento. Muitos anos antes que começassem a ser organizados os congressos eucarísticos e que o santo fosse nomeado patrono deles, o Pe. Salmerón escreveu uma biografia intitulada: Vida do Santo do Sacramento, São Pascoal Bailão. Para seus irmãos de religião, Pascoal era “o Santo do Santíssimo Sacramento”, pois costumava passar longas horas ajoelhado diante do tabernáculo, com os braços em cruz. Já o Pe. Jiménez, o primeiro dos biógrafos de São Pascoal, dizia que o santo irmãozinho, assim que tinha um momento livre, se dirigia apressadamente à capela, e que sua maior alegria era assistir a uma missa após a outra, desde muito cedo. Ao terminar os matinas e laudes, quando o restante da comunidade se retirava para dormir, São Pascoal ficava frequentemente ajoelhado no coro; ali o surpreendia a aurora, pronto para servir nas missas que iriam ser celebradas.
Não podemos citar aqui as longas e singelas orações que o santo rezava após a comunhão, tal como as deixou escritas o Pe. Jiménez. Esse autor supõe que o próprio São Pascoal as havia composto, mas isso não está muito claro. São Pascoal possuía um “caderno”, que ele mesmo havia confeccionado com pedaços de papel encontrados no lixo; nele escrevera, com sua bela caligrafia, algumas orações e reflexões que compôs ou que encontrara em suas leituras. Ainda se conserva um desses cadernos; provavelmente São Pascoal tinha dois. Pouco depois de sua morte, algumas das orações desses cadernos chegaram aos ouvidos do Beato João de Ribera, então arcebispo de Valência. O beato ficou tão impressionado que imediatamente pediu uma relíquia daquele irmãozinho leigo que havia alcançado tão profundo conhecimento das coisas divinas. O Pe. Jiménez lhe levou a relíquia e o arcebispo disse: “Ah, Padre Provincial, as almas simples estão nos roubando o Céu. Só nos resta queimar todos os nossos livros.” Ao que o Pe. Jiménez replicou: “Senhor, os culpados não são os livros, mas o nosso orgulho; isso é o que deveríamos queimar.”
Ao que parece, São Pascoal, o santo da Eucaristia, sofreu uma vez, em sua própria carne, os ferozes ataques com que os protestantes manifestavam seu ódio aos sacramentos e aos católicos. Fora enviado à França para levar uma mensagem muito importante ao Pe. Cristóvão de Cheffontaines, eminente erudito bretão que exercia então o cargo de superior geral dos observantes. Naquela época, em que as guerras de religião estavam em seu auge, atravessar a França vestido com o hábito era uma loucura; é muito difícil compreender por que os superiores escolheram aquele simples irmão leigo, que não sabia uma só palavra de francês. Talvez pensassem que sua simplicidade e confiança em Deus seriam mais eficazes do que outros métodos diplomáticos. São Pascoal cumpriu com êxito sua missão, mas sofreu muitos maus-tratos e, em várias ocasiões, salvou a vida quase por milagre. Numa localidade, foi apedrejado pelos huguenotes e recebeu uma ferida no ombro que o fez sofrer por toda a vida. Segundo relatam quase todos os seus biógrafos, começando pelo Pe. Jiménez, em Orleães foi submetido a um interrogatório sobre o Santíssimo Sacramento. O santo confessou valentemente a fé e venceu seus adversários numa disputa pública, graças à ajuda sobrenatural de Deus. Então os huguenotes voltaram a apedrejá-lo, mas nenhuma das pedras o atingiu. Confessamos que não nos inclinamos muito a crer que São Pascoal tenha realmente participado de uma disputa pública formal.
São Pascoal morreu no convento de Villarreal, num domingo de Pentecostes, aos cinquenta e dois anos de idade. Expirou com o nome de Jesus nos lábios, precisamente quando os sinos anunciavam o momento da consagração na missa solene. Imediatamente o povo começou a venerá-lo como santo, pelos numerosos milagres que havia realizado em vida e que continuou a realizar após sua morte. Provavelmente as autoridades eclesiásticas decidiram introduzir rapidamente sua causa por causa do número de milagres. Pascoal foi beatificado em 1618, antes mesmo que São Pedro de Alcântara, que havia morrido trinta anos antes dele e reformado a ordem à qual Pascoal pertencia. Talvez um dos fatores que contribuíram para a rapidez da beatificação do santo irmãozinho tenha sido o fato de que, em seu túmulo, ouviam-se, durante dois séculos, uns “toquinhos” que o povo interpretou logo como sinais prodigiosos. Os biógrafos do santo dedicam longas páginas aos “toquinhos” e suas interpretações. São Pascoal foi canonizado em 1690.
