Nossa Senhora Auxiliadora: Refúgio Seguro da Cristandade (festa 24 de maio)
- Sacra Traditio
- 24 de mai.
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Atualizado: 28 de mai.
MARIA SANTÍSSIMA, NOSSA SENHORA AUXILIADORA — (1814 d.C.)

Na data de hoje, a Igreja comemora, mais uma vez, a Santíssima Virgem sob a invocação de Maria, Auxílio dos Cristãos. A devoção a essa festividade, instituída no início do século passado pelo Papa Pio VII, foi crescendo constantemente e atingiu seu maior desenvolvimento — que perdura até nossos dias — quando Dom Bosco reuniu uma numerosa e entusiástica juventude feminina em colégios, liceus e na congregação religiosa de Maria Auxiliadora.
A história do estabelecimento da festa de Maria Auxiliadora não poderia ser mais comovente e edificante. A Revolução Francesa tinha dado um duro golpe na Igreja e desorganizado completamente a religião cristã. Em 1799, o jovem e valente general Napoleão Bonaparte derrubou o Diretório, assumiu o governo, pôs fim à Revolução e dedicou todos os seus esforços a apaziguar os ânimos e reorganizar a sociedade. Como Napoleão estava profundamente convencido da influência benéfica da religião cristã sobre os povos, desde o início de seu governo decidiu restabelecer o catolicismo na França. Revogou as leis revolucionárias de proscrição, permitiu que os sacerdotes voltassem às suas igrejas, devolveu aos bispos suas catedrais, paróquias e seminários, e firmou com o Papa Pio VII um concordato para regular permanentemente os assuntos eclesiásticos. Com essas medidas, a França voltou a ser, em pouco tempo, um país florescente, próspero e cada vez mais poderoso. Ao mesmo tempo, porém, Napoleão, embriagado por seus triunfos e arrastado por sua ambição desmedida, exigiu do Papa certas coisas que o chefe da Igreja não podia conceder — como, por exemplo, anular o legítimo matrimônio de um irmão do imperador ou fechar os portos dos Estados Pontifícios aos ingleses, suecos e russos. Às pretensões desses emissários, Pio VII respondeu com firmeza: “Somos o pai da cristandade e a ninguém trataremos como inimigo.”
Essa resposta foi suficiente para acender a ira de Napoleão, que enfureceu-se com a resistência do Pontífice e lançou-se contra o chefe da Igreja. Em 1809, Napoleão ocupou os Estados Pontifícios e, depois, teve a ousadia de apreender Pio VII. O Papa foi levado a Savona e, mais tarde, ao castelo de Fontainebleau, onde ficou como prisioneiro. Diz-se que, durante os cinco anos de cativeiro, o Papa dedicava diariamente uma parte especial de suas orações a Maria Santíssima, Auxílio dos Cristãos, para que protegesse a Igreja perseguida, desgovernada e desamparada.
Durante esse tempo, a sorte virou contra Napoleão, e após uma série de reveses militares, deu-se a queda do Império, no início de 1814. Foi justamente no castelo de Fontainebleau — onde o Papa estava preso — que Napoleão assinou sua abdicação. Ao Pontífice foram devolvidos os Estados Pontifícios e firmou-se um acordo que proclamava que “o poder espiritual recuperaria todos os seus direitos e a posição de que havia sido lançado pela conquista francesa”. No dia 24 de maio de 1814, Pio VII fez sua entrada triunfal em Roma, sob o dobrar dos sinos, aclamações entusiásticas da multidão e uma chuva de flores, para reassumir sua Sé.

Os anos de infortúnio e de prisão fortaleceram, em vez de esgotar, aquele homem já idoso, que deu mostras de uma energia, firmeza e decisão extraordinárias para reorganizar a Igreja e revitalizar a vida religiosa, tão abalada nos tempos revolucionários. Era necessário muito tempo, grande prudência e dedicação paciente para reintroduzir o catolicismo nos corações e na ordem social. No entanto, o velho Pio VII realizou essa obra colossal em tempo relativamente curto. Uma vez restabelecido na Cátedra de São Pedro, restaurou a Companhia de Jesus, reabriu seus colégios na Cidade Eterna; por meio de concordatas e acordos com reis e príncipes, restabeleceu dioceses suprimidas, reorganizou a Propaganda Fide, impulsionou a Propagação da Fé e, como por milagre, por volta de 1815, após a segunda e definitiva abdicação de Napoleão, quando o Papa deu asilo à família do imperador derrotado e exilado, a Igreja havia recuperado sua posição e seu poder espiritual. O Papa considerou isso um verdadeiro milagre da Santíssima Virgem, a quem tanto havia implorado em favor da Igreja. Foi então que Pio VII teve a feliz ideia de manifestar a gratidão de todo o mundo católico à Virgem Maria, sob a invocação de Auxílio dos Cristãos e, como um reconhecimento explícito da infalível proteção da Mãe de Deus — tantas vezes atestada por prodígios extraordinários — sobre a Igreja e seus filhos, em defesa da fé contra mouros, turcos, hereges, revolucionários e todos os inimigos declarados da cristandade, instituiu a festa de Maria Auxiliadora no dia 24 de maio, para perpetuar a memória de sua volta triunfal a Roma, após o cativeiro na França. Desde então, a festa de Maria Auxiliadora tornou-se um centro da devoção cristã, até nossos dias. [1]
Os dados para este artigo foram extraídos da História Universal de César Cantú, vol. VI, pp. 531–538, e da História da Igreja, dos Irmãos da Escola Cristã, pp. 321–323.
ORAÇÃO A NOSSA SENHORA AUXILIADORA
- COMPOSTA POR SÃO JOÃO BOSCO
Ó Maria, Virgem poderosa,
Tu, grande e ilustre defensora da Igreja,
Tu, Auxílio maravilhoso dos cristãos,
Tu, terrível como exército ordenado em batalha,
Tu, que, só, destruíste toda heresia em todo o
mundo: nas nossas angústias, nas nossas lutas, nas
nossas aflições, defende-nos do inimigo; e na hora
da morte, acolhe a nossa alma no paraíso.
Amém. [2]
Referência:
Butler, Alban. Vida dos Santos, vol. 2, pp. 362–363. Edição espanhola.
Galhardo, Pe. Antônio Carlos. A Devoção à Nossa Senhora Auxiliadora, p. 14.
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