Vida de São Jacinto de Cracóvia e Santos Liberato e companheiros, Mártires (17 de agosto)
- Sacra Traditio

- 17 de ago.
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São Jacinto nasceu em Oppeln, na Silésia (entre Breslau e Cracóvia) em 1185. É venerado como apóstolo da Polônia e foi sem dúvida um grande missionário, embora infelizmente a maior parte dos êxitos evangélicos que lhe são atribuídos procedam de biografias que têm muito pouco valor histórico. Ingressou na ordem de São Domingos, talvez em Roma, em 1217 ou 1218. Depois foi com outros frades de sua ordem para Cracóvia, onde o bispo Ivo Odrowaz colocou à sua disposição a igreja da Santíssima Trindade. Jacinto esteve novamente nesse convento em 1228 e, dez anos mais tarde, pregou uma cruzada contra os pagãos da Prússia. Sem dúvida o campo de seu apostolado foi muito grande; mas seus biógrafos fazem o santo viajar pelo nordeste até a Lituânia, pelo leste até Kiev, pelo sudeste até o Mar Negro, pelo sul até o Danúbio e pelo noroeste até a Escandinávia. Se isso for verdade, São Jacinto confiou a outro dominicano, o Beato Ceslau, a evangelização da Silésia, Pomerânia e Boêmia. Segundo alguns autores, o Beato Ceslau era irmão carnal de São Jacinto. Os milagres que se atribuíram ao santo não eram menos extraordinários que suas viagens. Provavelmente alguns desses milagres não passam de transposições dos que se atribuem a outros santos dominicanos da Polônia. Na época de São Jacinto, os filhos de São Domingos penetraram pelo Vístula até Danzig e chegaram até a Rússia e os Bálcãs, onde fundaram igualmente vários conventos. Mas em 1238, os mongóis atravessaram o Volga e causaram enormes destruições nas missões dos dominicanos; sem dúvida São Jacinto tomou parte no trabalho de reconstrução.
O santo morreu no dia da Assunção de 1257, depois de ter exortado seus irmãos a amarem a pobreza, como homens que haviam renunciado a todos os bens da terra: “porque (a pobreza) é o documento e o selo que nos dá direito à vida eterna”. A canonização de São Jacinto teve lugar em 1594. [1]
“Este santo pode ser identificado pelo hábito dominicano e por seus atributos: uma custódia (ou ostensório) e uma imagem da Virgem com o Menino. Esses atributos remetem a uma lenda segundo a qual o santo celebrava Missa na capela de um mosteiro de Kiev que possuía uma estátua muito grande da Virgem Maria com o Menino [Jesus], pesando quatro talentos (cerca de 300 libras ou aproximadamente 136kg). De repente, seus irmãos frades entraram apressados com a notícia de que os tártaros invasores estavam arrombando as portas. Tomando a hóstia consagrada consigo, Jacinto começou a fugir da capela. Mas a Virgem Maria lhe chamou da estátua: “Ó Jacinto, meu filho, fugirás das mãos dos tártaros e deixar-me-ás com meu Filho para que nos esmaguem e profanem?” Ele protestou que a estátua era pesada demais para carregar, mas Maria assegurou-lhe que seu Filho diminuiria o peso. Assim, com a estátua em um braço e a hóstia no outro, escapou a tempo de salvar ambos — atravessando milagrosamente a seco o rio Dnieper (Acta Sanctorum, agosto, vol. 3, p. 317.). [2]