[NOTA: Segundo registros históricos, os “toquinhos” eram considerados sinais de:
Advertência espiritual: Repreensão a irreverências em locais sagrados ou alertas sobre eventos importantes, como a rebelião de Portugal em 1640.
Consolo e orientação: Inspiração para a oração, conversão de pecadores e fortalecimento da fé dos devotos.
Avisos sobre a morte: Tradições populares afirmam que São Pascoal avisava seus devotos com três batidas antes de sua morte, permitindo-lhes preparar-se espiritualmente.]
Quase todos os dados que possuímos sobre São Pascoal provêm da biografia escrita pelo Pe. Jiménez e do processo de beatificação. No Acta Sanctorum, mês de maio, vol. IV, há uma tradução latina, algo abreviada, da biografia do Pe. Jiménez. Existem numerosas biografias em espanhol, italiano e francês, como as de Salmerón, Olmi, Briganti, Beufays, Du Lys e L. A. de Porrentruy. Esta última foi traduzida para o inglês por O. Stainforth, sob o título The Saint of the Eucharist (1908). Veja-se também o esboço biográfico escrito em francês por O. Englebert (1944), e a obra de Léon, Auréole Séraphique (trad. ingl.), vol. 11, pp. 177–197. Provavelmente, a melhor das biografias modernas é a que escreveu em alemão o Pe. Grotcken (1909).
SÃO BRUNO, BISPO DE WÜRZBURG (†1045 d.C.)

São Bruno de Würzburg era filho de Conrado, duque da Caríntia, e da baronesa Matilde, sobrinha de São Bruno Bonifácio de Querfurt, o segundo apóstolo da Prússia. Nosso santo recebeu o nome de Bruno em honra a seu tio-avô. O jovem, que havia abraçado a carreira eclesiástica, foi eleito bispo de Würzburg em 1033 e governou sabiamente sua diocese durante onze anos. Gastou todo o seu patrimônio na construção da magnífica catedral de São Quiliano (São Kilián) e na restauração de outras igrejas. Dois imperadores, que admiravam a grande erudição do santo, o escolheram como conselheiro. Entre os livros que escreveu São Bruno, contam-se comentários sobre a Sagrada Escritura, o Pai-Nosso, o Credo dos Apóstolos e o Credo de Santo Atanásio.
O santo bispo acompanhou seu parente Conrado II à Itália; conta-se que, após uma aparição do grande Santo Ambrósio de Milão, ele convenceu o imperador a levantar o cerco à cidade de Milão. O imperador Henrique III levou São Bruno consigo em sua campanha contra os húngaros, em 1045. Na Panônia, a comitiva imperial passou a noite no castelo de Bosenburg ou Porsenburg, às margens do Danúbio, em frente à atual cidade de Ybbs, na Alta Áustria. Durante o jantar, o teto da sala, que era muito antigo, desabou. O imperador salvou-se refugiando-se sob o batente de uma janela; mas quase todos os seus acompanhantes ficaram feridos ou morreram esmagados. São Bruno faleceu uma semana depois, em consequência dos ferimentos. Seu corpo foi trasladado para Würzburg e sepultado na basílica que ele mesmo havia construído.
Não existe uma biografia propriamente dita do santo, mas há um artigo sobre ele nos Acta Sanctorum, volume de maio, tomo IV. Ver também: H. Bresslau, Jahrbücher der deutschen Geschichte unter Konrad III (1884); e J. Baier, Der hl. Bruno von Würzburg (1893).
Referência:
Alban Butler, Vida dos Santos, volume 2,
pp. 321-324. Versão espanhola (1965).


























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