Como a hóstia é pequena e pouco visível em representações, a maioria das imagens a coloca em uma custódia, como na primeira imagem à direita. Algumas vezes, em vez da custódia, o artista retrata um cibório, o recipiente em forma de cálice coberto onde o sacerdote guarda as hóstias não consumidas durante a Missa. Na lenda, porém, não se menciona custódia nem cibório.
Outra tradição afirma que a Virgem Maria apareceu a São Jacinto enquanto rezava e lhe disse: “Jacinto, meu filho, alegra-te, pois tuas orações foram aceitas e atendidas diante de meu Filho, o Salvador de toda a humanidade. Tudo o que pedires em meu nome, eu o alcançarei d’Ele” (ibid., pp. 315, 340). Essa visão é também tema de algumas imagens, e está na origem dos numerosos milagres que se atribuíram ao santo pela mediação da Virgem.
São Jacinto esteve entre os primeiros membros da Ordem Dominicana em 1217 ou 1218. Ele e alguns companheiros fundaram o primeiro convento dominicano na Polônia pouco depois e iniciaram uma exitosa campanha de evangelização, como vimos acima (Butler, III, p. 339). É especialmente venerado na Polônia e, a julgar pela difusão de suas imagens, seu culto também foi promovido em paróquias dominicanas na Espanha e em suas colônias.” [3]
A biografia mais conhecida de São Jacinto é mais uma espécie de saga do que uma obra propriamente histórica, como fazem notar Knópfler (Kirchenlexikon) e os bolandistas modernos (Analecta Bollandiana, vol. XLIV, 1927, pp. 202-203). Até muito recentemente, a única fonte de informação era o relato da vida e milagres de São Jacinto, escrito pelo Pe. Estanislau de Cracóvia um século depois da morte de Jacinto. Pode-se ver em Monumenta Poloniae Historica, vol. IV, pp. 841-894. Os biógrafos posteriores não fizeram mais do que confundir esse relato, acrescentando-lhe dados ainda mais extravagantes. Por isso, é preciso ler com precaução até mesmo as biografias modernas, como a escrita pela condessa de Flavigny: S. Hyacinthe et ses compagnons (1899). Até hoje, a obra que mais luz lançou sobre a intrincada história de São Jacinto é Die Dominikanermissionen des 13 Jahrhunderts (1924, pp. 196-214), de B. Altaner. Mortier, Histoire des maîtres généraux O.P. (vol. I, pp. 215-218 e 377-388), e Procter, Lives of Dominican Saints, pp. 229-232, seguem a corrente tradicional. Em Taurisano, p. 16, encontra-se uma bibliografia mais completa.

Hunerico, o rei vândalo da África, publicou no sétimo ano de seu reinado um édito contra os católicos e mandou demolir todos os mosteiros. Sete monges que viviam perto de Capsa, na província de Bizacena, foram convocados a Cartago. Seus nomes eram: Librado ou Liberato, abade do mosteiro; Bonifácio, diácono; Servo e Rústico, subdiáconos; Rogato, Sétimo e Máximo, monges. Como lhes fizessem magníficas promessas se abraçassem o arianismo, os monges responderam em uníssono: “Confessamos que há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Quanto a nossos corpos, faz deles o que te parecer e guarda contigo as riquezas perecíveis que nos ofereces”. Então o juiz mandou que fossem acorrentados e encerrados em uma masmorra. Quando o rei soube disso, redobrou tiranicamente a pena imposta pelo juiz e pouco depois mandou queimá-los vivos. Os perseguidores fizeram o impossível para tentar a Máximo, que era muito jovem (na realidade, era um dos alunos dos monges), mas Deus, que faz brotar louvores da boca das crianças, lhe deu a fortaleza necessária para vencer a tentação. Com efeito, o jovem declarou que jamais conseguiriam separá-lo do abade e de seus irmãos. O juiz mandou encher de lenha um velho navio e obrigou os mártires a embarcar nele; mas todas as tentativas dos perseguidores para incendiar a embarcação fracassaram. Então, o próprio Hunerico deu a ordem de desembarcar os confessores de Cristo e de lhes romper o crânio a golpes de maça.
Todos os dados que possuímos acerca desses mártires provêm de uma paixão que se atribuía antigamente a Vítor de Vita. Em Acta Sanctorum, agosto, vol. III, pode-se ver o documento com alguns comentários. [4]
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, "SÃO JACINTO", vol. 3, pp. 342–343.
Acta Sanctorum, agosto, vol. 3, p. 317. Disponível em: archive.org/details/actasanctorum37unse
STRACKE, Richard. “Saint Hyacinth: The Iconography”. Christian Iconography. 2017. Disponível em: https://www.christianiconography.info/hyacinth.html.
Butler, Alban. Vida dos Santos, "SANTOS LIBRADO OU LIBERATO E COMPANHEIROS, MÁRTIRES", vol. 3, pp. 344–345.


























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